Valença

Mapa atual (2009) que mostra as divisas de Valença com os municípios vizinhos; mais abaixo, apresento outro mapa com a localização das agencias.

MUNICÍPIO DE VALENÇA 

Sua origem está ligada à Freguesia de Nossa Senhora da Glória de Valença, criada em 15 de agosto de 1807 (ou 1813) e subordinada ao Rio de Janeiro. Sua elevação à Vila de Valença deu-se em 17 de dezembro de 1823, sendo elevada à cidade em 29/09/1857. Em 31 de dezembro de 1943 foi renomeada Marquês de Valença retomando o nome anterior de Valença em 22 de julho de 1959.

Histórico dos distritos de Valença (em azul, nomes atuais)

  • Nossa Senhora da Glória de Valença (1807)
    • Valença (Vila em 1823)
    • Marquês de Valença (1943)
    • Valença (1959)
  • Santo Antonio do Rio Bonito (1839)
    • Rio Bonito (1936)
    • Conservatória (1938) Anexado a Barra do Piraí de 1943 a 1947
  • Santa Isabel do Rio Preto (1851)
  • Nossa Senhora da Piedade das Ipiabas (1852)
    • Pandiá Calógeras (1892)
    • Ipiabas (1923)
    • Desmembrado e anexado a Barra do Piraí (1943)
  • São Sebastião do Rio Bonito (1885)
    • Pentagna (1938)
  • Desengano (1892)
    • Juparanã (1949)
    • Barão de Juparanã (1950)
  • São Sebastião do Rio Preto (1924)
    • Rio Preto (1938)
    • Parapeúna (1943)

AGENCIAS POSTAIS

 

REDE FERROVIÁRIA

Analisando a tabela ferroviária consolidada percebi que são muitas agencias e, curiosamente, que TODAS as agências postais do município em algum momento estiveram em uma localidade servida por uma estação de uma das diversas estradas de ferro que cruzaram o município. São elas:

  • a Linha do Centro (EFCB) que vinha do Rio seguindo o rio Paraíba;
  • a EF União Valenciana que partia da EFCB para o norte até a divisa com MG no rio Preto, o qual acompanhava até Santa Rita do Jacutinga;
  • a EF do Sapucaí, que ligava Barra do Piraí a Santa Rita do Jacutinga em MG.
  • a EF Rio das Flores, que a partir de 1910 foi adquirida pela Auxiliar e passou a ser conhecida por Ramal Afonso Arinos, ligava Valença a Rio das Flores, prosseguindo até Afonso Arinos (fora do mapa) onde se encontrava com a EF D. Pedro II. Não será mencionada neste trabalho, pois nenhuma de suas estações em território de Valença possuiu agencia. A estação Engº Durham é um exemplo.

O fato permite que as agencias sejam ordenadas e descritas na sequência das ferrovias, como se verá na sequência. O mapa Laemmert de 1953 abaixo tem a qualidade de mostrar o traçado original das linhas. Por isso eu o escolhi para plotar as agencias, ao invés do atual.

 


HISTÓRIA, CURIOSIDADES E IMAGENS DAS AGENCIAS


PARTE 1 – ESTRADA DE FERRO UNIÃO VALENCIANA

As planilhas a seguir são copiadas do menu ferroviário, onde estão listadas por linha

 1º trecho – Desengano a Valença planilha

A EF D. Pedro II avançava pela margem direita do rio Paraíba em direção à Minas Gerais e chegou em 1865 à Barão de Vassouras, estação que possuía um ramal para a cidade de Vassouras. Logo após essa estação, a linha cruzava o Paraíba e percorria um pequeno trecho em território de Valença, onde foi construída a estação de Desengano, sobre a qual falarei mais adiante. Logo depois, a linha voltou à margem direita, novamente em território de Vassouras. Veja no mapa.

É claro que Valença se apressou em construir um ramal que ligasse Desengano à sede do município. Em sessão da Câmara Municipal de 8 de janeiro de 1863 foi aprovado requerimento e formada comissão presidida pelo Barão do Rio Preto [1]. O decreto 3641 de 1866 autorizou a concessão e o tráfego até Valença aberto em 1871, ponta de linha por alguns anos. O trecho foi fechado em 1970.

 


Valença (Local 1 no mapa)


O nome da cidade homenageia o Vice-Rei Dom Fernando José, descendente da nobreza de Valencia na Espanha. A ocupação do território se inicia em 1789 quando D. Maria I o incumbiu de catequizar os índios Coroados e a distribuir sesmarias. A cidade ficou na rota dos tropeiros que desciam de Minas Gerais em direção à Côrte.

Teve seus tempos áureos com o ciclo do café, quando chegou a ser o maior produtor nacional, o que explica em parte a extensão da rede ferroviária e o grande número de estações próximas a fazendas. A igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória atesta o esplendor dessa época [2].

