Jacarepaguá

 

A imagem acima reproduz a capa do livro de Paulo Berger editado em 1965 e baseado na edição do historiador Noronha Santos Apontamentos para o indicador do DF publicada em 1900 descrevendo as 21 freguesias existentes na época . A Freguesia de Jacarepaguá  é de 1661, uma das maiores da chamada “zona rural” do município neutro. Jacarepaguá é de origem tupi e significa “enseada do mar de jacaré”, e ocupa grande parte da baixada de Jacarepaguá.

O Correio de Jacarepaguá no Império

 

O quadro acima foi reproduzido do menu Correio Rural do Império. Ele apresenta as agencias e os roteiros de malas da região entre 1854 e 1889. Em Jacarepaguá, apresenta três agencias: “D”, “E” e “F”. Note-se que algumas, como por exemplo a mesma Jacarepaguá, constam nos roteiros de malas desde 1853 embora a agencia tenha sido oficialmente criada somente em 1878.

O mapa de 1920 apresentado a seguir registra nas linhas vermelhas as divisas dos distritos policiais, que são aproximadamente as mesmas da freguesia em 1900. Ele permite posicionar com alguma precisão as agencias citadas em seu território. Em roxo, as principais estradas de rodagem que também eram utilizadas pelas linhas postais.

Nota-se um grande vazio em toda faixa litorânea da freguesia de Jacarepaguá. Os mapas do século XIX se referem a ela como “terrenos em parte alagados, desertos e arenosos”. Não havia estradas e nenhuma infraestrutura urbana. Nesse local floresceu em meados do século XX o bairro da Barra da Tijuca, cuja história está nessa página.

Companhia Ferro-Carril de Jacarepaguá (1875-1916)

As linhas de bondes, ou  “tramways” como eram referidas na época, foram importantes facilitadores do desenvolvimento da região no final do século XIX. Elas estão apresentadas no mapa de 1920 em linhas verdes tracejadas paralelas às estradas em roxo. Não estão muito visíveis, a menos que se amplie o mapa ao clicar sobre ele.

O Decreto 5399 de 10.09.1872 concedia a licença para construção da linha Cascadura a Jacarepaguá, sendo o primeiro trecho até Campinho inaugurado em 1875.  Em 1882 a Cia. já explorava duas linhas com tração animal, a primeira entre Cascadura e o largo do Tanque e a segunda entre o Tanque e a Freguesia (Porta d’Agua). Em 1911 a EFCJ é vendida para a Light e a linha é eletrificada no ano seguinte (foto Malta).


JACAREPAGUÁ ATUAL


A imagem acima é o que se obtém ao pesquisar hoje o bairro de Jacarepaguá. Ou seja, dois grandes nacos dos maciços da Tijuca e da Pedra Branca unidos por uma estreita faixa urbana cujo centro é identificado por um pequeno triângulo dentro de uma área onde lê Centro Metropolitano.

Minhas pesquisas me informam que de fato esse centro constava no plano original de Lucio Costa, pois ele seria o centro geográfico do município. Mas o governo não legalizou a área a tempo e ela foi tomada por particulares. Resumindo, hoje o bairro de Jacarepaguá consiste num aglomerado de diversos pequenos sub-bairros. Eu listei na região 14 dessas localidades que têm ou tiveram pelo menos uma agencia postal ao longo da história. Eu os assinalei no mapa Wikimapia que mostro abaixo. Clique para ampliar. A esse conjunto dei o título desta página: Jacarepaguá.

Quadro de agencias do bairro de Jacarepaguá e adjacências

 

HISTÓRIA, CURIOSIDADES E IMAGENS DAS AGENCIAS


Jacarepaguá (Freguesia no século XIX)


Marquei no alto à direita os bairros de Cascadura e Campinho, pois foi através deles que as primeiras linhas de correio cruzaram a baixada pelas estradas marcadas em roxo no mapa de 1920. Mais tarde, pelo mesmo caminho vieram as linhas de bonde, identificadas no mesmo mapa pelos pontilhados em verde. Elas passavam por Tanque a caminho da Porta d’Água, ou Freguezia (letra “E” no mapa).

