Agencia 1º de Março (1865-1882)

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Um pouco de História

No início da década de 1860, os serviços dos Correios eram criticados por estarem defasados tecnicamente. O filatelista Mario Henrique Nacinovic, em matéria de 1992, refere-se ao artigo do Dr. Mario de Sanctis publicado em 1926 no Boletim nº3 da SPP onde ele menciona a viagem de pesquisa de Luiz Plinio de Oliveira a Europa, que resultou em relatório encaminhado ao Ministro [2].

Plinio de Oliveira teria sido apontado para a tarefa em 1861 [3] e posteriormente nomeado Diretor Geral dos Correios em 18 de dezembro de 1865 [4]. É possível assim inferir sua participação na elaboração do notável decreto 3.443 publicado em 12 de abril de 1865 aprovando novo regulamento para o “Serviço dos Correios do Império”. Esse decreto traz importantes alterações na estrutura dos Correios, que tento resumir nos tópicos abaixo:

  • É extinto o cargo de Administrador Geral dos Correios da Corte, que passa a ser acumulado pelo Diretor Geral dos Correios. Talvez por essa razão, as legendas dos carimbo abandonam a legenda Correio Geral da Corte e passam a rezar “Rio de Janeiro”;
  • É apresentada uma nova estrutura organizacional em quatro Secções que, como veremos, tardará um tanto para aparecer nos carimbos;
  • Deu ênfase à implantação do correio urbano com consequente criação de dezenas de novas agencias a partir de 1868.
  • Nota-se que a estratégia que gerou o decreto de 1865 já previa novidades nos selos e carimbos. As emissões postais abandonariam os numerais e passariam a trazer a efígie do imperador e impressas no American Bank Note. A primeira série “Dom Pedro” foi lançada em 1º de julho de 1866;
  • Quanto aos carimbos, podemos assumir que os carimbos “franceses” foram projetados para marcar a reestruturação, com sua utilização, pela primeira vez, abrangeria todo o território nacional. Sobre estes falarei em detalhe a seguir quando da descrição do Tipo 25;
  • Introduziu o uso de carimbos mudos para obliterar o selo em adição aos datadores. Seu uso seria regulamentado pelas “Instruções” publicadas em 1º de novembro de 1865 [5].

**

Notas e informações

[2] Colegas filatelistas dedicaram-se ao estudo dos carimbos “franceses” e seus artigos foram minha referência. Refiro-me especialmente ao extenso trabalho de Mario Henrique Nacinovic publicado no Brasil Filatélico do CFB em 1992, posteriormente referendado por Klerman Lopes em trabalho complementar. Nacinovic refere-se ao artigo publicado em 1926 no Boletim nº3 da SPP pelo Dr. Mario de Sanctis onde este cita as viagens de pesquisa de Luiz Plinio de Oliveira aos correios da Europa, que resultaram em relatório encaminhado ao Ministro em 15 de maio de 1865.

[3] Matéria publicada no Correio Mercantil do RJ em 25 de março de 1863.

[4] Nota no O Cearense do CE em 13 de janeiro de 1866

[5] A respeito dos carimbos mudos, Nacinovic cita o artigo de Roberto Thut no nº16 da revista “Brasil Filatélico”. Thut registra que “o início do uso dos carimbos mudos e franceses teria sido conjuntamente à emissão da série D. Pedro em julho de 1865”. Ele cita também o documento “Instruções” de 01/11/1865 que estabelece que os carimbos falados seriam não obliteradores e os selos obrigatoriamente inutilizados com carimbos mudos.


A agencia Primeiro de Março

Imagem do Almanak Laemmert de 1871

A Administração Geral dos Correios do Rio de Janeiro foi criada pelo Ato de 24 de abril de 1798 e instalada “nos baixos do Paço Real”. Em 1842,a sede da Diretoria Regional dos Correios foi transferida em 1842 para terreno próprio na então Rua Direita, 52 onde funcionavam também as áreas operacionais.

Por volta de 1866 foi criada de facto uma agência postal nesse endereço, conhecida como Rua Direita, sede da DR. Seu nome mudou para Agência Rua Primeiro de Março em 1870, acompanhando a alteração do nome da rua em homenagem ao fim da guerra do Paraguai. Essa seria a agencia central à qual responderiam as demais agencias urbanas a serem criadas no final dos anos 1860.

 

Cronologia e tipos

*

Os quatro primeiros tipos com a nova legenda Rio de Janeiro ainda carregam o layout anterior da CGC o que só mudaria com a introdução do carimbo francês em 1867.

