São João do Principe

MUNICÍPIOS EXTINTOS DO RIO

A Vila de São João do Príncipe (São João Marcos)

As origens

Em 1739 construiu-se uma capela curada dedicada a São João Marcos na fazenda de João Machado Pereira. Elevada à freguesia em 1755, uma comunidade se formou ao seu redor e prosperou com o início do ciclo do café no vale do Paraíba. Com o progresso do local, uma nova igreja Matriz foi inaugurada em 1801. Nesse novo local, por alvará de 21 de fevereiro de 1811, a comunidade foi elevada à vila incorporando o aposto “do Príncipe” em homenagem ao príncipe regente D. João VI, recém-chegado ao Brasil em 1808. Com o advento da república, decreto estadual nº 115 de 15 de agosto de 1890 a eleva à categoria de cidade com a primitiva denominação de São João Marcos [5]. Vale lembrar que João Marcos é o nome de batismo de São Marcos, um dos apóstolos cristãos.

Em 13 de junho de 1829 foi criada uma agencia postal “São João do Príncipe[1]. Como vimos acima, com a república a vila retornaria ao original São João Marcos em 1890 e a agencia postal acompanharia [3].

Com a expansão da cultura cafeeira, a vila possuía um florescente ambiente intelectual e era ligada ao porto de Mangaratiba por uma das primeiras rodovias pavimentadas do Brasil, construída em 1857.  As coisas começaram a mudar com a inauguração em 1864 da estação Barra do Piraí da E.F. D. Pedro II e abolição da escravatura em 1889, que tiveram forte impacto na economia da região. Ao mesmo tempo começava a decadência da cultura do café que migrava pelo vale do Paraíba na direção do oeste do estado de São Paulo.

A Igreja Matriz de São João Marcos (Wikimedia Commons)

A decadência

Nos anos 1930 a cidade já apresentava sinais de decadência, mas seu rico patrimônio histórico permitiu seu tombamento através do Decreto-Lei nº 25 de 1937 [4].

Uma grave ameaça ao município surgiu com um decreto do governo federal autorizando a desapropriação de imóveis na cidade, inclusive cancelando o decreto de tombamento anterior! [2]. O Rio de Janeiro atravessava um momento de rápido crescimento e havia necessidade de água potável e energia elétrica. A solução apresentada seria a construção da represa do Ribeirão das Lajes. Isso exigiria a inundação de uma grande área rural, ocupada por grandes fazendas. Boa parte da população foi deslocada para municípios vizinhos e a enchente começou.

Áreas alagadiças se formaram nos baixios com a consequente proliferação de epidemias de malária. Um desastre ecológico. Em 15 de dezembro 1938, o município foi extinto, a cidade demolida – a igreja dinamitada – e a área remanescente tornou-se o distrito de São João Marcos no vizinho município de Rio Claro, situação que permanece até hoje (Fonte IBGE).

Ruínas de São João Marcos (Wikimedia Commons)

A agencia postal São João Marcos permaneceu ativa até 2002 [7].

Rio Claro

A freguesia de Rio Claro foi criada por ato provincial nº 152 de 07-05-1839 e subordinada à vila De São João do Príncipe.  Elevada à vila pela lei provincial nº 481, de 19-05-1849 seu território foi desmembrado do Príncipe. Com a extinção deste em 1938, conforme falamos acima, a antiga vila foi anexada a Rio Claro formando o distrito de São João Marcos, que permanece até os dias atuais. A agencia postal “Rio Claro” é de 1855 [6].

Situação atual

Curiosamente, o nível da água acabou por ficar pouco abaixo do nível da cidade, de modo que ainda são visíveis as ruínas. A construção mais bem preservada, a Ponte Bela, em local mais afastado, pode ser visitada. Nessa localidade existiu a agência postal “Ponte Bela”, criada em 1882 e que funcionou até 1912 [7].

Ponte Bela, São João Marcos (2010, Wikimedia Commons)

Em 2008, o Instituto Light com o apoio do IPHAN e diversos órgãos estaduais iniciaram os estudos para a criação do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. Ele foi inaugurado em 9 de junho de 2011. Ver http://www.saojoaomarcos.com.br/

 

Notas e Fontes:

[1] Data ref. Nova Monteiro

[2] O decreto-lei nº 2.269, de 3 de junho de 1940 concede à Companhia de Carrís, Luz e Força do Rio de Janeiro, Limitada, direito de desapropriação de terras no Município do Rio Claro, Estado do Rio de Janeiro, suspendendo, para esse fim, os efeitos do Decreto-Lei nº 25 de 30 de novembro de 1937 (decreto de tombamento da cidade).

[3] Com a mudança oficial do nome da vila em 1896 e na falta de informações em documentos oficiais sobre renomeação da agencia, adotei a data dos carimbos sobre selo da minha coleção (embora planilhas sobre roteiros de malas se referem a São João do Príncipe até 1896).

[4] “Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.”

[5] Almanak Laemmert ano 1914.

[6] Relatório “Agencias do Rio de Janeiro no Império” de1855

[7] Boletins Postais da Diretoria dos Correios

Uma tabela completa de datas de criação e fechamento das agencias citadas está em planilha no menu Rio Claro.

© 2019 agenciaspostais.com.br Paulo Novaes, janeiro de 2019