Realengo

Localização das Agências Postais do Município do Rio de Janeiro

Do final do século XIX até os anos 1970 várias instituições militares, entre fábricas de armamento e escolas militares foram sediadas em Realengo e nos bairros vizinhos de modo que achei que seriam melhor apresentados em conjunto.

Suas histórias e sua agencias postais seguem em sequencia.

 

 


REALENGO


Reguengo ou realengo (do latim tardio regalengu) era a qualificação jurisdicional que possuíam os lugares dependentes diretamente da autoridade do rei, ou seja, terras cujo senhor era o próprio rei. O nome original do local era Distrito Realengo do Campo Grande, por estar subordinado à Freguesia do Campo Grande. O local possuía grande importância político-militar pois desde 1859 lá passaram a ser instaladas várias unidades militares.

Com a construção do Ramal de Mangaratiba da EFDP2º em 1878, o local foi contemplado com uma das três estações do seu trecho inicial sendo as outras duas em Campo Grande e Santa Cruz.

Tradicional ponto de parada da antiga Estrada Imperial de Santa Cruz, teve sua agencia postal criada em 1872 como consta no Relatorio de Agencias do Imperio publicado em 1885.

Há uma versão popular da origem do nome, mais divertida, diz que o bonde para a região tinha placa “REAL ENGº.” abreviatura de real engenho (vale dizer que não existiu tal bonde – até porque nunca houve um engenho em Realengo).

 

As instalações militares

As primeiras atividades militares datam de 1852 quando terrenos no bairro foram usados para testes de armamentos. Com o sucesso, terreno foi cedido ao Ministério do Exército que iniciou a construção de instalações militares que resultaram na inauguração da Fábrica de Cartuchos do Realengo, que operou no local entre os anos de 1898 e 1977 [1].

No complexo, foi instalada também  Escola de Tática e Tiro do Exército, que acabou sediar em 1913 a Escola Militar, antes na Praia Vermelha, e que aí funcionou até a inauguração em 1944 da Academia Militar das Agulhas Negras em Resende.

Em 1970, com a criação da IMBEL (Industria de Material Bélico), várias unidades foram desativadas, inclusive a de Realengo. A área foi abandonada (imagem da usina da fábrica acima) e somente décadas mais tarde foi parcialmente recuperada com a instalação de unidades de ensino. Uma beleza.

Vale lembrar também a letra de Gilberto Gil (que ficou detido por alguns meses nas instalações militares) em “Aquele Abraço”: alô, alô, Realengo, aquele abraço…

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Carimbos do bairro de Realengo

MRJ 505 – Realengo (1872 –   )

O primeiro carimbo conhecido está registrado no trabalho de Paulo Ayres sobre emissão de 1866 (a primeira D. Pedro). PA no entanto não registra o carimbo da estação (inaugurada em 1878) do qual tenho exemplar (do acervo Fuad) sobre emissão de 1878. Aparentemente, a estação foi realocada para a estação.

É estranho que o GP de 1880 não registre nem Realengo nem sua estação como agencias, já que o Relatório de 1885 a registre (como estação) em 1872.

 

 


DEODORO


O Google Maps acima permite ver com mais detalhe a área entre Deodoro, Vila Militar e Magalhães Bastos onde se localizam várias unidades militares. Dá para ver que são quatro estações ferroviárias em sequência (na verdade são cinco, pois a próxima à esquerda é Realengo, que não incluí para manter o detalhe central.

Um pouco de história

Em 1612 Gaspar da Costa fundou o engenho Sapopemba que produzia açúcar e rapadura. A cana-de-açúcar necessária para a produção era fornecida pela fazenda Gericinó nas proximidades

Atravessado pela Estrada de Ferro Central do Brasil o bairro possui uma das maiores estações de trens do subúrbio, onde se pode baldear tanto para a linha que sai para Santa Cruz quanto para a linha que segue para Japeri. A estação foi inaugurada em 8 de março de 1859 com o nome de Sapopemba passando na república a se chamar Deodoro em homenagem ao Marechal.