Tipo CRJ 21 (1866)

  • Características
    • Legenda Rio de Janeiro
    • Datador em cruz
    • Letras no centro do datador
    • Florão na legenda inferior
    • Sobre emissão D. Pedro

Classifiquei em subtipos pelas diferentes legendas do datador

Tipo CRJ 21A (1866)

O 21A traz IM (importação, turno da manhã) no centro da datador. Apresento fac-símile da carta postada em Pernambuco endereçada ao Rio de Janeiro, onde foi aplicado o carimbo de recepção datado 26 de agosto de 1866 (acervo K.L.).

Tipo CRJ 21B (1866)

Este traz IT (importação, turno da tarde) num fragmento do acervo P.R.L.C.


Tipo CRJ 22 (1867-1868)

Segue o layout básico do anterior,  mas com uma diferença notável no  centro do datador que abandona as letras herdadas da estrutura do CGC.

  • Características
    • Legenda Rio de Janeiro
    • Datador em cruz
    • Sem as letras no centro do datador
    • Florão na legenda inferior

Como peças filatélicas, apresento a seguir fac-símile de linda carta do acervo K.L. cujo carimbo de origem é de Vitória, ES (sem data) com destino ao Rio de Janeiro. O carimbo de recepção é o CRJ 22 de 10.01.1867. Na peça há também um carimbo francês datado de 11.01, ou seja, um carimbo de saída para o destinatário  (ver CRJ 25).

 

Esta peça foi postada em Marselha, França em 2 de junho de 1868 com destino ao Rio de Janeiro,  com carimbo de recepção em azul datado de  01.07.1868 (coleção P.R.L.C.)

 

 


Tipo CRJ 23

Um tipo cuja enigmática legenda inferior não tem paralelo entre os layouts do império. São dois tipos com variação dimensional da legenda superior conforme mostram os desenhos esquemáticos.

  • Características
    • Legenda Rio de Janeiro
    • Datador em cruz
    • Sem as letras no centro do datador
    • ( II ) na legenda inferior

Peças filatélicas

Tipo CRJ 23A (1866) com 19 mm

Correspondência postada no Rio em 24 de agosto de 1866 com destino a New York onde chegou em 30.10 depois do transito em Bordeaux.

O carimbo 23A foi usado no setor de expedição (coleção P.R.L.C.)

 

Tipo CRJ 23B (1866) com 22 mm

Correspondência postada no Rio em 24 de julho de 1866 com destino a Bordeaux. Chegou ao porto em 16.08 e ao destino em 18, como se vê no carimbo do verso.

O carimbo 23A foi usado no setor de expedição (coleção P.R.L.C.)

 

Da internet

 


Tipos CRJ 24A e 24B – PA 1623 (1867-1869)

O tipo 24 é o último a trazer o tradicional datador em cruz, desenho que vem desde o primeiro carimbo da era filatélica em 1843. Trazem também pela última vez legenda inferior com indicação dos turnos de recepção, manhã e tarde. Paulo Ayres o classifica entre os “tipos primitivos” com o nº 1623.

Os subtipos simplesmente registram as diferentes legendas inferiores.

  • Características
    • Legenda Rio de Janeiro
    • Datador em cruz (sem espaços entre os dígitos do ano)
    • Legenda inferior com indicação dos turnos M e T

As peças filatélicas são fac-símiles de cartas (acervo P.R.L.C.) provenientes da França com carimbos de recepção no verso.

Com isso termino a apresentação dos primeiros tipos que circularam na agencia 1º de Março. Eles traziam várias semelhanças com os tipos anteriores do Correio Geral da Corte embora já com a legenda Rio de Janeiro. Nesse ponto entra em cena o carimbo “francês”.

 


Tipo CRJ 25 – o carimbo “francês” – PA s/n

Introdução

Volto a mencionar o artigo de Nacinovic sobre carimbos franceses mencionado na nota [2] da introdução desta página. Especificamente no uso dos carimbos, ele apresenta ao longo do texto algumas informações que transcrevo resumidamente:

  • O mais antigo carimbo conhecido aparece em S. Paulo em 12 de setembro de 1866, apesar de apresentar em sua Fig.2 a peça de 17.10.1866 que se vê acima com a grafia “St. Paulo”, que reforça sua origem francesa
  • Rio de Janeiro tem seu primeiro registro em 1867
  • Existem carimbos com o datador grafado em espanhol, que o autor atribui a engano do fornecedor sobre o idioma do país cliente em peças de reposição;
  • Há também exemplares com o datador em francês, apesar de em alguns meses ser impossível distinguir a abreviação do mês entre os dois idiomas. Ele cita especificamente o uso no Rio de Janeiro entre 1874 e 1877.
  • Existem variações na grafia. No Rio, existem as legendas RIO-DE-JANEIRO (inicialmente) e depois sem hifens a partir de 1874.
  • Existe no Rio a versão em vermelho do carimbo, que ele cita como um carimbo de chegada em 1872 (seria bom conhecer essa peça, para ver se teria relação com uma correspondência registrada – que conheço nos tipos 28 e 29)
  • Existem carimbos datadores semelhantes ao “francês”, ou seja, com uma estrela entre parênteses, o que pode levar à confusão