A agência postal de Valença é de 1829, o que o torna pré-flilatélica e a 16ª mais antiga do estado. O nome foi alterado para Marquês de Valença no pacote de 1943 e retornou por lei estadual de 2.7.1959 para o nome original. O GP de 1963 já a registra assim. A estação foi inaugurada em 1871, mudou para Marquês de Valença em 1943 e assim permaneceu até fechar em 1973, conforme nos informa o site estacoesferroviarias.com.br

ERJ 1472 – Valença (1829-1943)
ERJ 1473 – Marquês de Valença (1943-1959)
ERJ 1474 – Valença (1959 –  )

Imagens dos carimbos da sede:

ERJ 1473 – Marquês de Valença

ERJ 1474 – Valença

Além dos carimbos da sede, há registro de mais três agencias na região metropolitana, inclusive uma unidade operacional. São elas:

ERJ 1475 – Princesa da Serra (1980-1981)

ERJ 1475A – ACF Shopping 99 (1995-2012)

ERJ 1509 – CDD Valença (2012 – ) (Não tenho imagens)

 


Chacrinha (Local 2 no mapa)


O comendador Manoel Pereira de Souza Barros adquiriu de Joaquim José dos Santos o engenho original em meados da década em 1840. Nas décadas seguintes, dedicou-se ao plantio de café. Seu filho, o tenente-coronel Manoel Pereira de Souza Barros trouxe muitas inovações para o negócio e participou da fundação da EF União Valenciana, da qual foi presidente em 1870. Em 1881 Souza Barros foi agraciado com o título de Barão da Vista Alegre. Nessa data também terminou a construção da nova sede, o “Solar da Chacrinha”.

Com a Abolição, veio a decadência que culminou com a venda de todas as fazendas. Levadas a leilão pelo Banco do Brasil, em 1901, as quatro fazendas são adquiridas pelos irmãos Álvaro e Horácio Mendes de Oliveira Castro. Os Oliveira Castro passam a fazer de Chacrinha o ponto de encontro da família (fonte Instituto Cidade Vida/INEPAC). Atualmente o Solar é a sede do Hotel Palmeira Imperial, cuja foto ilustra o artigo.

A data de abertura da estação é controversa. A linha foi aberta em 1871 e nessa época Souza Barros era o presidente da companhia. Assim, pode ter sido então aberta uma parada. Entretanto, as tabelas de horário da Cia. União Valenciana só a mencionarão em 1881 [3] como “Barros” e como Chacrinha só a partir de 1901, dando origem ao bairro homônimo. A agencia postal é de 1896, com o nome de “Chacarinha”, ativa até a década de 1960.

ERJ 1476 – Chacrinha (1896-1963)

 


Esteves (Local 3 no mapa)


A fazenda Santo Antonio do Paiol, também conhecida por Fazenda Esteves, ficava em terras de Francisco Martins Pimentel, cuja filha se casou com Manoel Antonio Esteves que recebeu a fazenda como dote. Este construiu uma nova sede por volta de 1850 (imagem). Com sua morte e posteriormente com o fim do ciclo do café, a propriedade entrou em decadência e foi doada a uma ordem religiosa (fonte ICV/INEPAC).

A estação é de 1871 e a agencia postal do mesmo ano, tendo sido instalada na estação.

ERJ 1477 – Esteves (1871-1963)

 


Quirino (Local 4 no mapa)


Das localidades que tiveram estações nesse trecho, somente Quirino tem uma agencia ainda em funcionamento, sob a forma de AGC. Ei-la, no meio da estrada, solitária.

A agencia foi aberta em 1886 e instalada na estação homônima que foi inaugurada em 1871, hoje desativada; o prédio já foi demolido.

ERJ 1478 – Quirino (1886-1969)
ERJ 1478A – AGC Quirino (2000 – )

 


Desengano / Barão de Juparanã (Local 5 no mapa)


A estação “Desengano” da Linha do Centro, inaugurada em 1865, foi a primeira do município e a única da Linha do Centro em seu território. O prédio, como se vê na imagem, tinha um estilo majestoso provavelmente imaginando um futuro grandioso à localidade, que nunca se concretizou. Ela deve seu nome atual ao Barão de Juparanã, cuja família possuía várias fazendas à margem esquerda do Paraíba. Sua história está contada na nota [4] ao pé desta página.

A imponente estação de Desengano (imagem da B.N.)

O site estacoesferroviarias.com.br traz um texto que aqui reproduzo: “Porém, há uma história que diz que os valencianos, comandados pelo Barão de Juparanã, venceram a disputa com os vassourenses representados pela família Teixeira Leite. O Barão teria conseguido fazer a linha passar pelo território de Valença ao doar à E. F. D.Pedro II o terreno para a passagem da linha e construção da estação. Para comemorar a vitória, deu (à estação) o nome de Desengano pela decepção de seus rivais.

