Correio Urbano no Império

INTRODUÇÃO

A imagem acima é a capa do livro de Paulo Berger editado em 1965 pelas Edições O Cruzeiro (RJ) em homenagem ao IV Centenário do Rio de Janeiro. Seu conteúdo é baseado no texto do historiador Francisco Agenor de Noronha Santos publicado em 1900 sob o titulo de Apontamentos para o Indicador do DF. Nele são descritas as 21 freguesias em que o Rio de Janeiro (de fato, o Município Neutro) era dividido ao final do séc. XIX. A imagem servirá de ilustração para este estudo sobre o desenvolvimento das correios no Município Neutro no Império.

Esta introdução é baseada no capitulo História dos Correios no menu principal que deve ser consultado para mais detalhes e referencias das fontes.

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Para efeito didático, dividi o assunto em vários menus dentro do Correio Central . Vou reproduzir a seguir o menu principal que está à direta na página

  • Esta página Correio Urbano no Império, que descreve as iniciativas “dentro do perímetro urbano” (no mapa ao alto, a região entre a Gávea e o Engenho Novo, ambos em amarelo)
  • Correio Urbano na República e Sucursais, que descreve as iniciativas urbanas até a década de 1960.
  • Correio Suburbano que apresentará as iniciativas nos subúrbios (áreas  Inhauma, Ilha e Irajá no canto superior direito do mapa)
  • Correio Rural que cobre a zona oeste (Jacarepaguá, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz no mapa ao alto)

É curioso notar que no Município Neutro decorreriam mais de 40 anos até serem criadas duas novas agencias, localizadas nas suas extremidades geográficas: Paquetá (1841) e Santa Cruz (1842), ambas ainda ativas. Elas podem ser vistas no Mapa Postal de 1855 (imagem abaixo). Não conheço o respaldo legal para a criação dessas agencias, mas sei que decorrerão mais de 20 anos até uma nova agencia ser criada no município, a de Cascadura em 1863 mas, nesse caso, dentro de uma estação ferroviária da E. F. D. Pedro II.


O CORREIO URBANO NA CORTE (1798 – 1889)

Índice dos capítulos cobertos neste artigo:

  1. CAPITULO 1 – O Correio Central (1798-1844)
  2. CAPITULO 2 – A correspondência urbana e as caixas de correio (1844-1860)
  3. CAPITULO 3 – O Correio Ferroviário
  4. CAPITULO 4 – As Agencias Urbanas de Letras (1868-1880)
  5. CAPITULO 5 – Os últimos anos do império

 


CAPITULO 1 – O CORREIO CENTRAL

Um pouco de História

O Ato de 24 de abril de 1798 é o início da organização dos Correios, com a instalação da Administração do Correio da Corte e da Província do Rio de Janeiro, ou seja, de sua primeira “agencia postal“, a agencia central à qual responderiam as demais agencias urbanas a serem criadas.

O Ato de 24 de abril de 1798 estabeleceu o Correio da Corte [8A] na Rua Direita, na sede da Administração dos Correios. Acompanhando a rua, ela seria renomeada Agência 1º de Março em 1870.  

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Relembrando que o município neutro (cidade do Rio de Janeiro) é o objetivo deste capítulo, vale dizer que nos 40 anos seguintes não houve criação de outra agencia, permanecendo a Central como única no município. Nesse meio tempo, dezenas de agencias foram criadas na Província do RJ, começando pela agencia de Campos dos Goytacazes, criada também em 1798.

Duas agencias foram criadas em Paquetá (1841) e Santa Cruz (1842) nos  limites extremos do município. Não me parecem ligadas a nenhum projeto de rede postal suburbana ou rural (capítulos que abordarei mais à frente) mas sim parte da rede de linhas de correio que as conectam aos municípios vizinhos, respectivamente Magé e Itaguaí – cujas agencias foram criadas em 1829.

O detalhe do Mappa das Linhas de Correio da Provincia do Rio de Janeiro, publicado em 1855, é boa referência ao comentário anterior sobre as linhas de correio (pontilhadas).

 

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CAPÍTULO 2 – AS CAIXAS DE CORREIO

2.1 – Origens do serviço de Correio Urbano

O decreto 255 de 29 de novembro de 1842 introduz o conceito de pagamento adiantado do porte da correspondência, através do uso de selo postal, que por sua vez será inutilizado por carimbo. O sistema sem dúvida simplificava muito a logística dos Correios e foi um marco importante para o estabelecimento do Correio Urbano.