A primitiva capela é de 1664 e o atual edifício da Matriz de Nossa Senhora do Loreto é de c.1750  e a imagem é de 1924. Fica na Ladeira da Freguesia. Mais tarde, foi-lhe adicionada uma segunda torre idêntica à original.

MRJ 405 – Jacarepagua (1878-1937)

MRJ 406 – Ponto do Abaeté (1870-1916)

MRJ 407 – Ponto do Rio das Pedras (1891-1897) sem imagens

MRJ 407A – Muzema ex- Ponto do Rio das Pedras (1897-1899)


Praça Seca


Ainda no século XVI, os irmãos Martim e Gonçalo Correia de Sá, filhos do governador-geral Salvador Correia de Sá tomaram posse de uma vasta sesmaria concedida por seu pai (*). No século XVIII, o 4º Visconde de Asseca (Martim Correia de Sá e Benevides Velasco), descendente do primeiro Martim, doou à comunidade uma área para a criação de um jardim. O local ganhou o nome de Largo do Visconde de Asseca, depois Largo d’Asseca, sendo por fim transformado, no linguajar iletrado e rude do povo, em Praça Seca.  O local atraiu muitos imigrantes portugueses e possuía boa vida cultural sendo considerada um marco no desenvolvimento de Jacarepaguá.

A agencia postal recebeu o nome de Marangá em referencia ao Vale do Marangá, antigo caminho comercial da região, que em tupi significa “campo de batalha”.

MRJ 408 – Marangá (1898-1940) sem imagens

As demais agencias são franqueadas:

MRJ 408A – ACF Pedro Teles (1993-2012)

MRJ 480B – ACF Praça Seca (1993-2013)

MRJ 480C – AGC Candido Benicio (2013 –   ) sem imagens

(*) Dos Assecas, teremos notícias também na história de Campos dos Goytacazes e, da família, também quando falarmos mais abaixo de Vargem Grande.


TANQUE


O Largo do Tanque tem uma origem curiosa, ligado ao trânsito dos bondes com tração animal sobre os quais falamos mais acima. Local de muda dos animais, foi aí construído um tanque como bebedouro para os animais.

MRJ 409 – AC Tanque (1891-2019)

As demais são franqueadas:

MRJ 409A – ACF Atenda (1992-2013)

MRJ 409B – AGF Prezunic (2013 –  ) sem imagem

 


TAQUARA


 

Taquara é nome de uma espécie de bambu que se utilizava para fabricar cestos. Nessa região foi erguida em 1757 a sede da Fazenda da Taquara (v. mapa) da família do Barão da Taquara e que existe até hoje. Com a imigração, transformou-se em importante centro comercial, característica que ainda mantém.

No centro da Taquara, o Barão doou essa escultura formando um chafariz, que foi inaugurada em 1923 pela Baronesa da Taquara(foto). O chafariz desapareceu recentemente.

No século XVIII, na região onde o Rio Grande deixa a serra e ganha a planície, foi criada por Antônio Paio a Fazenda do Rio Grande (v. mapa). Nessa propriedade, por volta do ano de 1737, o mesmo Paio edificou a Igreja de NS da Conceição, que ainda existe no Largo da Capela (o nome oficial do logradouro é Largo do Rio Grande). O último dono da Fazenda do Rio Grande foi Francis Walter Hime (1885-1948), que a comprou em 1935.

A agencia mais antiga é a do Rio Grande e a segunda da Taquara que salienta a importância dessas fazendas no século XIX. Rio Grande, como se vê no mapa, tinha também uma ligação com a rota dos correios pela Estrada de Santa Cruz em Realengo.

MRJ 410 – Rio Grande de Jacarepaguá (1869-1940) sem imagem

MRJ 410A – Taquara (1872-1920) sem imagem

MRJ 410B – AC Taquara (1988 –  )

As demais são franqueadas de vida efêmera:

MRJ 410C – ACCI Rio Grande (2012-2013) sem imagem

MRJ 410D – ACF Shopping Unicenter (1995-1998)

MRJ 410E – ACF Mirante (1992)

 


ANIL


Pequeno bairro vizinho a Jacarepaguá, deve seu nome ao Rio Anil que o atravessa. Um dos grandes redutos de população nordestina da cidade, a comunidade do Rio das Pedras se divide entre os bairros do Anil, Itanhangá e Jacarepaguá.

