Cidade Nova

O nome Cidade Nova dado ao bairro nos leva a imaginar algo mais recente, mas desde o século XIX ele denominou uma vasta região semirrural e alagadiça “para além do Campo de Santana” (atual Praça da República) até os limites do Palácio Imperial na Quinta da Boa Vista em São Cristóvão. Olhando com atenção, dá para ler no mapa de 1910, em duas linhas paralelas ao canal, a denominação “CIDADE NOVA”, grafada a partir da Praça da Republica.

Neste trabalho as agências são classificadas no bairro em cujos limites elas se situariam atualmente. Aqui vou abrir uma pequena exceção ao considerar os limites antigos – como no mapa – que incluem algumas ruas do Centro entre o Campo de Santana e a rua Marquês de Sapucaí. Com o objetivo é apresentá-las dentro de um mesmo panorama histórico.

 

Cidade Nova, século XIX

No local da atual Avenida do Mangue existia o Saco de São Diogo, o que permitia a navegação quase até o local onde hoje está a sede da Prefeitura. Planos de urbanização dessa área com “integração à cidade” existiram desde longa data, mas, enquanto isso, o casario popular antigo entrou em decadência, transformando-se, na virada do século XX, em uma zona de baixo meretrício – conhecida por “zona do mangue”. Importantes intervenções viriam alterar a situação, com a construção da avenida Presidente Vargas e, mais tarde, da Marquês de Sapucaí, dos túneis Santa Bárbara e Rebouças e das vias expressas 31 de Março e Paulo de Frontin, bem como a implantação do Metrô. Nos anos 70 a sede da Prefeitura foi transferida para o local e, mais recentemente, o processo se intensificou com a construção do edifício sede dos Correios,  de modernos prédios comerciais e até um novo Centro de Convenções inaugurado em 2007, tornando finalmente o termo Cidade Nova  uma realidade. Do ponto de vista postal a Cidade Nova tem uma rica história, com várias agências do tempo do Império. As mais antigas estão marcadas no mapa do alto da página. Detalhes na planilha abaixo.

A Praça Onze de Junho localizava-se até o final dos anos 30 entre as ruas Marquês de Pombal e rua de Santana. Um dos pontos históricos do samba, onde desfilavam os ranchos de Carnaval no início do século, ela foi arrasada com a passagem da av. Presidente Vargas, construída entre 1941 e 1945. Hoje denomina uma pequena área do canteiro central da avenida, aproximadamente no mesmo local onde está o monumento a Zumbi. Junto com a praça, outros logradouros que possuíram agências desde o império tiveram o mesmo destino. É o caso da Rua Nova do Sabão (renomeada Visconde de Itaúna), da estação de São Diogo e da rua Senador Eusébio, todas engolidas pela avenida. Uma agência “Praça Onze” existiu no Império por um breve período; na Republica outra agência homônima existiu de 1902 a 1936.

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Quadro de agencias da Cidade Nova

 

 


As Agencias Urbanas e Sucursais

O tema está explorado em detalhes no menu “Correio Urbano“.

O Decreto Imperial de 1865 abordou a regulamentação do Serviço de Correio Urbano na cidade do Rio de Janeiro. Assim, entre 1868 e 1877 foi implantada uma rede de 25 agencias identificadas por letras de A a Z. O bairro recebeu duas agencias, “M” e “S”.

MRJ 260 – Agencia Urbana “M” – Rua do Sabão foi criada em 2 de agosto de 1869 no nº 78 dessa rua. Em 1873 essa rua foi renomeada Visconde de Itaúna onde ela se instalou no nº 82.

MRJ 261 – Agencia Urbana “M” – Rua Visconde de Itauna

Destas não possuo imagens (nem mesmo PA a reproduz), mas para registrar sua criação reproduzo o layout básico onde o “M” se encaixaria ao centro.

MRJ 262 – Agencia Urbana “S” – Rua do Conde d’Eu foi criada em 20 de junho de 1871, no nº115 daquela rua e recebeu letra “S”.

Foi restabelecida na Republica em 1895 como Rua Frei Caneca, o novo nome daquela rua na era republicana (ver MRJ 273).

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Há no Almanaque Laemmert um quadro que lista “Agencias e Casas onde se vendem selos”. Duas delas estavam na Cidade Nova e decidi listá-las, embora não seja certo que chegaram a ser instaladas, pois imagens não são conhecidas. Mas trata-se de logradouros que terão agencias no futuro, inclusive uma sucursal. Os locais estão marcados no mapa no topo da página, que pode ser ampliado ao toque.

MRJ 263 – Rua Senador Eusébio (1881-1882)

MRJ 264 – Praça Onze de Junho (1881-1882)

Já na República, uma nova agencia postal Praça Onze de Junho foi criada no local da anterior. Em 1932 ela foi transferida para a Praça Municipal mas, como diz a matéria do DOU mais adiante, “somente como coletoria”. Esse movimento foi um corolário da transferência da Sucursal nº 6 que fez o movimento oposto na mesma data.