A criação da “Décima Urbana”

Neste ponto acho necessário conceituar o perímetro urbano.

Após a chegada da família real, D. João VI criou em Alvará datado de 27 de Junho de 1808 o primeiro imposto predial do Brasil, a décima dos rendimentos dos prédios situados no perímetro urbano, mais conhecida como Décima Urbana. Essa é a área na qual serão implementadas as próximas iniciativas do Correio Central.

A imagem acima é um detalhe do mapa Maschek-Laemmert de 1870. O interesse é sua representação gráfica em sombreado do “Limite da Decima Urbana” que, em linhas gerais, parte do final do Leblon, cruza o maciço da Tijuca incluindo o Alto da Boa Vista e o Engenho Novo, tangenciando o subúrbio em Inhaúma e fechando na Baia de Guanabara na altura do atual Fundão.

As Caixas de Correio

A primeira referência à correspondência urbana ou “dentro da mesma Cidade” aparece no Regulamento de 21 de dezembro de 1844 [1], informando que esse tipo de correspondência será lançada em Caixas de Correio e pagará metade da tarifa de terra. Compromete-se o DG a “ensaiar” (segundo o dicionário Aurélio: pôr em prática, tentar, experimentar) um Correio Urbano na Corte. Transcrevo:

Art. 188. As pessoas que quizerem enviar cartas ou quaesquer maços ou papeis para dentro da mesma Cidade, Villa, ou Povoação, por intermedio do Correio, o poderão fazer lançando-os nas Caixas com o sello affixado, que será de metade do dos Correios de terra.

Art. 189. Os Administradores ou Agentes dos Correios logo que acharem nas respectivas caixas, cartas, papeis ou quaesquer maços para a mesma Povoação, com sellos na fórma acima ordenada, lhes darão o mesmo destino que ás recebidas pelas malas.

O Director Geral ensaiará quanto antes nesta Côrte hum Correio Urbano distribuindo malas ou caixas por diversos lugares para receber as cartas, e empregando os Carteiros d’Administração na entrega d’ellas.

Regulamento para o ensaio dos Correios Urbanos nesta Côrte

Assinado pelo Diretor Geral dos Correios, esse Regulamento [2] tem nove artigos e faz referencia ao Art. 188 do Decreto 399 acima citado. Transcrevo parcialmente.

Art. 1º  Do dia 11 de agosto (de 1845) próximo futuro em diante haverão trez caixas de correio urbano na corte, a primeira no largo da matriz da Gloria (atual Largo do Machado), a segunda no largo da Imperatriz (atual Praça dos Estivadores na Saúde) e a terceira em Matta Porcos (atual rua Frei Caneca).

“Art. 5º ao 8º As caixas possuirão cadeados e serão substituídas todos os dias às 11 horas por caixas vazias através de carteiro especial que as encaminhará à administração dos Correios, que as expedirá ao meio-dia”.

“Art. 9º Haverão à venda nas casas das caixas de correios urbanos, a porção de sellos necessarios, para as cartas (…) havendo tambem a tabella dos portes e uma balança”.

Para visualizar o posicionamento das três caixas descritas acima, circundei-as em azul sobre o mapa Maschek-Laemmert de 1900 (uma edição mais atualizada do mostrado acima). A Agencia Central está em vermelho

 

 


2.2 – Correio Urbano a Cavalo

O comunicado de 17 de fevereiro de 1852 assinado pelo Administrador do Correio Geral da Corte, José Maria Lopes da Costa [3] e publicado pelo Diario do Rio de Janeiro, edição do dia 19 reza que:

“Para conhecimento do pubblico se annuncia que, por Aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Império de 17 de janeiro findo, foi approvado o Regulamento de 3 de maio de 1851 para os correios urbanos nesta Côrte, constando de quatro linhas nos principais extremos da cidade (…), em cujos pontos ficão estabelecidas caixas para o recebimento da correspondência (…) na fórma do dito regulamento que se transcreve”.

Regulamento para os Correios Urbanos (3 de maio de 1851)

Seguem-se os 23 artigos desse Regulamento, que vou tentar resumir. As quatro linhas serão:

  1. Jardim Botânico: Roteiro: ruas Direita, S. José, largo e rua da Ajuda, rua do Passeio, Largo da lapa, Gloria, Cattete, Caminho Novo (atual av. Oswaldo Cruz), praia de Botafogo, rua de São Clemente, Lagoa.
  2. Cosme Velho: Roteiro: ruas Direita e do Ouvidor, largo de S. Francisco de Paula, praça da Constituição, ruas do Lavradio e dos Arcos, rua das Mangueiras, largo da Lapa, Cattete, Largo do Machado, rua das Larangeiras e Cosme Velho (próximo a Água Férrea).
  3. Andaraí: Roteiro: ruas Direita e da Alfandega, campo da Aclamação, rua Nova do Conde (rua do Conde d’Eu, depois Frei Caneca), Catumbi Pequeno (próximo ao Chafariz do Lagarto), Barro Vermelho, Matta Porcos, Engenho Velho (próximo a rua de São Francisco) no lugar denominado Affonso.
  4. Praia Pequena: rua Direita, rua de S. Pedro, Campo da Aclamação, rua de S. Pedro da Cidade Nova (depois senador Euzebio), Atterrado, rua e campo de S. Christovão, Pedregulho, Bemfica e Praia Pequena.

Para visualizar as “quatro linhas nos principais extremos da cidade” descritas acima, tracei-as em azul sobre o mapa Maschek-Laemmert de 1900 no qual as manchas urbanas estão sombreadas em rosa.

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A edição do Diario do Rio de Janeiro de 20 de abril de 1852 traz matéria sobre o movimento inicial da correspondência

Esse movimento cresceria para mais de 3.000 cartas mensais nos anos seguintes, conforme se lê em matéria de 1º de agosto de 1856 no mesmo Diário:

 

Extinção do serviço em setembro de 1861

O serviço seria extinto pelo aviso n.47 da 4a. diretoria do Ministerio dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, datado de 9 de setembro de 1861 e endereçado ao Administrador do correio da corte e província do Rio de Janeiro, Dr. Thomaz José Pinto Serqueira, cujos principais trechos reproduzo abaixo [4]:

“Não correspondendo de modo nenhum a vantagem que se tira dos carteiros a cavallo e convindo por isso organizar de outra maneira aquelle serviço, fica V.S. autorizado a: 1) supprimir os referidos carteiros urbanos; 2) ordenar que todos os dias de manhã  partão dous carteiros a pé, um para o ponto do Cattete e outro para o de Mattaporcos (…)”.

O aviso prossegue detalhando como outros carteiros darão seguimento, cobrindo os diversos trechos de modo a manter o serviço nas quatro linhas em questão.

 


2.3 – Correio urbano a pé em 24 de março de 1857

A declaração da Administração do Correio da Corte assinada em 21 de março de 1857 pelo contador substituto Sr. Francisco José de Lima Barros [5] tem o seguinte texto:

“(…) faço  publicar que no dia 24 do presente mez principiará o expediente das 32 caixas do Correio Urbano que já se achão estabelecidas (…) nos limites do correio urbano a pé cuja área fica dividida em 8 districtos pela maneira constante no regulamento dado pela DGC em 4 de março deste anno, em virtude do aviso da secretaria d’estado dos negocios do Imperio de 19 de janeiro ultimo (…)”.

Em anexo encontra-se uma cópia do regulamento citado, que é intitulado “Instrucção do Correio Urbano”. A instrução fixava os limites geográficos da área coberta. Copio e comento o trecho original e mais abaixo apresento um mapa desses locais.

  1. Lado do Cattete até a ponte de mesmo nome (próximo à atual Praça José de Alencar no Flamengo)
  2. Lado da Cidade Nova até o Rocio Pequeno (nome antigo da Praça 11, desfigurada com a construção da Av. Presidente Vargas)
  3. Litoral até o caes de embarque no Sacco do Alferes (região da atual Gamboa que sofreu grande aterro na reforma do antigo cais do porto)

Consta a Instrução de 16 artigos, estabelecendo que o serviço será feito a pé por oito carteiros especiais na região delimitada acima, que será igualmente dividida em oito distritos, cujos roteiros detalhados são descritos no 3º artigo . Os carteiros visitarão as caixas e levarão as cartas para o correio central. Na volta, levarão as cartas já separadas para serem entregue a domicilio aos assinantes do Correio. As cartas provenientes de Niterói, São Gonçalo, Paquetá, Estrella  e linha de Guaratiba também serão incluídas sempre que possível.