As primeiras agências foram criadas por volta de 1995 dentro do processo de terceirização dos Correios. A população atual é de cerca de 25.000 habitantes.

As agencias são todas franqueadas.

MRJ 411A – ACF Anil (1995-2013)

MRJ 411B – AGF Estrada de Jacarepaguá (2013 – )

MRJ 411C – ACF Rio das Pedras (1996-2013)

MRJ 411E – AGF JRD (2013-2019)

MRJ 411F – AGF Dinamica (2020 – ) sem imagem

 

 


CIDADE DE DEUS


Ao longo da década de 1960, a região recebeu pessoas removidas de várias favelas da cidade pelo governo do então estado da Guanabara dentro da política de remoção de favelas de outras áreas da cidade. População atual cerca de 40.000 habitantes.

MRJ 411G – AC Cidade de Deus (1992-2017) sem imagem

 


CURICICA


Curicica, nome de origem tupi, está subordinado à sub-prefeitura de Jacarepaguá. Talvez sua construção mais marcante hoje seja a sede dos estúdios da TV Globo, em vasta área limítrofe à mata, conhecida como PROJAC.

MRJ 411H – ACF Bandeirantes (1996-2013)

MRJ 411K – AGF Rio 2 (2013-  )

 


FREGUESIA


Seu nome remete à Freguesia de Jacarepaguá criada em 1661 cujo mapa abre o topo desta página. No entanto, como já me referi em texto ao longo desta matéria, o bairro de Jacarepaguá ao se desenvolver ao longo de mais de três séculos teve seu destino desvinculado desse antigo centro histórico.

O bairro conhecido atualmente como Freguesia foi estabelecido oficialmente em 1981 desmembrando-se de Jacarepaguá. Como ironia do destino, seu desenvolvimento vem agora de sua integração com a Barra da Tijuca, que avança para o norte pela avenida Ayrton Senna. Tanto que uma filial do Barrashopping foi inaugurada no bairro, que caminha para se tornar o mais importante centro comercial da região.

As duas agencias franqueadas que aí funcionaram tem um curioso resumo do nome do bairro.

MRJ 411L – ACF Freguesia (1992-2012)

MRJ 411M – ACF Jacarepaguá (2000-2014)


GARDENIA AZUL


O bairro, pouco conhecido pelos cariocas, localiza-se nas terras do antigo Engenho D’água, do século XVII. A antiga casa-grande está preservada, e pode ser vista do início da  Linha Amarela. Posteriormente vendido e loteado, um dos empreendimentos recebeu o nome Gardênia Azul, flor predileta do empresário.

MRJ 411N – AC Gardenia Azul (2010-2019)

MRJ 411P – AGF Dinamica (2020-  ) sem imagem

 


PECHINCHA


No antigo caminho da Freguesia (atual avenida Geremário Dantas), no encontro das estradas do Tindiba e do Pau Ferro, surgiu, no início do século XX, uma localidade cujo nome popular era “Pechincha”. A denominação se referia a um mercado no qual se vendiam os produtos dos sitiantes da região, por um negociante “pechincheiro”, que, com seus baixos preços, concorria com o comércio da Freguesia e da Taquara (artigo do portal GeoRio).

MRJ 411R – ACF Geremario Dantas (1994-2012)

 


VILA VALQUEIRE


No passado, a região era ocupada pelo Engenho do Valqueire, onde existia grande quantidade da árvore Pau Ferro. A origem do nome deve-se ao proprietário dessas terras em meados do século XVIII, Antonio Fernandes Valqueire. A sede do Engenho ainda existe, em ruínas, e sua mais antiga construção é a Igreja de São Roque, próxima à estrada do Macaco (atual rua Quiririm). Em 1927, os herdeiros lotearam a propriedade dando o nome de Vila Valqueire ao novo bairro. O engenheiro Alencar Lima, autor do projeto, abriu ruas bem largas com nome de flores, rua das Rosas, das Margaridas, das Verbenas e a acolhedora Praça Saiqui, tornando o Valqueire um aprazível e valorizado bairro.

