Paracambi

paracambi-2016

MUNICÍPIO DE PARACAMBI

O antigo povoado do Ribeirão dos Macacos era, há mais de 200 anos, o caminho obrigatório para Minas e São Paulo.
Da antiga fazenda de Santa Cruz, freguesia de São Pedro , São Paulo de Ribeirão das Lajes, colonizada pelos jesuítas no fim do século XVII, prosperam os povoados de Tairetá, 7º Distrito de Vassouras, e Paracambi, 3º Distrito de Itaguaí, dos quais se formou o novo Município, em 08 de agosto de 1960 (IBGE)

AGÊNCIAS POSTAIS

 

REDE FERROVIÁRIA


FATOS, HISTÓRIAS E IMAGENS SOBRE AS AGÊNCIAS


Paracambi tem uma história marcante no estado pelos aspectos históricos, econômicos, ferroviários e industriais, assim como traz uma história familiar, como veremos adiante. Assim, vale apresentar alguns aspectos gerais antes dos detalhes sobre cada agencia postal.

Uma curiosidade deste município é o modo como foi constituído. Existiam dois distritos separados pelo Rio dos Macacos. Um pertencendo a Vassouras e outro a Itaguaí. O município foi formado em 8 de agosto de 1960 com a união dos dois distritos.

  • Do lado de Vassouras, seu 7º distrito, Belém (1892), depois Macacos (1906), novamente Belém (1909), Paracambi (1919) e finalmente Tairetá (1938).
  • Do lado de Itaguaí, seu 3º Distrito, São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lajes (1836), depois Macacos (1895) e finalmente Paracambi (1901).

Como se vê, os dois distritos compartilharam alternadamente alguns topônimos, prevalecendo Paracambi como nome do município. A sede ficou em Tairetá. O mapa atual (wikimapia) mostra a região.

A. Estação de Belem (Japeri) da EF D. Pedro II, município de Japeri, inaugurada em 1858
B. Estação de Lages no Ramal de Macacos, inaugurada em 1906
C. Estação de Macacos (Paracambi) inaugurada em 1861
D. Fabrica Brasil Industrial, hoje conhecida por “Fabrica do Conhecimento” por sediar o Polo CEDERJ Paracambi.
E. Tecelagem Santa Luzia e Fabrica de Papel

A origem

A freguesia de São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lages foi criada pela Lei Provincial Nº 77, de 29 de dezembro de 1836, constituindo-se no primeiro povoado da região que, por sua vez, era historicamente ligada à Fazenda Santa Cruz, colonizada por jesuítas em fins do século XVIII e cujo território se confundia com o do atual município. Dela não restou vestígios.

As estradas reais

Trajeto da estrada Presidente Pedreira. Mapa de 1866

Nessa época, Vassouras vivia o apogeu do ciclo do café e necessitava uma ligação mais rápida com o porto do Rio de Janeiro. Tomo aqui emprestados uma imagem e um parágrafo da matéria “Ponte do Zacharias” no menu História Postal deste site. Clique.

O governo provincial do Rio de janeiro aprovou nos anos 1840 a construção de uma estrada que facilitasse o trânsito das mercadorias da região à Corte. Ela recebeu o nome de Presidente Pedreira (*) e seu traçado partia da Pavuna, o porto fluminense na baía de Guanabara mais próximo ao Rio (traçado em azul no mapa acima), e seguia por Macacos – S. Pedro e S. Paulo no mapa. Subindo a serra, atravessava Valença e atingia Santa Isabel de onde cruzava o rio Preto até Jacutinga (Santa Rita) em Minas Gerais. A estrada conserva ainda hoje esse nome em alguns trechos e é representada pela RJ 127 neste município.

(*) Luís Pedreira do Couto Ferraz, Visconde do Bom Retiro (Rio de Janeiro, 1818-1886) foi presidente da Provincia do Rio de Janeiro de 1848 a 1853 e deu andamento às obras da estrada às quais se refere, no seu relatório presidencial de 1849, por “Estrada do Presidente”.

