Mecanicos Obliteradores

No final da década de 1900 os Correios já comentavam noticias sobre máquinas de carimbar sendo utilizadas em países da Europa. O objetivo mencionado para sua aquisição era agilizar o processamento da correspondência com consequente economia de mão de obra na operação.

A primeira notícia que encontro na imprensa nos informa sobre a encomenda de quatro “machinas de carimbar cartas” à The International Postal Supply Company em Nova York (O Seculo, edição de 22 de fevereiro de 1910). A mesma fonte nos informa mais tarde que as máquinas foram inauguradas em 18 de maio “nas diversas secções dos Correios desta capital”.

Os carimbos passaram a ser conhecido por “carimbos obliteradores” visto que seu uso mais frequente era o processo manual de inutilizar o selo postal.  No entanto, como veremos em seguida na descrição dos tipos ao longo do tempo, foram utilizadas também nos registros postais sem selos, como por exemplo os carimbos de trânsito e recepção, onde o processo principal era o registro de data e local. Nestes casos, o objetivo era simplesmente a agilização do processo.

 


Para agilizar a identificação do tipo, apresento uma imagem coletiva com fragmentos. Em seguida as apresento individualmente em detalhe.

 


OS TIPOS EM DETALHE


 

Indice de Abreviaturas

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O tipo 90 foi utilizado exclusivamente pela agencia da Avenida Central que havia sido inaugurada em 17.09.1908. A agencia foi renomeada Avenida Rio Branco em 04.03.1912 mas continuou a utilizar até 1922 os mesmos carimbos, já que a legenda neutra “Avenida” assim permitia. A inauguração da máquina obliteradora ocorreu em janeiro de 1911.

A Noticia, edição de 25 de janeiro de 1911

Bilhete Postal de trânsito urbano postado em 22.03.1911 na agencia Avenida Central e endereçada ao nº153 da mesma rua.

Bilhete Postal postado em 09.08.1911 na agencia agora já renomeada Avenida Rio Branco e endereçada a Lisboa. Note-se a pressão exercida pelo obliterador da máquina que atravessou o cartão, chagando a rasgar sua ponta esquerda.

Fragmento datado de 17 de maio de 1922 já obliterando selo da série Vovó. S

Os carimbos são muito semelhante aos da máquina Hansen Krag apresentados no alto da página.

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O Tipo 91 foi utilizado exclusivamente pela 4a. Secção do Correio Central. Esta havia sido criada através do decreto de 1865, mas só tenho conhecimentos do uso de seus carimbos a partir de 1880. Note-se que o carimbo é diferente do anterior, apesar de contemporâneo.

A carta é endereçada a Bacellar, estação do município do Carmo próxima à sede desse município no vale do Paraíba. O remetente é a empresa alemã de Hamburgo “Theodor Wille & Co”, que foi uma das maiores exportadoras de café de São Paulo através do porto de Santos. Possuía sucursal no Rio desde 1855. A partir do inicio da 1ª guerra mundial houve boicote aos seus produtos e ela fechou em 1918.

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O tipo 92 foi utilizado exclusivamente pela 2a.Secção, criada, como a 4a. em 1865 e com carimbos conhecidos desde 1880. O carimbo, a exemplo dos dois anteriores, também é “de rolo” (ou seja, sem fim). Tenho dois exemplares, ambos de recepção, datados de 1921 a 1928 – a imagem a seguir é da página da 2a.S no site (CRJ 101).

São os primeiros exemplos do uso de máquinas “obliteradoras” como registros de data e local na recepção de correspondência.

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O carimbo tipo 93 foi utilizado de 1914 a 1936 por três seções do Correio Central: a 2a. (1914-1936); a 3a. (1914-1921) e 4a. (1914-1915).

2a. Secção

Obliterador com letras “I” e “C” em 7 linhas sinuosas na flâmula (1914-1931). Esse é o tipo básico em todas as três seções usuárias

Variante 1

A “Carte Postale” traz obliterador com letras “I” e “C” em 6 (seis) linhas sinuosas na flâmula (1923). Seria um defeito ou uma variante?

Variante 2

Obliterador SEM letras em 7 linhas sinuosas na flâmula (1933-1936)

3a. Secção

A imagem mostra Inteiro postado no subúrbio de Piedade e recebido na 3a.Secção. O obliterador com letras “I” e “C” em 7 linhas sinuosas na flâmula ou seja, o carimbo básico desse tipo. Tenho exemplares de 1914 a 1931.

Variante

Essa é uma variante do tipo básico, com letras “I” e “R”. Pelo que foi exposto no topo da página deveria ser um tipo diferente de correspondência ou talvez pelo transito no correio ambulante da EFCB  (carta postada em Três Rios).

 

4a. Secção

A carta abaixo é um desafio de interpretação. Foi postada na agencia Meyer em 19.11.1914. No entanto, em seu verso, há um carimbo obliterador da 4a.secção com a mesma data e hora 6-7 da manhã. Então, a que horas foi postada? De madrugada? Por outro lado, como a 4a.seção era responsável pelo correio ambulante; isso significa que a carta foi levada à central pelo trem suburbano? Ou seja, um carimbo de trânsito ambulante?