MRJ 411S – ACF Luiz Beltrão (1993-1994)

MRJ 411T – ACF Valqueire (1991-2013)

MRJ 411U – AGF Vila Valqueire (2014-  ) sem imagem

 

 


VARGEM GRANDE e VARGEM PEQUENA


O mapa Maschek/Laemmert de 1870 permite visualizar os dois bairros e sua ligação histórica com a antiga Freguesia de Jacarepaguá.

Os dois  bairros foram desmembrados oficialmente de Jacarepaguá na mesma data em 1981. Situadas nos contrafortes do maciço da Pedra Branca, as localidades originais cresceram às margens dos rios Vargem Grande e seu afluente Vargem Pequena. Têm história entrelaçada e vou apresentá-la em conjunto.

As terras dos bairros pertenciam à sesmaria de Gonçalo Correia de Sá, cuja filha dona Vitória, em ocasião de seu falecimento, doaria a extensa propriedade aos Monges Beneditinos que, no século XVIII, construíram a fazenda Vargem Grande cujas ruínas ainda existem no Sítio das Pedras, no número 10636 da atual Estrada dos Bandeirantes (oficialmente em Vargem Pequena). Em 1891, os Beneditinos venderam todo seu latifúndio a empresas incorporadoras (*).

A imagem de um bairro rural, ligado à natureza, com a esplêndida paisagem florestal do Maciço da Pedra Branca ao fundo com altitudes entre 500 e 1000 metros, terminou por transformar a região em um polo de ecoturismo e gastronômico. É também o local dos estúdios da TV Record Rio, assim como na vizinha Curicica estão os da Globo.

A agencia postal mais antiga é de 1867, na rota Jacarepaguá – Guaratiba do correio rural do Império. Ver letra “F” no quadro “Agencias Rurais do Império” bem no alto da página.

(*) sobre essa família, já falamos em Praça Seca no alto desta pagina.

***

MRJ 412 – Vargem Grande (1879-1937)

A localidade é citada em roteiros de malas dos Correios desde a década de 1860. A data de criação da agência em 1879 é a que consta do “Relatório de Agencias do Imperio” de 1885.

 

MRJ 412A – Arraial da Capela (1880)

Esta agencia é listada no município neutro no GP 1880; não consegui nenhuma informação adicional sobre ela, de modo que a mantive aqui até que surja algum dado novo. Por outro lado, Realengo não consta da lista de agencias no GP 1880, apesar de termos registro de agencia criada em 1872. Ao buscar Realengo na Corographia, achamos o verbete que o coloca no Arraial da Capella. Seria Arraial da Capella o antigo nome de Realengo?

Nesse meio tempo, recebo do Fabio Monteiro sua tese que Arraial da Capella e Vargem Grande podem ser referências da mesma agencia. É uma possibilidade, por isso a registro aqui. No seu post, Fabio se refere a um artigo de Sergio de Carvalho no site https://ecomuseusertaocarioca.blogspot.com do qual transcrevo um trecho e a imagem, por ilustrar a origem do local.

Vale dizer que no GP de 1880 Vargem Grande não  consta da lista agencias.

A CAPELA DE VARGEM GRANDE

Poucos registros existem sobre a historia da antiga capela de São Sebastião em Vargem Grande. Algumas lembranças sobrevivem em minha memória dos idos tempos que a conheci.

A singela capelinha ficava no Largo de Vargem Grande na esquina da estrada do Pacuí com Estrada dos Bandeirantes. Apesar da região das Vargens (Grande e Pequena) ser administrada em seus primórdios pelos monges beneditinos, curiosamente foi construída pelos Jesuítas em 1827 (…)

P.S – existiu tambem um Arraial da Capella das Dores da Vargem Grande em Santa Catarina, às margens do rio Cubatão.

***

MRJ 412B – Vargem Pequena (1916-1917) sem imagens


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