Linha 58 – Estrada de Ferro Maricá
O desenvolvimento econômico da Região dos Lagos justificava a construção de uma ferrovia. Assim, em 23 de fevereiro de 1886 foi assinado o contrato de construção de uma estrada de ferro entre São Gonçalo e Marica (Diario de Notícias ed.24). Segundo nota no Jornal do Comercio de 26 de novembro de 1888 o primeiro trecho foi inaugurado em 25 entre as estações de Entroncamento e do Rio do Ouro.
A estação de Marica foi entregue em 1889, completando o trecho licitado. A partir dessa data, uma série de problemas legais acabou por transferir o controle acionário à Cia. Lavoura e Colonização de S. Paulo. Isso retardou até 1906 a abertura da estação Nilo Peçanha, a última em território de Maricá, na localidade de Ponta Negra, cuja agencia postal já funcionava desde 1870 (a nota abaixo é do O Fluminense de 6 de maio; fonte Hemeroteca da BN).
Em 10 de julho de 1911 o decreto nº 8831 transfere o controle acionário da ferrovia para a Compagnie Générale de Chemins de Fer des États Unis du Brèsil baseada em Paris que construiu em 1913 o trecho até Iguaba Grande e, posteriormente, o prolongamento até Cabo Frio. Foi o período auge da linha, que seria encampada em 1940 e incorporada à Central do Brasil em 1943 no governo Vargas. A linha seria desativada em 1964 pelo governo militar.
Correio Ferroviário
Ao longo do trabalho de levantamento da linha, identifiquei 52 locais correspondentes a estações ou paradas, das quais só 16 tiveram agencias postais (58.01 a 58.52). Destas, somente duas classe A. Também não encontrei nenhuma menção a correio ambulante. Espero que os colegas me ajudem a identificar material para completar o quadro.
Estações Ferroviárias
Mapas de 1953 com o traçado da ferrovia (em três partes sequenciais)
Trecho de Maricá e Saquarema
Reproduzo a seguir extensa matéria publicada na página de Saquarema onde conto algumas histórias de localidades.
O site da Prefeitura de Saquarema nos diz que o local teria sido pela primeira vez avistado quando Martim Afonso de Souza em 1531 atracou em frente ao Morro de Saquarema (morro da Igreja de N.S. de Nazareth) em sua primeira viagem ao Brasil. Imagem abaixo.
Mato Grosso, Maranguá e Saquarema (ERJ 1358 a 1363 e estação 58.37)
A ilustração acima é do Google Maps com grafismos superpostos pelo autor. Ela apresenta o traçado da E F Marica ao atravessar o município de Saquarema em 1913. Nota-se que, ao sair de Maricá, o traçado evita a travessia da Serra do Matto Grosso tomando em Manoel Ribeiro a direção do litoral até Ponta Negra, divisa de Maricá, onde construiu a estação Nilo Peçanha (58.33). Daí contorna a serra até encontrar a lagoa, quando desvia para o norte até atingir novamente os contrafortes da serra, local escolhido para a primeira estação em Saquarema. Esse local era a sede da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Matto Grosso, instalada em 26 de outubro de 1875. Com a Republica, o IBGE informa que foi criado em 1891 o distrito de Mato Grosso e anexado ao município de Saquarema. O distrito seria renomeado Maranguá [1] em 1943 e Sampaio Correia [2] em 22 de janeiro de 1946, nome definitivo.
Os nomes da estação e da agencia postal mudaram várias vezes ao longo dos anos, acompanhando vagamente os do distrito, conforme mostro na planilha abaixo (arte do autor, baseada também no menu ferroviário do site na linha 58).
Vale comentar:
- A primeira agencia postal da região é de 1881, bem anterior à ferrovia.
- A estação da E F Maricá local foi originalmente inaugurada em 1º de maio de 1913 com o nome de Tinguy 58.37 [3]. Trata-se um povoado situado a 4 km da linha (ver ilustração). A matéria sobre o evento publicada na imprensa acrescenta que “findo o almoço, o presidente do Estado e sua comitiva foram a pé visitar a séde do districto de Matto Grosso, a pouco mais de um kilometro da estação de Tinguy” [4]. Não descobri por que o nome da estação não acompanhou o do distrito mas, como se vê na planilha, isso foi corrigido rapidamente e em 11 de dezembro do mesmo ano ela foi renomeada Matto Grosso [5]. Mas… por que a distância à sede do distrito?
No distrito foi construída por volta de 1936 a Usina Santa Luiza, a segunda maior usina do estado do Rio, que funcionou até 1976. Abaixo, fotos do site do jornal O Saquá (osaqua.com.br) em matéria de 10 de maio de 2016 mostrando a usina em seu esplendor e as ruínas atuais. Ver também [2].
Notas e informações:
[1] O site da Prefeitura também nos informa que os índios Tamoios, aliados aos franceses na época das invasões, confrontaram as tropas portuguesas e seus aliados no local que ficou conhecido por Maranguá (em tupi, vale da batalha).
[2] O nome é homenagem a José Mattoso de Sampaio Correia (1875-1943), nascido em Niterói e, formado em engenharia, foi inspetor geral de obras publicas no DF nos anos 1900, quando foi homenageado com uma agencia postal com seu nome em Xerem (1907-08) “para servir às turmas de trabalho do abastecimento d’agua” (JB ed. 30/05/1907). Foi escolhido para construir esse trecho da EFM e mais tarde deputado e senador fluminense entre 1918 e 1937. Consta que o senador foi fazendeiro na região, tendo vendido suas propriedades ao também senador Durval Rodrigues da Cruz – fundador, em 1936, da usina Santa Luiza, por décadas o maior empreendimento do município.
[3] O Fluminense, edição de 2 de maio de 1913 em reportagem sobre a inauguração desse trecho da EF de Marica mencionando a estação Tinguy.
[4] O Paiz, edição de 2/3/1913.
[5] Tabela de horários da EFM publicada no O Fluminense vigorando em 11/12/1913 e listando Matto Grosso na linha.
(Palmital), Bocayuva e Bacaxá (ERJ 1350 e 1351; estação 58.41)
A agencia postal “Bocayuva” foi criada em 18 de setembro de 1913 na estação de de mesmo nome da E F Maricá, que havia sido inaugurada no mês anterior. A agencia seria renomeada “Bacaxá” meses depois (21/8/1915), alinhando-se ao local (explicando: o local era conhecido por esse nome, mas o distrito continuava sendo Palmital).
A curiosidade sobre essa estação é que era a mais próxima à Saquarema, localizada à beira-mar, a quem era ligada por rodovia. Por essa razão, a estação chegou a se chamar “Saquarema” de 1926 a 1928 embora tenha retornado a Bacaxá pouco tempo depois por pressão popular. A agencia logicamente não acompanhou essa mudança, pois já havia outra com esse nome na sede do município.
A tabela abaixo permite acompanhar essas alterações
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