O artigo 13º informa que o porte continua o mesmo do decreto de 1844 e o artigo 16º informa que os carteiros urbanos a cavalo continuarão a proceder do mesmo modo que atualmente (ver capítulo anterior).

Extinção do serviço em janeiro de 1860

No entanto, o serviço seria extinto segundo um comunicado do CGC de 30 de dezembro de 1859 e assinado por F.J. de Lima Barros “no impedimento do contador”, [6] que informa:

“De ordem do Illm. Sr. administrador faço publico que por avisos de secretaria de estado dos negocios do Imperio datados de hontem, segundo acaba de communicar a DGC em officio n.260 da mesma data, foi determinado que do próximo mes de janeiro em diante (…) cesse o serviço dos oito districtos do correio urbano cujas caixas vão ser levantadas das diversas ruas em que se achão, conservando-se somente a do Largo do Machado e a da estação central da estrada de ferro, as quaes serão visitadas duas vezes diariamente pelos carteiros a cavallo que transitão por esses lugares”.

Nota do autor: por pouco tempo, já que o serviço a cavalo também seria extinto no ano seguinte (ver capitulo 2.2)

 


 

CAPITULO 3 – O CORREIO FERROVIÁRIO

Alguns podem estranhar o fato de haver um capítulo sobre o Correio Ferroviário dentro do assunto Correio Urbano. Para quem não tiver familiaridade com esse serviço, sugiro visitar a página de introdução do assunto clicando no quadro abaixo:

Correio FERROVIÁRIO

 

As agencias ferroviárias urbanas

No intervalo entre os serviços pioneiros com caixas postais (1845 a 1860) e a implementação formal da rede de agências urbanas que estão descritas no Capítulo 4 (a partir de 1868), foi construída a Estrada de Ferro D. Pedro II cujo primeiro trecho até Belem (atual Japeri) foi inaugurado em 1858.

As ferrovias constituíram um moderno e poderoso meio logístico que ampliaria e agilizaria o serviço dos correios nas próximas décadas. Mesmo na zona urbana da cidade, várias estações foram inauguradas em locais que se desenvolveram posteriormente à sua volta. 

Assim, no trecho ferroviário que cruzava o Município Neutro e dentro da área urbana (Décima Urbana) foram inauguradas estações ferroviárias onde foram instaladas agencias postais. Essas agências obedeciam a norma dos Correios (a nível nacional) que estipulava que, “sempre que possível”, agências dos Correios deveriam ser instaladas nas estações abertas em localidades ainda não servidas por esse serviço. O mapa abaixo é de 1907 e portanto apresenta outras ferrovias mais recentes além da EFDP2º que está ao centro e é o nosso foco.

Normalmente a literatura que trata do tema Correio Urbano omite as agências ferroviárias mas que, de fato, acabam por integrar a rede de agencias urbanas. No nosso caso, vou apresentar as mais importantes, extraída das planilhas mais detalhadas constantes no menu correio ferroviário.

Cada linha apresenta uma estação, com a data de sua inauguração e a agencia postal a ela relacionada. Como se vê, entre 1864 e 1874 foram criadas agencias no mesmo período da rede urbana “de letras” descrita no próximo capítulo, que tiveram sua agencias instaladas entre 1868 e 1877.

 

As mais antigas agencias urbanas do Município Neutro

Curiosamente, as agencias de São Francisco Xavier (1864, imagem de N.M.) e do Engenho Novo (1865, nota no Correio Mercantil) podem ser consideradas, de fato, como as primeiras agencias urbanas do Rio de Janeiro. Mais curioso ainda é que a estação central da EFDPII (inaugurada em 1858) só receberia sua agencia (letra “N”) em 1869.

 


 

CAPITULO 4 – AS AGENCIAS URBANAS

Dissemos no capítulo 2 que entre 1860-61 seria praticamente extinto o correio urbano organizado na forma prevista no decreto de 1844. Algumas caixas urbanas continuaram a existir sem, contudo, uma estrutura logística consistente. Apenas em 1868 seriam criadas novas agencias urbanas dentro de uma nova estrutura, como veremos a seguir.

Uma nova tentativa em 1865

Uma medida contida no Decreto de 1865 [8] demonstra novo interesse na implantação de um Correio Urbano. Transcrevo trechos:

“CAPITULO IV – Distribuição da correspondencia
Art. 21. Para regular o serviço do correio urbano na Capital do Imperio, haverá pelo menos tres distribuições diarias da correspondencia levada ao domicilio dos destinatarios na distancia de cinco kilometros da repartição do Correio (…)
Art. 23 – A correspondência será levada ao domicílio do destinatário em todas as cidades, cuja população exceder a cinco mil almas”.