Observação: concordo com ele sobre a possibilidade de confusão. No caso do Rio, com o Tipo 30 que apresentarei em detalhe mais abaixo. Para ajudar a distinção,  preparei a imagem a seguir onde coloquei superpostos dois envelopes da minha coleção, por acaso circulados no mesmo ano. O tipo 30 tem dimensões 20,0 x13,0mm contra 21,0 x 12,5mm do francês. Sua tipologia é bem diferente, com legenda em tipos maiores em negrito e datador com algarismos (dia e ano) serifados. O aspecto geral é mais grosseiro, especialmente no círculo externo que às vezes quase se confunde com um duplo.

Os subtipos

Concordo também com Nacinovic sobre a existência de quatro variedades desses carimbos, pois pude verifica-las em peças do Rio de Janeiro, que classifiquei como Tipos 25a a 25d. São elas:

  • Características comuns aos quatro tipos
    • Diâmetros 21 x 12,5 mm
    • Legenda superior Rio de Janeiro
    • Datador em três linhas com mês alfabético e ano em dois algarismos (é a primeira vez que esse tipo de datador aparece em carimbos do Rio Janeiro; ele será usado por décadas).
    • Legenda inferior com uma estrela entre parênteses (*)

***

Tipo 25a (1867-1874)

É o mais comum entre os quatro tipos registrados.

  • Particularidades
    • Legenda superior com hifens 
    • Mês grafado em português

Todas as imagens não especificadas são do acervo do dr. Klerman Lopes.

Abro apresentando fac-símile de carta postada no Rio de Janeiro em 25 de janeiro de 1867 com destino a Nápoles, certamente uma das primeiras do tipo francês na cidade.

Um fragmento que tem como interesse a cor azul do carimbo. Postada em 1870 (coleção do autor).

Postada no Rio em 7.10.1871 com destino a Paris; porte de $ 320 com marca P.D de pagamento ao destino. Carimbo de recepção em Bordeaux em 30.10

Esta carta postada em Campos (RJ) em 6 de julho de 1872 traz uma informação interessante. Foi recebida dia 8 no Rio com um carimbo Tipo 27 (que descreverei um pouco mais adiante) e dois dias depois, um carimbo francês indicaria sua expedição para o destinatário na rua do Ouvidor, centro da cidade. Isso significaria carimbos ou secções diferentes para importação e expedição? Nessa época, a 4a. Secção fazia a “entrada” e a 3a. Secção a “sahida”. Voltaremos ao assunto no capitulo do tipo 27.

Carimbo de origem ilegível, foi recebida no Rio em 13.02.1873.

Carta do coleção do autor, permite a medida exata, no caso 21 x 12,5 mm. Postada  no Rio em 4 de maio de 1874, foi recebida em Bom Jesus do Itabapoana (RJ) dia 18 conforme se lê nas anotações do destinatário. É a peça mais recente do Tipo 25a na coleção.

Tipo 25a – Variedade

Vale por último registrar uma curiosa variedade circulada em 1867 do Rio para Cabo Verde, a que Nacinovic não se refere: a falta da estrela entre os parênteses. As demais características se mantém.

 

***

Tipo 25b (1875-1878)

Tenho poucas peças desse tipo. Pelas datas de circulação, creio se tratar de um sucessor natural do tipo 25a.

  • Particularidades
    • Legenda superior sem hifens
    • Mês grafado em português 

 

Não tenho nenhuma peça original na coleção. A primeira que apresento acima é um fac-símile postado em 5 de junho de 1875 endereçada ao Registro de Paraibuna (*). A imagem tem como brinde uma escala que permite dimensionar o carimbo. No caso, 20x12mm (Acervo KL)

Fac-símile de carta postada  em local desconhecido e recebida no Rio dia 21 com carimbo CRJ 28 e reexpedida no dia seguinte com um CRJ 25b bem batido (acervo KL).

A seguir, dois fragmentos, um dos quais postado em 1878, o mais recente que conheço.