A Ferrovia

A EF D. Pedro II chegou a Belem em 8 de novembro de 1858, data de inauguração de sua estação. A intenção era desde logo absorver a produção do café de Vassouras que descia por Macacos através da Estrada Presidente Pedreira. No entanto, esta sofria com inundações e falta de manutenção, de modo que grande parte do tráfego comercial ainda utilizava a Estrada do Comércio por Iguassu Velha (canto inferior direito no mapa). A decisão foi construir logo um ramal ferroviário até Macacos que receberia o tráfego da estrada até que se concluísse o traçado da linha tronco pela serra até Vassouras (o que aconteceu em 1865). Os traçados da linha estão em preto no mapa.

O Ramal dos Macacos saía da estação Bifurcação (depois Guedes da Costa), um pouco adiante da estação Belem, passava por Lages (cuja estação foi construída mais tarde, como veremos adiante) terminando na estação de Macacos (atual Paracambi). Inaugurado em 1861, acelerou o deslocamento do centro economico da antiga freguesia de S. Pedro para Macacos. O ramal funciona até hoje, operado pela SuperVia.

Os trabalhos continuaram no trecho da serra e a estação seguinte, Rodeio, foi inaugurada em 1863. Esse local, futura sede do município Engº Paulo de Frontin, era também tradicional ponto de passagem de rebanhos com destino ao Rio. Aí se realizavam rodeios, origem do nome.

O distrito de Macacos

Mais um fato relevante aconteceu nos anos 1870, quando empresários ingleses escolheram Macacos para a instalação de uma fábrica de tecidos de algodão que recebeu o nome de Cia. Têxtil Fábrica Brasil Industrial e foi inaugurada em 1876, atraindo um grande fluxo de operários e suas famílias para o local (ver mais detalhes adiante ERJ – 892).

O reflexo político não tardou. A sede do distrito, antes em S. Pedro, foi movida para Macacos, adotando esse nome em 06/12/1895 e renomeada Paracambi em 19/12/1901 (IBGE). O movimento de transferência política pode ser acompanhado pelos mapas da época. Ver nota [1] ao pé da página.


Após essa introdução histórica sobre as origens do município, passo a apresentar suas agencias postais:


A sede do município – Local 1 no mapa

A primeira agencia postal do município foi criada em 1861 – poucas semanas depois da inauguração da estação, sendo instalada no mesmo prédio. Em 1903, acompanhado a estação, foi renomeada Paracambi – nome que o distrito recebera já em 1901 [2]. A agencia permanece ativa.

ERJ 882 – Macacos (1861-1903)
ERJ 883 – Paracambi (1903 – )


Estações na linha-tronco da EF D. Pedro II no município

 Ver a sequência das estações na tabela ferroviária ao alto da página. Construído nos anos 1860, esse trecho da EFCB cortava Paracambi e iniciava a subida da serra. Dá para ver no mapa as estações Oriente (depois Mario Belo), Serra (depois Engenheiro Gurgel) e Scheid. Aqui só mencionei as estações em território de Paracambi que tiveram agencias postais.

As três foram nomeadas em homenagem a técnicos ou engenheiros ferroviários.

ERJ 884 – Oriente (1878-1914) – Local 2 no mapa

ERJ 885 – Serra (1879-1963) – Local 3 no mapa

ERJ 891 – Scheid (1895-1910) – Local 7 no mapa


Lages – Local 6 no mapa


Atravessada pelo ramal de Macacos, sua estação foi construída em 1906 e a agencia poucos meses depois em 1907 [3]. Algumas fontes dizem que esta estação foi construída com ajuda da Light para permitir acesso ao ramal da empresa. Ver a seguir.

ERJ 888 – Lages (1907-1917)
ERJ 889 – Ribeirão das Lages (1917-1963)
ERJ 890 – ACF Lages (1999-2012)
ERJ 890A – AGF Bezerra de Menezes (2012)

 

A Estrada de Ferro Fontes e a Usina Fontes Velha

A Estrada de Ferro Fontes é também conhecida por Estrada de Ferro Light por ter sido construída por essa empresa. A ferrovia foi criada para auxiliar na construção da Usina Fontes Velha e de outras obras do complexo de Lages no município de Piraí. Partindo da estação Lages a ferrovia foi construída em 1907 e erradicada nos anos 1950.