Uma das iniciativas decorrentes foi a implantação de agencias urbanas.

A partir de 1868 começam a ser instaladas caixas de coleta em agências postais localizadas em pontos estratégicos da zona urbana do Município Neutro. O Almanaque Laemmert de 1869 lista as cinco primeiras implantadas em 1868:

N.A.:

    • Vale lembrar que à época duas agências já funcionavam nos limites do município (ou “freguesias de fora” como referidas na época): as de Paquetá (16 de agosto de 1841) e a do Curato de Santa Cruz (24 de novembro de 1842), que estão descritas nos menus suburbano e rural respectivamente.
    • Noto ainda que, com a inauguração da E.F. D. Pedro II, agencias ferroviárias foram criadas nas estações da linha dentro do município: Cascadura (12 de maio de 1862), São Francisco Xavier (10 de agosto de 1864), Sapopemba – atual Deodoro – e Engenho Novo (estas em 9 de agosto de 1865). Estas eu classifiquei no corrreio suburbano.

As 25 agências postais urbanas criadas entre 1868 e 1877 adotaram a identificação por letras conforme se vê na tabela abaixo, com endereços e as respectivas datas de funcionamento:

Observações sobre a tabela:

  • Fontes: Boletim Postal dos Correios, Almanaque Laemmert e notas publicadas pela Diretoria dos Correios na imprensa (Diário do Rio de Janeiro, Hemeroteca da Biblioteca Nacional).
  • As datas da tabela são as publicadas na imprensa, onde textualmente se lê: “começa a funcionar a partir dessa data a agencia # ”. Portanto, elas são certamente diferentes das datas de criação informadas em documentos do Correio.
  • Procurei listar todas as mudanças de nome dessas agencias, embora reconheça que possa trazer certa confusão. As mudanças decorrem de mudanças de endereço  ou de alteração do nome do logradouro. Algumas são curiosas, como por exemplo as do Rio Comprido, que revelam, no vai-e-vem, uma certa indecisão politica.
  • Observe que o conjunto de bairros atendidos reflete os limites conceituais de “zona urbana” à época. A expansão para a Zona Sul mostra a influencia da inauguração das linhas de bonde para Botafogo (1868), Jardim Botânico e Gávea (1871).
  • A coluna MRJ indica o numero que atribuí a cada agencia ao longo deste trabalho. Elas estão classificadas em seu respectivo bairro, embora uma consolidação de todas as imagens disponíveis seja apresentada abaixo.

Essas agências utilizaram carimbos específicos, que Paulo Ayres classifica como carimbos de letras (PA 1022 e ss); ver imagens abaixo. Para efeito de comparação, marquei em azul a localização aproximada dessas agencias cuja distribuição também obedece aos limites urbanos (o ponto vermelho é o correio central)

Tudo leva a crer que as agencias deixaram de utilizar esses carimbos por volta de 1882. Um anuncio publicado na imprensa em 10 de junho de 1880 e assinado pelo Correio Central [9] informa que “além das 25 caixas existentes nas agencias do correio urbano, colocaram-se mais 24 caixas (…) para recepção de cartas”. Será a última vez que se mencionará as agencias de correio.

O Almanaque Laemmert, que publicava a lista de agencias urbanas até 1880, a partir dessa data passa a informar a relação das caixas e, separadamente, a relação das casas na cidade e subúrbios onde se vendem sellos, cartões postaes e cartas bilhetes“. Por exemplo, a edição de 1888 informa que existem 140 caixas na Corte e umas duas centenas de casas que vendem sellos.

Imagens dos carimbos das agencias urbanas [10]

A agencia “A” possui carimbos da 1a.serie (PA 1022) e da 2a.série (letras entre parênteses na legenda inferior, sobre as quais falarei logo após estas imagens).

Na agencia “B” vale a mesma observação da agencia anterior.

Das 25 agencias de letras originais, Paulo Ayres reproduz imagens de 12 delas, entre as quais a “D” acima. Quando elas não estiverem lá desenhadas, presumo que PA não encontrou nenhum exemplar. Nesse casos, eu reproduzo o layout básico, para registrar na coleção a existência da agencia, mas evidentemente sem o numero do catálogo. Haverá portanto 13 delas abaixo.


Reparem que, na agencia MRJ 1 (agencia urbana “I”), não possuo imagens da 1a. série, porém da segunda há registro no MPT e também de exemplares circulados em 1885.

 

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A 2a. série de carimbos de letras

Eis que recentemente recebo do colega Fabio Monteiro exemplares com letras com legendas entre parênteses datados de 1885. Isso me fez lembrar de carimbos semelhantes que havia visto no livro Carimbos Postais do Séc. XIX de autoria de Cicero A.F. Almeida publicado pelos Correios em 1989. Lá estão mostrados alguns carimbos similares àqueles (letras “A” e “H”, que o autor atribui equivocadamente a “8 agencias postais que trabalhavam com correspondência oriunda de caixas do correio urbano“. Essas oito serão emitidas na república, como comentado na nota [1].

Estudando o livro, acabei por encontrar outros dois que o autor também interpretou de modo diverso. Com os dois atribuídos a agencias urbanas, teremos quatro exemplares com letras entre parênteses apresentados no livro:

  1. Nº 160, descrito como (1) de 1a secção. Na minha opinião, isso não seria possível, já que essa seção era somente administrativa na época; o mais provável é que seja um ( I ) ou seja, a agencia urbana “I” no Alto da Boa Vista;
  2. Nº 161, descrito como (2) de 2a.secção. Na minha opinião, seria de fato um ( B ) da agencia na rua do Catete, que foi uma das contempladas na 1a. série com um carimbo losangular – o que explica ter sido também incluída na 2a. série [2].
  3. Nº 167 agencia urbana “A” também na rua do Catete;
  4. Nº 168 agencia urbana “H” na Praça da Constituição, no Centro.

Seguem as imagens das cinco agencias que disponho, pinçadas na série apresentada logo acima. Destas cinco tenho carimbos das letras “F” (1878) e “I” (esta, reproduções datadas de1885).

(Imagens repetidas da lista superior, para simples registro conjunto)

 


Notas e Informações

[1] acredito que as oito agencias são um equívoco do autor, pois elas são em numero de 25 no império. A confusão originou-se provavelmente com a nova rede de agencias urbanas republicanas criadas em 1890, com oito agencias urbanas criadas  inicialmente e depois ampliadas para 12.

[2] para efeito de comparação, reproduzo imagem extraída do capítulo “Agencia 1º de Março” comparando o carimbo CRJ 33 original (o último da 1º de março) que originou posteriormente carimbos com adição de letras ou números entre os parênteses vazios (o diferencial maior é a letra “J” de janeiro levemente inclinada para a esquerda.)

     

Tipo Agencia Urbana B   Tipo 2a Secção (CRJ 52a)             Tipo CRJ 33

O carimbo “B” da 1a. série

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No apagar das luzes do Império, a imprensa publica notas informando a existência de um projeto de uma nova rede de agencias urbanas. Esta será implantada, com letras de “A” a “L”, logo após o advento da república em 1890, como se pode ver em detalhe no menu “Sucursais do Distrito Federal”

Nota no jornal Cidade do Rio em 11 de junho de 1889


 

CAPITULO 5 – OS ÚLTIMOS ANOS DO IMPÉRIO

A rede de carimbos de letras foi a última iniciativa de estabelecer uma rede de agencias urbanas durante a monarquia. O conceito foi paulatinamente abandonado, de modo que por volta de 1882 todas as 25 agencias de letras já não operavam. Também não há registro de criação de nenhuma nova agencia urbana.

Assim, podemos dizer que, com exceção das cinco agencias ferroviárias urbanas que mencionamos no Capítulo 3, no início da Republica nenhuma agencia urbana operava.

Como funcionou o Correio Urbano nesses últimos anos? De modo semelhante à rede de caixas postais descrita no Capítulo 2. Para dar uma ideia, em 1888 existiam na cidade 130 caixas urbanas, distribuídas por 30 distritos.

 

 5.1 – Os carimbos “CORREIO URBANO” (1884-1889)

Com o fim do uso de carimbos próprios pelas agencias urbanas, a correspondência postada nas caixas urbanas passa a receber carimbos de texto com a legenda CORREIO URBANO provavelmente aplicados na recepção do Correio Central.

O carimbo é registrado no PA e no MPT, como revelam as imagens abaixo.