Notas

(*) a agencia do Registro de Paraibuna, local situado às margens do rio homônimo – na divisa MG-RJ – foi criada em 1840 e operou até 1868 subordinada à DR-RJ. Em 28.09.1874 o local recebeu uma estação da EFDP2º cuja agencia foi criada em 1875, data da missiva que foi portanto endereçada à estação. A família Cerqueira Leite era proprietária de várias fazendas na região.

***

Tipo 25c (1874-1875)

Tenho poucas peças desse tipo. As abreviaturas em espanhol estão (quase todas) registradas no trabalho de Nacinovic.

  • Particularidades
    • Legenda superior com hifens em tipologia serifada
    • Meses abreviados do espanhol (ENEº, FEBº e NOBe.)

Como peças filatélicas, começo com fac-símile de envelope de condolências enviado a Paris com porte P.D. em 3 de novembro (noviembre) de 1873 recebido em Bordeaux em 1º de dezembro. O detalhe permite ver na legenda a tipologia serifada e os hifens.

Segue fac-símile de envelope de 19 de janeiro (enero) de 1874 endereçada a La Bastide (França). Marca postal P.D. em azul (acervo KL).

O fragmento traz o carimbo com o mês grafado FEBR.

 

Tipo 25c Variedade

Vale registrar uma variedade (que Nacinovic não registra) circulada em 1874 da Côrte para o Registro do Paraibuna . Analisando o carimbo com atenção (ver detalhe), vemos que a tipologia da legenda superior tem hifens e tipologia serifada, exatamente o 25c com datador em espanhol . Esta peça no entanto tem o mês em português (OUT) o que a torna uma variedade.

 

 ***

Tipo 25d (1873-1874)

  • Características particulares
    • Legenda superior com hifens em tipologia sem serifas
    • Meses abreviados do francês 

As abreviaturas dos meses em francês estão registradas no trabalho de Nacinovic.

Segue um fragmento do acervo KL, infelizmente sem maiores detalhes. O carimbo é datado de 22 de fevereiro (fevrier) de 1875.

A próxima tem o carimbo de 7 AOUT 1873 endereçada a Seine-sur-Mer, França (reprodução).

Obs. No tipo 28, apresentado mais abaixo, há uma imagem de carta postada em Campos, RJ que possui carimbo francês com essa mesma grafia.

Com isso, terminamos a apresentação do tipo 25 “Francês”

 


Nesta altura, vale reapresentar o quadro de datas dos tipos da agencia 1º de março:

Os próximos tipos CRJ 26, 27 e 28 aparecem todos no mesmo ano. Decidi por apresentar o 26 “cruz de malta” e o “27- tipo inglês” na sequencia por apresentarem como similaridade ao 25 o mesmo diâmetro externo – 21mm. Já o 28, como veremos, tem layout bem diferente.

 


Tipo CRJ 26  “cruz de malta”  (PA 1625)

Classifiquei o CRJ 26 em dois subtipos ao observar que o ano está grafado em dois ou quatro dígitos além de outras pequenas diferenças no layout como se vê acima. Note que o PA 1625 representa o tipo 26B.

                CRJ26A CRJ26B

  • Características comuns aos dois tipos:
    • Circulo único, com diâmetro de 21 mm
    • Legenda superior RIO DE JANEIRO .  (na minha opinião, o ponto após o nome é  importante por ser um diferencial  (PA infelizmente não se deu conta). A tipologia é bastão
    • Datador em três linhas com tipologia serifada
    • Legenda inferior Cruz de Malta 

 

Vamos aos dois subtipos:

Tipo CRJ 26A (1868-1871)

  • Características diferenciais:
    • Datador com ano em dois dígitos
    • Utilização na secção expedição (ou saída) da correspondência (carimbo na frente do envelope)
    • Carimbos em cor azul

Essa distinção entre o uso na expedição ou importação é fruto unicamente da observação das peças filatélicas. É também resultado de entender o motivo por terem sido usados simultaneamente datadores diferentes no mesmo período. Mas é simplesmente uma tese a ser confirmada com a experiência.

Peças filatélicas:

As três peças mostradas a seguir, circuladas entre 1868 e 1869 mostram a transição entre as emissões numerais (de 1850) e os D. Pedro (de 1866). A primeira tem o porte em numerais verticais; a segunda, porte misto numerais e D. Pedro e a terceira é porteada exclusivamente com D. Pedro. Ajuda a compreender a também lenta transição dos carimbos CGC para os franceses.

Carta postada no Rio em 25 de janeiro de 1868 com destino ao Porto, onde chegou em 15 de fevereiro

Carta postada no Rio em 22 de outubro de 1868 para Buenos Aires.