No século XIX, as terras do bairro foram adquiridas pelo barão de Mauá. Em seguida, as terras foram passadas sucessivamente para o Conde de Sebastião de Pinho que, endividado, leiloou-as sendo arrematadas pelo Banco do Brasil e, finalmente, adquiridas para o Ministério da Guerra. A partir do início do século XX, o bairro passou a abrigar grande número de instalações militares.

Jogos Olímpicos

Em 2016 parte importante das instalações para os Jogos Olímpicos do Rio foram construídas nessa área (como se vê na imagem de Gabriel Heusi). Outra parte das instalações, conhecida por Parque Radical, está na vizinha Vila Militar.

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O bairro nasceu em volta da estação de Sapopemba da EF Dom Pedro II, inaugurada em 8 de março de 1859. A agência postal é dessa época, sendo criada em 1865. Em homenagem ao Marechal Deodoro a estação foi renomeada Deodoro em 1910, no que foi acompanhada pela agência.

MRJ 506 – Sapopemba (1865-1910)

 

MRJ 506A – Deodoro (1910-1985)

 


VILA MILITAR


No início do século XX, os batalhões e regimentos da cidade se concentravam próximos ao Centro, em São Cristóvão, no Campo de Santana, no antigo Arsenal de Guerra (atual Museu Histórico), na Fortaleza de São João e na Praia Vermelha. O Marechal Hermes da Fonseca resolveu então transferir os seis batalhões do primeiro e segundo Regimentos de Infantaria para uma nova vila militar na zona suburbana, que pudesse se interligar com as unidades de Realengo. As obras terminaram 1910 e a Vila Militar foi inaugurada em 1912.  A partir de 1915, novos quartéis e residências para militares foram construídos ao longo da avenida Duque de Caxias, formando, ao longo do tempo, o maior aquartelamento do Brasil e a maior concentração militar da América Latina, com mais de 60.000 homens. No ramal de Santa Cruz foi inaugurada a estação Vila Militar, em 18 de agosto de 1910, com seu belo prédio em estilo inglês, semelhante ao da Estação de Marechal Hermes (portal GeoRio).

Uma agência Vila Militar funcionou de 1914 a 1918 (BP) e nessa data transferida para uma agencia regular no centro do Rio.

MRJ 507 – Vila Militar (1914-1918) não tenho imagens

A próxima agencia, com o título de Quartel General, seria instalada em 24/08/1941 ‘no edifício do QG de comando da guarnição da Vila Militar’ conforme nos informa nota publicada em O Jornal (nesse período, não tinhamos o BP). No entanto, em junho de 1943 o QG foi transferido para o novo prédio do Ministério do Exercito na praça Duque de Caxias. Com isso, como ainda não temos BP, assumi que a agencia tenha se mudado junto, ver MRJ 203A Quartel General no Ministerio da Guerra no centro. Por outro lado, uma nova agencia Vila Militar foi criada por volta de 1942, a 507B.

MRJ 507A – APT Quartel General (1941-1943) não tenho imagens

MRJ 507B – AC Vila Militar (1942-2011)

 

 


CAMPO DOS AFONSOS


Foi no Campo dos Afonsos que, em outubro de 1911, começou a funcionar a primeira organização aeronáutica do Brasil, o Aeroclube Brasileiro. Fundado por um grupo de idealistas e entusiastas da aviação, o aeroclube tinha como presidente honorário Alberto Santos Dumont e um dos sócios era o tenente Ricardo Kirk, o primeiro oficial do Exército e o segundo militar brasileiro a obter um brevê de piloto de aviões.

Pouco tempo depois, em 2 de fevereiro de 1914, passou a sediar também a Escola Brasileira de Aviação – EBA, iniciativa de um grupo de aviadores italianos e resultado de um acordo firmado entre estes e o então Ministério da Guerra.

Lá fica o Museu Aeroespacial da FAB inaugurado em 18 de outubro de 1976, com o objetivo de preservação e divulgação do material aeronáutico e documentos históricos para as futuras gerações.

MRJ 508 – Campos dos Afonsos (1956 –  )

 


MARECHAL HERMES


O bairro de Marechal Hermes tem uma origem bastante peculiar. Foi concebido no governo do presidente que lhe empresta o nome e foi inaugurado em 1o. de maio de1913. Nessa mesma data foi entregue a estação “Marechal Hermes” da EFCB (foto). A agência postal foi criada em 25 de agosto do mesmo ano com o nome “Vila Proletaria Marechal Hermes”. Planejado com o objetivo de suprir a carência por moradias populares, previa arruamento, infrestrutura completa e 1350 casas populares, das quais foram entregues apenas 135. Em 1930 o então presidente Getúlio Vargas retomou a obra com a construção de blocos de apartamentos. Hoje possui aproximadamente 50 mil habitantes e mantém traços do projeto original. A respeito, leia matéria “Agencias postais em Vilas Operárias” no menu Historia Postal.

MRJ 509 – Vila Proletária Marechal Hermes (1913-1928)

MRJ 509A – Marechal Hermes (1928-1992)

 

MRJ 509B – ACF Marechal Hermes (2000-2012) não tenho imagens

 


Notas e informações

[1] VIANA, Claudius Gomes de Aragão. A Fábrica de cartuchos do Realengo (1898 – 1977). In: Revista Digital Simonsen. Rio de Janeiro, n.4, Jun. 2016.

Obs. veja a seguir um resumo baseado no texto acima para ilustrar as atividades militares em Realengo (Paulo Novaes, 2022):

A escola de Tiro do Campo Grande

Em 1852, os campos de Realengo foram utilizados para realização de testes com foguetes fabricados no Laboratório Pirotécnico do Campinho. Com o sucesso das experiências, foi firmado em 1857 um acordo de cessão das terras ao Ministério da Guerra, que manifestava também interesse em estabelecer uma escola militar na localidade.

Ainda no ano de 1857 iniciaram-se obras para abertura de um campo de tiro e adaptações para que um edifício servisse como quartel para a recém-criada Escola Geral de Tiro do Campo Grande, que já se encontrava em funcionamento por ocasião da decisão de construção do arsenal na localidade.  Em 17 de maio de 1874, em uma cerimônia que contou com a presença do próprio Imperador D. Pedro II, foi assentada a primeira pedra para o novo Arsenal de Guerra da Corte. A obra foi suspensa alguns anos depois por razões de orçamento e só seria retomada na república.

A Fábrica de Cartuchos do Realengo

A chegada da República, no final de 1889, duas consequências diretas foram sentidas. Modificações no ensino militar, promovidas em 1890, haviam levado à extinção da Escola-Geral de Tiro do Campo Grande e à ocupação de suas instalações pela recém-criada Escola Preparatória e de Tática e finalmente em 1894 as atenções se voltaram para as obras paralisadas do arsenal.

Decidiu-se construir uma fábrica de cartuchos na Capital. Campinho mostrou-se inadequado e a decisão foi construí-la no Realengo, aproveitando-se o terreno e as obras iniciadas para o Arsenal de Guerra. Em 1896, foram retomadas as obras da fábrica de cartuchos, concluídas no ano seguinte. A fusão entre a Fábrica de Cartuchos do Realengo e o Laboratório Pirotécnico do Campinho foi concretizada em 1899, marcando o início do funcionamento da Fábrica de Cartuchos e Artifícios de Guerra.


MAGALHÃES BASTOS


Magalhães Bastos é homenagem ao Tenente Coronel Antônio Leite Magalhães Bastos (1873-1920), membro da comissão de instalação da Vila Militar que tinha como missão a construção de quartéis, residências, da ferrovia e das estações da região.

A Estação Ferroviária de Magalhães Bastos, é sem duvida o marco da fundação do bairro, inaugurada em 18 de agosto de 1914, sendo ampliada em 1936, para melhorar a demanda de militares na região. Magalhães Bastos concentra quatro unidades militares, a saber, 1ª Companhia de Policia do Exercito, 25º Batalhão Logístico, 21º Batalhão Logístico e o Parque Regional de Manutenção.

Aqui incluída pela continuidade geográfica e militar, nunca possuiu agencia postal.

 


© 2012-2022 www.agenciaspostais.com.br (atualizado em outubro de 2022)

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