No trajeto, passa pela localidade de Ponte Coberta, onde a linha atravessa em nível a antiga Rodovia Rio-São Paulo, entrando no município de Piraí. A localidade de Ponte Coberta teve uma agência postal a partir de 1925 que funcionou até meado dos anos 1960. O leito do ramal da Light ainda existe como uma estrada de terra com o nome de Eduardo Pereira Dias. Não possuo imagem.

ERJ 886 – Ponte Coberta – Local 4 no mapa

 


Companhia Têxtil Brasil Industrial


Fábrica de tecidos de algodão da antiga Cia Têxtil Brasil Industrial inaugurada em 1876 e que foi a primeira grande fábrica de tecidos de algodão do Brasil e a mais importante do Império, segundo Keller [4]. Ela atraiu outras empresas a se instalar na cidade, entre as quais a Santa Luiza sobre a qual falarei a seguir.

 

Seu porte e influência no local justificaram a instalação de uma agencia postal no local em 1903. Após quase um século, em 1984 a fábrica fechou as portas. Em 1985 foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Comprada pela prefeitura em 2001, foi então transformada na Fábrica do Conhecimento, ou universidade municipal para usar uma expressão dos moradores da cidade.

ERJ 892 – Fabrica Brazil Industrial (1903-1934)

***

Companhia Tecelagem Santa Luiza [4]

Cascata, Paracambi, 1891 (o edificio é datado 1893)

A Santa Luiza foi instalada no bairro da Cascata da então Freguesia de São Pedro e São Paulo do município de Itaguahy. Seus estatutos foram assinados em 2 de outubro de 1891 por Dominique Lével [5]. Curiosamente, ele era também o diretor-presidente da Cia. Brazil Industrial, o que sugere a participação dos mesmos acionistas em ambas as empresas.

Em 1912 a empresa, então controlada pela CNTJ – Cia. Nacional de Tecidos de Juta propriedade de Jorge Street, o maior produtor de juta do país, foi arrendada por dez anos à Cabral Belchior & Cia, que montou no local a Fábrica de Papel Paracamby mas faliu em 1914. A CNTJ voltou a arrendá-la em 1915 à Cia. Industrial Itacolomy, então proprietária da fábrica de papel de mesmo nome no vizinho município de Mendes (*). Em abril de 1923, a CNTJ vendeu as instalações e no local foi instalada no ano seguinte a Fábrica de Tecidos Maria Cândida, com novos acionistas.

(*) A razão de me estender nesse assunto é que ele remete a uma história familiar: Meu avô Henri Ruchaud, engenheiro francês, foi contratado como Diretor Técnico para montar essa fábrica de papel em Cascata, Paracambi. Ver a história na nota [6] abaixo.


Notas e Informações

[1] Achei oportuno mostrar, com a ajuda de mapas da época, a transformação política ao longo do tempo de S. Pedro e S. Paulo x Macacos causada pelos fatos apresentados nos tópicos antecedentes.

  1. Mapa de 1866. Nota-se que S. Pedro e S. Paulo tem o mesmo destaque gráfico que Mendes e domina a região. A estação de Belém já aparece, mas com destaque menor.
  2. Mapa de 1892. Macacos já aparece com o mesmo destaque que S. Pedro e Mendes.
  3. Mapa de 1922. Paracamby, Mendes e Belem com destaque igual. S. Pedro figura com destaque menor.
  4. Mapa de 1953, um pouco anterior à independência do município. Mendes assume protagonismo, por já ser sede de município. Japeri (ex-Belém), Paracambi e Tairetá com igual destaque, enquanto S. Pedro não é mais registrada.

Fig.1

 

 

 

 

 

 

Fig.2

 

 

 

 

 

 

 

Fig.3

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig.4

 

 

 

 

 

 

 

 

 


[2] A mudança de nomes da agencia da sede em 1903 tem uma apresentação confusa no Boletim Postal, documento que normalmente priorizo em situações de conflito. Não é o caso aqui. Transcrevo:

  • em setembro o BP publica a “criação de agencia Paracamby no estado do RJ em 19 de setembro”;
  • na edição de novembro diz o BP “passa a denominar-se ‘Macacos’ a agencia de ‘Paracamby’ no estado do RJ em 26 de novembro”.