Paulo Ayres PA 1682

Reprodução do livro “Um estudo da coleção de matrizes do MPT” de Cicero Antonio F. Almeida ed. EBCT 1989.

 

Imagens de carimbos do Correio Urbano (coleção do autor)

Na minha coleção os tenho sobre emissões entre 1884 e 1888. Um inteiro postal revela sua circulação dentro da região urbana (o endereço Rua Senador Pompeu nº2 é no centro do Rio). Trata-se de uma carta-bilhete RHM CB-11, emissão de 1884.

Carta Bilhete RHM CB-17 emissão 1887, circulada em 13.08.1888 (repro da internet)

Existe também um tipo oval que circulou na república. Eu o registrei na página do Correio Urbano na Republica.

 


5.2 O Carimbo “Posta Urbana” (1887-1889)

Para introduzir o segundo carimbo, apresento uma peça postada no Rio de Janeiro em 13 de janeiro de 1889 com destino à Alemanha catalogada na página da 1ª SECÇÃO desta coleção. Seu interesse está em apresentar simultaneamente os dois carimbos urbanos do assunto em pauta. O carimbo de letras “Correio Urbano” foi utilizado para obliterar o selo, enquanto os dois da “Posta Urbana” tinham as seguintes atribuições no Regulamento de 1888:

  • a 1ª Secção era encarregada de receber a correspondência urbana;
  • a 4ª Secção era encarregada da expedição de malas para o exterior.

Os carimbos:

Outra série de carimbos – que para diferenciar apelidei de “Posta Urbana” – foram utilizados pelas “Secções” do Correio Central no período de transição entre o Império e a Republica. O apelido deriva das legendas C.U. – Correio Urbano e P.U.- Posta Urbana grafadas nas duas ultimas séries.  Paulo Ayres os registra (sem numero) na página 124, embora reproduza alguns tipos que não me parece terem circulado.

Analisando a inscrição do quadrante superior do círculo interno e as respectivas datas de circulação, decidi classificá-los em três séries distintas.

  • 1a. série – Império: quadrante com o enfeite ( ) horizontal (1887-1889)
  • 2a. série – República: quadrante com as letras C.U. (1890)
  • 3a. série – República: quadrante com as letras P.U. (1890-1894)

No Império somente circularam exemplares da 1a. série, que existem na 1ª, 3ª e 4ª Secções, em 3 turmas. Total 9 tipos. O quadro abaixo os apresenta:

Observação: A 2ª Secção nessa época tinha como atribuição a distribuição, inclusive domiciliar, e aparentemente não se envolveu com o correio urbano. Pelo menos, nunca vi um exemplar (mas PA os apresenta…)

Observação: há carimbos com desenhos semelhantes que circularam em outras épocas ou locais. O menu carimbologia apresenta uma tabela completa. Ver https://agenciaspostais.com.br/?page_id=4778 

 


Notas e Fontes

[1] Decreto 399, de 21 de Dezembro de 1844 – Coleção das Leis do Império do Brasil de 1844 – vol. 1 (p. 267, col. 1)

[2] Publicado no Diario do Rio de Janeiro, edição de 7 de agosto de 1845 e assinado pela DGC em 17 de julho do mesmo ano.

[3] Diario do Rio de Janeiro, edição de 19 de fevereiro de 1852

[4] Correio Mercantil, edição de 16 de setembro de 1861

[5] Diario do Rio de Janeiro, edição de 22 de março de 1857

[6] Correio Mercantil, edição de 5 de janeiro de 1860.

[7] Monografia “A consolidação do correio urbano na Corte: de 1860 a 1889 Por Paulo Comelli, agosto de 2006.

[8] Regulamento para o serviço dos correios do Império, aprovado pelo Decreto nº 3443 de 12/04/1865. Coleção de Leis do Império do Brasil 1865, Página 71 Vol.1 pt.II

[8A] Livro Tres Seculos e Meio da Historia Postal Brasileira de Irari de Oliveira Rosario EBCT 1993.

[9] Gazeta de Noticias, 10 de junho de 1880

[10] Imagens: PA, coleções do autor e do dr. Klerman Lopes. 

 

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PÁGINAS SEGUINTES QUE COMPLEMENTAM O CORREIO DO MUNICÍPIO


CORREIO URBANO NA REPÚBLICA

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CORREIO SUBURBANO E CORREIO RURAL

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