 

Na próxima peça, o bilhete postal foi postado em 16.04.1915 na 2a.Seção (carimbo indica turma noturna), recebendo também o carimbo obliterador da 4a. Secção (no horário de 6h da manhã). O horário faz sentido. A 4a.Secção era responsável pelo correio ambulante, trânsito provável pelo destino em S. Paulo. No entanto, faz sentido um carimbo obliterador? Será que o uso das letras “I” e “T” teriam algo a ver com isso?

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O Tipo 94 também circulou pela 2a. e pela 4a. Secções. Ele é do tipo rolo com datador em uma linha.  O obliterador tem 7 linhas onduladas, sem letras. Como diferenciador ele tem a legenda superior ampliada com a inclusão de DF

 

2a. Secção

Ao invés de horários, estes carimbos têm os turnos especificados no datador. Imagino que existam os três turnos, mas não os possuo completos.

Da manhã, só possuo um fragmento incompleto (sem o obliterador), datado de 1940

Da tarde, nada. Da noite, vários envelopes e fragmentos de 1936 e 1940. A carta é de 1937 endereçada a S. Paulo

4a. Secção

Da mesma forma que na 2a. seção, só os possuo nos turnos da manhã e da noite. Nessa época, a 4a. Secção era responsável pela recepção das cartas ordinárias e expressas.

Manhã: carta expressa expedida de Joinville, SC em 11.12.1947. No verso da envelope está o carimbo de recepção da 4a. Secção em 12.12 – turno da manhã – e também o carimbo de chegada na agencia de Santa Teresa no mesmo dia 12.

Noite: carta expressa expedida de Santos, S. Paulo em 28.08.1946. No verso da envelope está o carimbo de recepção da 4a. Secção do mesmo dia – turno da noite – e também o carimbo de chegada na agencia do Jardim Botânico no dia 30.

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Trata-se de um tipo praticamente universal, ou seja, que pode ser usado em qualquer município ou em qualquer agencia ou sucursal da capital. Mesmo assim, tenho registrado apenas 15 exemplares com datas entre 1933 e 1964.

Escolhi o de Copacabana por ser um dos raros que aparece por inteiro em carta.

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O tipo 96 não mantém um padrão fixo, mas tem como característica o círculo único com d=20mm e flâmula está do lado esquerdo. Possuo 10 exemplares com datas entre 1951 e 1982 e somente no município do Rio.

O exemplar mostrado abaixo é um dos raros que encontrei inteiro sobre carta. Postado com franqueador na sede do banco em 2.8.54, o obliterador é de recepção colocado no verso no dia seguinte.

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O Tipo 97 não é muito comum e portanto não considerei as variações de padrão como subtipos. Vou apresentar duas peças da Lapa como exemplos.

O envelope é uma das poucas peças a trazer o carimbo completo. Interpretar no entanto seus carimbos é, no mínimo, um exercício de exegese. Mas vou tentar.

  • O carimbo de postagem é da agencia do Ministério da Marinha em 21.08.1941. Essa agencia foi criada em 10.08.1935 (BP). O GP de 1940 nos informa que o serviço é feito pela Sucursal nº8. No entanto, essa sucursal (que é a da Praça 15) teria sido desativada, como toda a rede, por volta de 1940 (o que é uma confusão, conforme se pode ver no menu  “Correio Urbano e Sucursais na República”, não havendo menção oficial depois disso… mas existem alguns carimbos esporádicos.
  • Talvez isso explique a existência de um carimbo mecânico propagandístico da 2a. Secção do Correio Central (no verso) datado de 22 manhã. Nessa época, a 2a.S era responsável pela distribuição de correspondência domiciliaria ordinária na zona urbana (a tarifa de 200Rs é de porte urbano). Concluo que o Ministério entregou a mala na Central, mas não entendo a necessidade do carimbo da 2a.S
  • A carta foi recebida pela agencia da Lapa no mesmo dia 22, na 2a.Turma (provavelmente a da tarde), o que faz sentido cronológico, mas não explica a razão de se usar um carimbo obliterador (talvez pela mecanização?).

A segunda peça foi postada em 1979, quase 40 anos depois. É de se esperar que seja até mesmo de um diferente. Mas com a escassez de exemplos é mais aconselhável classifica-la aqui.

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O tipo 98 circulou na cidade do Rio; tenho datas entre 1964 e 1984. Possuo 6 exemplares na coleção. Escolhi o de Copacabana por estar sobre carta.

 


IMAGENS DE CARIMBOS DA COLEÇÃO

As imagens de carimbos da minha coleção, em torno de 60 exemplares, estão apresentadas e serão atualizadas nas respectivas páginas da agencia que as utilizou.

Por exemplo, a imagem “Tipo 90” abaixo está na página da Agencia Avenida Rio Branco (MRJ 146). A “Tipo 91” na 4a. Secção do Correio Central e assim por diante.

Em geral, estão apresentadas ao final dos exemplares regulares daquela agencia.

 


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