Postada no Rio em 5 de novembro de 1869 com destino à França.

Outra característica característica diferencial dessas peças é o minúsculo corpo dos dígitos que registram o ano, apelidado de “pequenitos” por R. Koester  e que sugere o uso de um outro datador (acervo K.L.)

*

No segundo grupo, duas cartas para a França com uma característica curiosa: ambas foram postadas no dia 5 de fevereiro de 1870 com destinos diferentes – uma para Paris e outra para Port Vendres.  A primeira é da coleção do autor, o que permitiu exato dimensionamento do carimbo; infelizmente, está danificada no verso com a retirada dos selos. A segunda é fac-símile da coleção K.L e tem o carimbo na cor azul.

Mais uma peça, esta postada em 21 de setembro de 1870, mesmo ano das duas anteriores. No entanto, o datador está agora com o ano em algarismos “pequenitos”. Curioso (acervo KL).

*

Fac-símile de carta com trânsito nacional entre o Rio e Ouro Preto postada em 18 de março de 1871, a mais recente data que possuo desse tipo, também com carimbo de expedição em azul.

 

Carta postada no Rio de Janeiro com destino a Bordeaux em 17 de abril de 1871 (coleção Julio Cesar Mantovani). Notei que nas duas ultimas peças a cruz de malta apresenta desgaste faltando o ramo superior.

Tipo CRJ 26B (1869-1870)

  • Características diferenciais:
    • Datador com ano em quatro dígitos
    • Datador com 3 corpos diferentes para o dia o mês e o ano
    • Utilizado normalmente na secção importação (ou entrada) da correspondência; com carimbo portanto no verso.
    • O tipo de carimbo utilizado tem componentes móveis no datador , de modo que observamos diferenças de montagem entre o ano e o mês, como se vê nas imagens ilustrativas a seguir).

                    

Peças filatélicas:

As duas cartas acima foram postadas em Portugal respectivamente no Porto (1869) e em Lisboa (1870). Os carimbos de recepção 26B estão no verso (ambas da coleção do autor).

Esta provem de Falmouth (UK) postada em 8 de agosto de 1869 e recebida em 27. Carimbo de recepção em cor azul (coleção Julio Cesar Mantovani).

 

 

Esta carta foi enviada em 1872, o que a torna a mais recente desse tipo. Notar também os algarismos do ano, que lembram os “pequenitos”.


Tipo CRJ 27 – “inglês” (PA 1622)

A imagem de introdução mostra a “genealogia” do tipo 27. Na sequência: carimbo circulado na Inglaterra; carimbo consular inglês, o PA 1622 e o nosso CRJ 27.

Esse carimbo foi originalmente introduzido no Brasil em 5 de maio de 1862 pela Agencia Consular Britânica (BPO), que foi criada em 1833 como a primeira agencia britânica no Brasil em conjunto com a Agencia dos Paquetes Inglezes cuja sede funcionava na rua Direita, 49 em frente à sede dos Correios. Operava como receptora da correspondência internacional para os países atendidos pelas suas linhas. Em 1851 seriam abertas as BPO na Bahia e Pernambuco, mas em obediência ao monopólio estatal a correspondência para essas localidades deveria ser postada no CGC [1].

Em 3 de maio de 1862 a BPO passou a utilizar um novo carimbo circular com layout semelhante aos carimbos internos ingleses. Ele não teve vida longa pois, a partir de 1866, a BPO passou a utilizar no RJ o carimbo C83 sobre selos ingleses.

O carimbo PA 1622

Tudo leva a crer que o carimbo circular anterior – agora sem uso – tenha sido repassado ao correio brasileiro em 1866, como registra Paulo Ayres sob o n°1622. Argumentos em favor dessa tese são as peças filatélicas circuladas de 1867 a 1870 que trazem esse carimbo em correspondência franqueada com selos brasileiros e trânsito nacional, como se vê em peças apresentadas a seguir. Ela também não teve vida longa por aqui; veja observação sobre a montagem dos datadores logo após as imagens.

Peça postada no Rio em 18 de dezembro de 1867 com carimbo bem legível com trânsito interno para Ouro Preto (livro E.S.)

As duas peças acima transitaram em território nacional, o que significa que foram postadas no Correio Geral da Corte utilizando o CRJ 27 (do acervo K.L.)

 Neste caso, trânsito internacional mas postada no CGC.

Peça também com trânsito internacional para Dijon com escala em Bordeaux que nos informa a data de 20/05/1869. Mas e a data de postagem?  23/15/1869 (!?)