Na minha opinião, estão ambas equivocadas. Como seria possível criar uma segunda agencia (Paracamby) quando no local já havia a de Macacos desde 1861? Pior ainda, como renomeá-la ‘Macacos’ dois meses depois? A conclusão lógica a que cheguei após analisar os dados:

  • A primeira nota refere-se na verdade à criação de uma nova agencia na Fábrica Brazil Industrial que na época empregava milhares de funcionários. A prova está em nota na edição DOU 15.10.1903 nomeando um agente pouco dias depois: “por titulo de 10 do corrente foi nomeado Antonio Fernandes Maciel para o logar de agente do Correio ‘Fabrica Brazil Industrial’ em Paracamby, estado do Rio de Janeiro”.
  • A nota está invertida e deveria ser “passa a denominar-se Paracamby a agencia de Macacos no estado do Rio de Janeiro”, como aliás está corretamente publicado na edição de 28.11 do DOU “por portaria de 26 do corrente foi mandado que de ora em deante passe a denominar-se Paracamby a agencia de Macacos no Estado do rio de Janeiro”.

[3] No site estacoesferroviarias.com.br Ralph Giesbrecht menciona Lages como “uma das mais antigas do Brasil, inaugurada em 1858, com o nome de Nicanor Pereira”. Não consegui encontrar informações que confirmem esse fato, outras fontes dizem que a estação foi construída pela Light em 1907, de modo a fazer a conexão com a EF Fontes, ferrovia que a mesma empresa construiu para transportar materiais e pessoal para as importantes obras de represas e usinas hidroelétricas em construção mais ao sul. Essa segunda versão me parece fazer mais sentido.


[4] Informações baseadas no excelente trabalho “Cultura do Trabalho Fabril” por Paulo Keller, edição EDUFMA (2019), lastreado em pesquisas sobre as duas fábricas de tecido em Paracambi.


[5] Dominique Lével foi o primeiro diretor-presidente da Cia Brazil Industrial (entre 1889 e 1917). Durante seu comando, que marcou uma época, implantou diversos benefícios aos funcionários que compreendiam moradia, capela, clube e farmácia. Faleceu em 1917. É provável que, sendo também de origem francesa, tenha sido o intermediário na contratação do meu avô.

 

 


[6] Meu avô materno, Henry Pierre Léonard Ruchaud, era engenheiro especializado em fabricação de papel – um negócio tradicional da família na região de Limoges, França, cidade famosa pela sua porcelana. Em 1912 veio para o Brasil trabalhar na fábrica de papel da Cia. Melhoramentos de S. Paulo na localidade de Caieiras no ABC paulista. Lá, conheceu minha avó, Laura Dalle Nogare, imigrante italiana da região do Veneto que também trabalhava na fábrica.

Em 1914 foi contratado para montar a fábrica de papel de Cascata, cuja história narrei acima. Logo pediu a mão de Laura e convidou a família dela para o casamento em Paracamby. A cerimônia ocorreu em 9 de janeiro de 1915, às 15 horas, em sua casa na povoação de Cascata, oficializada pelo Juiz de Paz do 3º distrito do município de Itaguahy.

A edição de 10 de abril de 1915 a revista Fon-Fon trouxe uma reportagem fotográfica sobre Laura, “esposa de Mr. Ruchaud, diretor da fabrica de papel”. Numa das fotos, ela aparece ao lado da cachoeira de Cascata, marco da localidade (imagens abaixo).

Ele deve ter deixado a empresa ainda em 1915, mas deve ter tido contato com o pessoal da Itacolomy pois alguns anos depois, por volta de 1920, ele foi contratado pela fábrica de papel Itacolomy em Mendes, onde em 1921 nasceu minha mãe. Essa história está contada na página do município de Mendes, na agencia postal que funcionava na estação de Tunel Grande que servia à fábrica (ERJ 665A). (a pesquisa genealógica é de meu irmão Dermeval Novaes de Oliveira Fº).

E.T. meu avô também era filatelista; dele, ainda guardo um catálogo Ariró de 1953.


© 2011-2021 agenciaspostais.com.br (setembro de 2021)

Um comentário em “Paracambi

  1. Parabéns, Paulo pelo site, em que conta um pouco da história fabulosa de nossa família! Ficou bem completo!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *