Carimbologia

AGÊNCIAS POSTAIS, CARIMBOLOGIA E HISTÓRIA POSTAL

“Se os sêlos constituem o corpo, os carimbos são a alma das coleções”
Mário de Sanctis, filatelista

 

CARIMBOLOGIA (ou MARCOFILIA)

As primeiras coleções de história postal foram formadas no começo do século XX quando estudiosos começaram a manifestar interesse em carimbos e marcas postais, cunhando o termo marcofilia. O estudo dos carimbos se desenvolveu como um ramo paralelo da filatelia mas com o tempo seu foco se expandiu para muito além do selo postal, tanto temporalmente, estudando períodos anteriores ao uso do selo, quanto ampliando seu foco para temas correlatos como rotas postais, taxas, estrutura organizacional, características politico-geográficas e meios logísticos tais como marítimos, aéreos ou ferroviários.

A imagem acima traz uma série de informações que me permitem comentar vários aspectos da carimbologia:

  • O carimbo principal foi impresso por uma máquina franqueadora com mensagem personalizada que nos informa o local (sede do banco no Rio de Janeiro) e a data de postagem (17.IX.1958) além do valor da franquia (Cr$ 20,30).
  •  Um carimbo obliterador manual do guichê da agencia da Av. Rio Branco nos informa a postagem aérea e registrada da missiva, com a marca postal “Registrada sob o nº 94441”.
  • Nesse caso, o uso da máquina franqueadora prescinde do uso de selo postal, bem como do respectivo carimbo obliterador ad hoc.

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Um pouco de história

Ainda no Brasil colônia, bem antes do selo postal, carimbos já eram utilizados para marcar a correspondência, sendo conhecidos como pré-filatélicos. Destes, os mais representativos são os “grafados” (nome do local ou da agência), com ou sem cercaduras e geralmente não datados. Eles podem ser vistos na página a eles dedicada.

CARIMBOS DO IMPÉRIO

Essa situação alterou-se com o Decreto 255 de 29 de novembro de 1842, que, entre outras importantes medidas, instituiu o porte pré-pago e introduziu os selos postais. Como decorrência, surgem os carimbos mudos e os diversos tipos de carimbos circulares.

Os primeiros carimbos com datador apareceram pouco antes da era filatélica e foram também utilizados nos selos postais pioneiros, os famosos Olhos-de-Boi, a partir de agosto de 1843, e traziam na legenda principal “Correio Geral da Corte“. Esses tipos podem ser vistos diretamente na pagina https://agenciaspostais.com.br/?page_id=14591

Estes foram utilizados até 1865, quando foi sancionado o Decreto 3.443 em 12 de abril. Entre outras coisas, esse novo regulamento extinguia o cargo de Administração dos Correios da Corte que foi acumulado pelo D.G. dos Correios. Como decorrência, a legenda dos carimbos passou a ser “Rio de Janeiro” utilizados pela recém-criada agência “Primeiro de Março”. Cataloguei diversos tipos, que podem ser vistos diretamente na pagina https://agenciaspostais.com.br/?page_id=11558

Os mais conhecidos dessa época são os do tipo “carimbo francês”, considerado o primeiro de expressão nacional, sendo utilizado em mais de 300 agências no território nacional.

A agência postal Primeiro de Março seria reorganizada a partir de 1881 em 4 “Secções”, já previstas no decreto de 1865. A partir daí, os carimbos passaram a trazer a seção devidamente identificada nas legendas até o final do Império. Eles podem ser vistos na página https://agenciaspostais.com.br/?page_id=11505

Para ajudar os que se dedicam aos carimbos do Império, veja no menu Império uma tabela-resumo com os tipos circulados até 1889.

CARIMBOS REPUBLICANOS

Muitos dos carimbos iniciais do período republicano continuam utilizando tipos do final do império durante as primeiras décadas da república. O único diferenciador entre eles é a própria data de circulação.

Tipicamente circulares, esses carimbos trazem informações sobre o local e a data de postagem. Assim, é possível sua catalogação por municípios, cidades, vilas e agências postais. No entanto, a grande ampliação da malha postal no século XX e a consequente proliferação de agências tornou necessária uma especialização, a bem da qualidade. Assim, decidi focar este trabalho no Estado do Rio de Janeiro (o estado do Espirito Santo, acrescentado posteriormente, utiliza basicamente os mesmos tipos).

Quase tudo que tratei até aqui refere-se aos carimbos manuais obliteradores utilizados para inutilizar o selo e informar a data e o local de postagem. Carimbos mecânicos e franqueadores automáticos serão descritos na sequência.

AGENCIAS POSTAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Falar em carimbos implica pesquisar a sua origem, ou seja, as agencias postais. São elas que os utilizaram para obliterar a correspondência por elas franqueadas com o selo postal. Se o selo indica o valor do porte, o carimbo acrescenta várias outras informações, como o local e a data de postagem, o tipo de porte, o meio logístico e até o horário da distribuição. Conhecer a história da agencia, o local e o período onde ela funcionou é o primeiro passo para um trabalho de catalogação consistente.

O mapeamento das agencias postais, que existem ou existiram em algum momento no Município e no Estado do Rio, resultou em mais de 2500 agências listadas entre a capital e o interior. Cada uma delas, naturalmente, utilizou dezenas de carimbos diferentes ao longo de sua existência.

Um capítulo especial foi dedicado ao Correio Central da cidade do Rio de Janeiro, com seus carimbos utilizando com as legendas “Rio de Janeiro” ou “Capital Federal”. Compreende também os correios ferroviário e aéreo.

As imagens dos carimbos, a maioria de minha coleção além de outras cedidas por colegas, serão apresentadas por município, por bairro e por agencia. Isso de certa forma complica a busca, que procurei facilitar com uma listagem alfabética abrangente que pode ser acessada no menu Busca e Índice Geral.

INTRODUÇÃO À CLASSIFICAÇÃO DE CARIMBOS

Se o primeiro passo é a catalogação das agências, o segundo é sua classificação pelo tipo do carimbo. Assim, torna-se necessário um estudo de carimbologia que mapeie e classifique os tipos de carimbos utilizados, considerando dimensões, formato, layout, tipografia, legendas, tipo de datador, etc. É disso que trata este capítulo.

Já comentei sobre os pré-filatélicos. Quanto aos mudos, trata-se de um antigo desdobramento do carimbo entre as funções obliteração – feita pelo carimbo mudo – e datação, feita por um carimbo geralmente circular separado. Sobre esses, há também várias obras que os estudaram em profundidade, entre as quais recomendo os trabalhos dos filatelistas Paulo Ayres e Klerman Lopes.

Os dois principais ramos da carimbologia depende modo de aplicação: processo manual no primeiro caso, e equipamento mecânico no segundo. Abaixo apresento os links para cada um deles:

 


© 2012-2020 www.agenciaspostais.com.br (Paulo Novaes, autor e editor – agosto de 2020 )

7 pensou em “Carimbologia

  1. Paulo
    Dei uma olhada no texto todo. Parabéns, foi um grande avanço no esforço de classificação e proposta de tipos.
    Abraço
    Victor Petrucci

  2. Prezado Sr Paulo Novaes,

    Conheci seu trabalho através do projeto “SPP Conecta”. Gostaria de externar minha sinceras congratulações e profunda admiração. Seus esforços agregam imenso valor à filatelia brasileira. Parabéns! Também adianto que seus estudos tem sido de grande utilidade para a estruturação e o desenvolvimento da coleção que estou desenvolvendo (“História Postal do Vale do Paraíba Fluminense: dos pré-filatélicos à década de 1930”). Nesse sentido lhe sou muito grato.
    Mais uma vez parabéns por seus esforços e dedicação.
    Cordialmente

    Luciano Cabral

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