Os datadores

Essa última peça me fez observar os demais carimbos. Nos originais ingleses, vemos um carimbo em 3 linhas, sendo a do meio mês e dia (DC=digitos de controle):

DC
MM DD
AA

Deviam ser difíceis de montar, por isso vemos a linha DC sem nenhuma lógica; os outros 3 campos MM, DD e AA montados sem nenhuma ordem, culminando com a  última carta sem o mês em alfabético. Me arrisco a dizer que por isso teve uso breve.

***

Notas e Informações

[1] clique para ver matéria sobre o BPO

Pré-filatélicos (1798-1843)


 

Tipo 28 – PA 1624 (1868-1882)

Pela semelhança entre os tipos 28 e 29, vale apresentá-los lado a lado para estabelecer as diferenças.

  • Tipo 28 diâmetro 24 mm (imagem superior)
  • Tipo 29 diametro 20 mm (imagem inferior)

Os treze anos em que tenho registros desse tipo o torna o mais longevo deste capítulo. Talvez por isso nota-se variações em suas dimensões ao longo dos anos.

  • Características:
    • Duplo circulo, teoricamente 24 x 15mm, mas apresentando variações dimensionais: 23-25 x 14,5-15,5mm
    • Legenda superior Rio de Janeiro
    • Datador em três linhas, tendo o mês variações no corpo
    • Legenda inferior asterisco de 2mm sem parênteses

Peças filatélicas (apresentadas em ordem cronológica)

A peça mais antiga que possuo foi postada no Rio em 23.04.1868 com destino a Nápoles.

Fragmento de carta (foi rasgada ao meio!) postada em Posse (Maricá, RJ) em 13.08.1870 e recebida no Rio em 14. Como se nota, o carimbo 28 está sendo usado tanto para expedição quanto para recepção (nesse caso, em azul). O carimbo da agencia de origem é o raro PA 1421 (A.DO C. DA POSSE).

Outro fragmento (também rasgado), de origem desconhecida, foi postado em 27.12 e recebida no Rio em 30.12.1871. Neste caso, com carimbo em preto.

Verso de envelope onde foi aplicado o carimbo de expedição em 01.05.1872 foi endereçado à Europa e transitado em Bordeaux em 23.05. Infelizmente não possuo a frente.

Fac-símile de carta postada em Campos (RJ) em 6 de julho de 1872. O trânsito no Correio Central mostra o tipo 28 sendo usado para recepção e o 25 para reexpedição dois dias mais tarde.

Frente de carta da coleção do autor circulada em 23 de janeiro de 1881, o último que conheço do tipo CRJ 28. O carimbo tem uma particularidade, os círculos estão excêntricos (note que o espaço do “JA” é menor que o oposto da estrela).

Isso me fez lembrar dos primeiros tipos da 3a. Secção a partir de 1882., o que reforça a premissa das seções assumirem o protagonismo a partir desse ano sobre a “agencia 1º de Março”. Apresento as imagens comparativas, onde temos a sensação de que simplesmente substituíram as legendas inferiores.

Volto a comentar sobre esse “rito de passagem” no tipo 32.

*

Suposto uso do CRJ 28 no serviço registrado

Chama a atenção nesse fragmento de carta o uso do CRJ 28 em vermelho na recepção em 14 de fevereiro de 1872. O que diferencia essa carta é ser registrada (sob o nº 37, informação felizmente preservada).

Vale salientar que a partir de 1878 começam a aparecer carimbos especiais vermelhos para marcar o trânsito de cartas registradas. Apresento abaixo imagem dos primeiros carimbos que conheço desse tipo e que circularam em 1878 na 2a. secção (veja no menu “Secções” matéria mais extensa sobre o regulamento postal da época).

Reparem que eles também são vermelhos. Assim, dá para supor que, até ficarem prontos os carimbos próprios, os Correios utilizaram carimbos regulares para esse fim. No próximo tópico, registro igualmente o CRJ 29 utilizado da mesma forma em 1876.

 


Tipo CRJ 29 (1870-1877)

Tipo curioso, uma perfeita miniatura do anterior com a mesma tipologia e layout, como mostra a imagem ilustrativa abaixo de cartas circuladas no mesmo mês:

  • Características:
    • Duplo circulo, 20 x 12 mm (boa estabilidade dimensional)
    • Legenda superior Rio de Janeiro
    • Datador em três linhas
    • Legenda inferior asterisco sem parênteses

Peças filatélicas (apresentadas em ordem cronológica)

O mais antigo documento que encontrei é do site do MPNB – Museu Postal Numismático Brasileiro. Trata-se de carta para Bordeaux postada em 6 de setembro de 1870 e recebida em 26/09.