MRJ 268 – Praça Onze de Junho (1902-1932)

 

A sucursal

Para entender a estrutura geral das sucursais, recomendo a leitura da matéria “História das Sucursais do DF“.

Através da Portaria 33 do Diretor Geral dos Correios de 27 de janeiro1901, decidiu-se pela implantação de uma rede de seis sucursais cujo projeto original datava de 1896 e havia sido suspenso. Esse numero seria ampliado para quinze até os anos 1930. A implantação começou no ano seguinte, sendo a de nº 6 implantada na Praça Municipal no bairro da Saúde em 5 de outubro de 1902.

Movimento raro entre as sucursais, esta foi transferida em 30 de junho de 1932 da Praça Municipal para a Praça Onze de Junho na Cidade Nova, como se lê na imagem acima (fonte: DOU).  Porem logo em seguida, em meados de 1933, ela foi renomeada Cidade Nova – Sucursal nº6 (DOU).

É curioso que o processo de transferência não tenha sido planejado já com o novo nome. Na coleção tenho um raro carimbo “Sucursal Praça Onze de Junho” datado 3 de outubro de 1932, que comprova que a Sucursal  de fato se chamou assim por algum tempo (MRJ 269).

MRJ 269 – Sucursal nº6 Praça Onze de Junho (1932-1933)

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Também são escassos os carimbos da sucursal Cidade Nova de vida breve. Como curiosidade, acrescento uma carta proveniente de Cuba postada em 2/6/1967 e que foi recebida na 4a. Seção do Correio Central e em 4/6 e encaminhada (depois de 11 dias) para a sucursal. Os dois carimbos de recepção são estranhos: a sucursal estava fechada há mais de 20 anos. A história merece uma explicação melhor (talvez falso?).

MRJ 270 – Sucursal nº6 Cidade Nova (1933-1940)

 

Como acontece com as sucursais, os BP não registram sua desativação. Neste caso, encontrei uma nota no DOU informando funcionários trabalhando até 31.12.1939.  Isso não é dado formal, mas eu decidi adotar essa data para todas as sucursais. apesar disso,  carimbos continuam a ser utilizados por mais algum tempo, talvez pelo “departamento APT anexo”. Neste caso, tenho exemplares até 1944 (sem considerar o 1967 que comentei no início).

De qualquer modo, acaba por fazer sentido, uma vez que o primeiro registro que possuo na sucessora agencia regular AP Cidade Nova só me aparecem em 1946.

MRJ 271 – AP Cidade Nova (1940-2018)


Outras agencias próprias dos Correios


A estação de São Diogo foi inaugurada pela EFDPII em 1858 num curto ramal que saía da linha principal próximo à Central. Estação de serviço e cargas possuía também oficinas de manutenção e rotunda para girar as locomotivas (a imagem é de 1881 segundo o site estacoesferroviarias.com.br). No mapa ao alto da página está indicada com o nº 272.

O anúncio publicado pela EFDPII no J.Commercio em 18.08.1888 nos informa que a estação será aberta ao público. Isso explica a inclusão da estação nos roteiros de malas do Almanak Laemmert de 1889.

MRJ 272 –  Estação de São Diogo (1889-ND)

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A rua Frei Caneca foi um dos primeiros logradouros abertos na Cidade Nova, durante o vice-reinado do Conde da Cunha (1763-1767), D. António Álvares da Cunha. Foi traçada entre o largo do Rocio e o Campo de Santana. Inicialmente, recebeu em 1766 o nome  rua Nova do Conde e renomeada em 1866 rua do Conde D’Eu. Seu nome atual, que recebeu em 1890, homenageia o líder dos movimentos republicanos em Pernambuco entre 1817 e 1824.

MRJ 273 – Rua Frei Caneca (1895-1932)

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Na gestão do Prefeito Pereira Passos (1902-1906) houve a primeira iniciativa de habitação popular conduzida pelo poder público – no caso, a Prefeitura. No bojo de sua administração reformista, o prefeito Pereira Passos construiu duas vilas operárias: uma na Cidade Nova e outra no Catete. A Villa Salvador de Sá foi construída na recém aberta rua homônima, num total de 105 casas. O conjunto está hoje em adiantado estado de deterioração apesar de (ou talvez devido a) ser um conjunto tombado. Veja imagem do Google Maps (2018):

As vilas populares no Rio foram objeto de estudo neste site que pode ser visto na página abaixo:

Agencias Postais em Vilas Populares

MRJ 274 – Av. Salvador de Sá (1909-1936)

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Em 6 de março de 1980 é inaugurado na Cidade Nova o novo edifício-sede da DR da EBCT que, seguindo a política de modernização da empresa, engloba também um moderno centro de triagem.

Além de sede de vários centros de triagem e distribuição (listados na página de Unidades Operacionais) abrigou também várias agencias postais listadas abaixo:

MRJ 275 – AC Presidente Vargas (1980 –  )

MRJ 276 – AC Afonso Cavalcanti (1998-2020)

MRJ 277 – AC Vendas a Distancia (2002 –  )

MRJ 277A – Correio Eletrônico (1985-1992)


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