Postado no Rio com destino à Alemanha pagou porte triplo baseado no acordo Brasil-França de 1870

Nesta carta, notamos o carimbo CRJ 29 utilizado no recebimento em 7.1.1874. Não consegui decifrar o carimbo de origem.

A carta acima é da coleção do autor e foi postada no Rio em 27 de setembro de 1876 com destino a Curitiba e recebida no Paraná em 2/10 com carimbo francês em azul em 02.10

Esta é a peça mais recente que encontrei, expedida para Buenos Aires em 17 de julho de 1877 e recebida em 24.07

***

Uso como marca de registro

Esta é uma carta que me chamou atenção pelo uso do CRJ 29 em vermelho na recepção. Além disso, o que a diferencia é o porte registrado em S. Paulo sob o Nº 4.930 no dia 15 de dezembro de 1876 . Veja matéria no tópico anterior sobre o uso de carimbos regulares em correspondência registrada.

 


Tipo CRJ 30 – “falso francês” (1872-1874) 

Para apresentar o tipo CRJ 30 preparei o quadro abaixo para compara-lo com o tipo francês e com o CRJ 31, este último com círculo externo duplo. Desenhei em todos os tipos uma reta secante delimitando o espaço ocupado pela legenda superior RIO DE JANEIRO. Notem que no 25 e no 30 os caracteres ficam acima do ano, enquanto no 29 e no 31 a legenda se alonga e seus limites ficam abaixo do ano.

Quadro de tipos com diâmetro 20-22mm

Especificamente comparando-o com o “tipo francês”, a semelhança da estrela entre parênteses traz certa confusão, possibilidade já levantada por Nacinovic em seu trabalho. As diferenças ficam patentes na imagem a seguir, onde coloquei superpostos dois envelopes da minha coleção, por acaso circulados no mesmo ano:

O tipo 30 tem dimensões 20,5 x 13,0mm contra 21,0 x 12,5mm do francês. Sua tipologia é bem diferente, com legenda em tipos maiores em negrito e datador com algarismos (dia e ano) serifados. O aspecto geral é mais grosseiro, especialmente no círculo externo que às vezes quase se confunde com um duplo.

  • Características:
    • Duplo círculo com diâmetros 20,5 x 13mm
    • Legenda Rio de Janeiro com caracteres acima da linha de dígitos do ano
    • Datador com algarismos serifados
    • Legenda inferior estrela entre parênteses

Peças filatélicas:

Carta postada no Rio de Janeiro em 19 de março de 1872 com destino a Cabo Verde (acervo K.L.)

 

Envelope postado no Rio em 20 de outubro de 1874 com destino a Altrinchan na Inglaterra e recebido em 10 de novembro(coleção do autor).

 

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Tipo CRJ 31 (1875-1879)

Tipo sucessor do CRJ 30 – como se depreende das datas de circulação. Como o anterior, também pode ser confundido com um carimbo “francês”.

Atenção: a posição dos dígitos do ano em relação à legenda superior é o maior diferencial; o circulo externo duplo também. Compare os desenhos acima.

  • Características:
    • Duplo círculo com diâmetros 21,0 x 12,0mm sendo o externo duplo
    • Legenda Rio de Janeiro alongada com alguns caracteres abaixo da linha de dígitos do ano
    • Datador com algarismos serifados
    • Legenda inferior estrela entre parênteses

Peças filatélicas

Apresento diversas peças do acervo K.L na sequência cronológica de postagem e que permitem boas observações sobre o tipo 31 comparado com outros tipos CRJ apresentados anteriormente

A mais antiga peça que encontrei, postada em 1875 no Rio e que traz portanto o CRJ 31 utilizado na expedição. A imagem permite também comparação (e a diferenciação) com o francês de recepção em Ouro Preto. Na verdade, a única coisa que têm em comum é o diâmetro e o uso de uma estrelinha entre parênteses na legenda inferior.

Peça também postada no Rio com destino a Ouro Preto como a anterior. Esta é de 1876 e permite a observação clara do círculo externo dobrado (parece um carimbo novo). Mas este tem uma variedade: os parênteses e a estrelinha desapareceram!

Nesta peça, postada em S. Paulo e obliterada a pena, o carimbo foi utilizado pelo setor de recepção. Apesar de circulada no mesmo ano da anterior (1876) o carimbo tem os círculos externos borrados mas, em compensação, tem uma estrelinha bem batida.

Essa carta postada em Campos permite comparar mais uma vez os carimbos CRJ 31 com o francês, além do tipo 28. A carta é registrada mas desta feita não foi utilizado um carimbo vermelho na recepção.

Carta postada em Ouro Preto em 17 de abril de 1879 e recebida no Rio em 21. Nos carimbos, só os diferenciam o tamanho da legenda e os dígitos do datador serifados. Daí se entende como é usual confundir os dois carimbos. É a mais recentes das peças como o CRJ 31.

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Tipo CRJ 32 (1877-1879)

“cruz de malta em círculo duplo”

Tipo semelhante já havia sido apresentado no CRJ 26 que também possui legenda em cruz de malta porem em círculo único.

    

  • Características:
    • Duplo círculo com diâmetros 22 x 13mm, sendo o externo dobrado
    • Legenda Rio de Janeiro alongada com alguns caracteres abaixo da linha de dígitos do ano
    • Datador com algarismos serifados
    • Legenda inferior cruz de malta

O layout é praticamente idêntico ao anterior, tanto que se observa o circulo externo dobrado no canto superior esquerdo do carimbo de 1879 e no fragmento abaixo.

Não possuo na coleção exemplares de peças filatélicas, com exceção dos dois carimbos apresentados acima e o fragmento a seguir.

 


Tipo CRJ 33 (1878-1881)

“Parênteses vazios”

  • Características:
    • Duplo círculo com diâmetros 24 x 13,5 mm
    • Legenda Rio de Janeiro 
    • Datador sem serifas
    • Legenda inferior com parênteses vazios
    • “J” de Janeiro inclinado para a esquerda

Peças filatélicas

Variedade

O envelope abaixo tem as mesmas características, mas a legenda inferior está em branco. O ano em “pequenitos” do último confirma  ser  uma  variedade.

Alguns carimbos esse tipo apresentados possuem o datador com o ano em algarismos “pequenitos” que de vez em quanto aparecem, não sei porque, já que são de difícil leitura. Todas peças são do acervo Klerman Lopes, com exceção da ‘variedade’ que é da coleção do autor.

 


Uma tese em discussão

O Carimbo nº 33 pode ser considerado uma transição entre os “tipos agencia 1º de março” descritos neste capítulo e os utilizados a partir de 1882 nas novas seções ou nas agencias urbanas em que se reorganizou o Correio Central. Todos trazem características idênticas mas com as seções emitentes inscritas entre os parênteses.

A imagem abaixo creio que confirma a tese ao compará-los:

     

Tipo Agencia Urbana B   Tipo 2a Secção (CRJ 52a)             Tipo CRJ 33

A imagem da Agencia Urbana B acima foi reproduzida do livro Carimbos Postais do Séc. XIX de autoria de Cicero A.F. Almeida editado pela EBCT em 1989.

Eles estão catalogados no menu Correio Urbano no Imperio, imagem que reproduzo a seguir. Eles constituem uma 2a.série de carimbos de agencias urbanas, bastante rara. A 1a.série tem carimbos com as letras em carimbos losangulares.

Cícero descreve o carimbo MRJ 102 no livro como sendo um ( 2 ) da 2a. seção, mas na minha opinião, apesar da semelhança,  é de fato um ( B ) da agencia do Catete (Largo do Machado), que tem carimbos urbanos da 1a. serie, com “B” no losango. Na minha opinião, nada estranho portanto que os tivesse também da segunda série.

 


Notas do autor


Nota 1

Como vimos no início desta página, foram criadas quatro seções, sendo três delas operacionais e uma (a 1ª) administrativa. Logicamente, essas três seções operacionais, com suas atribuições já definidas, devem ter utilizado alguns dos tipos que vimos acima, ou na recepção, ou na expedição, ou ainda na distribuição.

Por alguma razão operacional, entre 1865 e ca.1880 não se decidiu colocar o nº da Secção na legenda mas, se observarmos os envelopes com atenção, vemos que alguns deles possuem dois tipos CRJ diferentes aplicados, às vezes com um dia de diferença. Ou seja, um deles foi de recepção e outro de expedição. Ou seja, duas seções diferentes – talvez um dia consigamos decifrar quem usava o que.

Nota 2

A partir de 1882 não serão mais utilizados carimbos pela estrutura centralizada da rua 1º de Março, que serão substituídos pelos carimbos das 4 “Secções” da nova estrutura organizacional, cada qual com sua responsabilidade vigente.

Veja a continuação da apresentação dos tipos do Império no menu “As Secções“.

Somente em 1962 – 80 anos depois – teremos a (re)criação da Agencia Central do Rio de Janeiro com estrutura centralizada coroando o paulatino abandono da organização em seções. Veja menu Agencia Central.


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