 O prédio está bem conservado e hoje pertence à prefeitura. A foto abaixo é da Revista da Semana de junho de 1906 (Hemeroteca da BN); note-se o crescimento das palmeiras.

ERJ 1479 – Desengano (1857-1917)
ERJ 1480 – Juparanã (1917-1941) desta não possuo imagens
ERJ 1481 – Desengano (1941-1952)
ERJ 1482 – Barão de Juparanã (1952-2010)

 


PARTE 2 – ESTRADA DE FERRO UNIÃO VALENCIANA

2º Trecho – Santa Ignacia a Rio Preto

Em contrato de 27.08.1877 o governo fez concessões à Cia. União Valenciana para o prolongamento da linha de Valença até o Rio Preto, nos limites com a Província de Minas Gerais. As obras foram iniciadas em maio de 1878 e o trecho até Santa Ignácia foi aberto em 15.10.1879.


Flores / Santa Ignacia (Local 6 no mapa)


A origem do nome do local é a estação com o nome primitivo de “Flores” que, anos depois, resolveram mudar para “Santa Ignácia”, em homenagem a D. Ignácia Maria de Jesus, proprietária da fazenda Boa Vista, onde foi construída a mencionada estação (wikipedia).

A estação “Flores” é de 15.10.79 alterado para Santa Ignacia em 1888. A agencia é de 1880 e foi instalada na estação.

ERJ 1483 – Flores (1880-1882)
ERJ 1484 – Santa Ignacia (1882-1948)

 


São Sebastião do Rio Bonito / Pentagna (Local 7 no mapa)


O Curato de São Sebastião do Rio Bonito, elevado a Freguesia em 29.03.1839, tornou-se distrito de Valença em 1885 e renomeado Pentagna em 15.12.1938 como homenagem ao recém falecido Dr. Humberto Pentagna que, quando prefeito, fundou ali a primeira cooperativa de laticínios do município.

O local foi também onde o mineiro Francisco Paulo de Almeida, Barão de Guaraciaba, adquiriu sua primeira fazenda em 1860. Detalhes de sua interessante história na nota [5] ao pé da página. Ele nomeou também uma estação da linha de Santa Isabel sobre a qual falarei mais adiante.

A estação “Rio Bonito” é de 1880, renomeada “Vila Pentagna” em 10.08.1939. A agencia postal é mais antiga, tendo sido criada em 6 de junho de 1861 e renomeada por volta de 1939, acompanhando a estação [8]. A imagem abaixo está no site “Estações Ferroviárias do Brasil” (acervo de Jorge Ferreira)

ERJ 1485 – São Sebastião do Rio Bonito (1861-1939)
ERJ 1486 – Pentagna (1939-2000)
ERJ 1486A – AGC Pentagna (2000 –  )

 


Guimarães (Local 8 no mapa)


São poucas e imprecisas as informações sobre Guimarães. Do ponto de vista ferroviário, ela consta da tabela de horários da União Valenciana publicada na Gazeta de Noticias em 1.3.1881 (na de abril de 1880 não consta). Sobre a agenia postal, há uma nota  em 16.12.1881 na capa do mesmo jornal informando o fechamento “da agencia do correio da estação de Guimarães”. Não encontrei imagens – se existirem, serão raras. A agencia nem é mencionada no trabalho de R. Koester. Mas o local está assinalado no mapa de 1953 como “Parada Guimarães”.

ERJ 1487 – Guimarães (1880-1881)

 


Santa Delfina / Alberto Furtado (Local 9 no mapa)


A estação de Santa Delphina, nome de um riacho próximo,  foi aberta em julho de 1880 já às margens do Rio Negro. No local havia uma pequena ponte de travessia para Minas Gerais, como se vê no mapa da Wikimapia. Em vermelho, a posição da estação indicada na Wikimapia.

A agencia postal “Santa Delphina” é do mesmo ano, e deve ter sido instalada na estação, embora não haja confirmação documental. Em 1914 ambas tiveram seus nomes alterados para “Alberto Furtado”, nome que homenageava um engenheiro da ferrovia. O prédio, caidinho, é um dos poucos remanescentes da pequena localidade.

ERJ 1488 – Santa Delfina (1880-1914)
ERJ 1489 – Engenheiro Alberto Furtado (1914-1969)

 


Rio Preto / Parapeuna – (Local 10 no mapa)


A partir de Santa Delfina a linha seguia paralela ao Rio Negro, divisa entre os estados, até chegar à estação terminal que foi inaugurada em 1880 e denominada Rio Preto. O nome da estação remete à sede do município de Rio Preto em Minas Gerais, localizada na margem fronteira à estação e ligada a esta por uma ponte de pedestres.

No local havia um pequeno povoado que, com o desenvolvimento trazido pela ferrovia, foi elevado em 1924 a distrito com o nome de São Sebastião do Rio Preto. Em 1938 o distrito foi renomeado Rio Preto como sua vizinha mineira e na década de 1940 a estação e o local foram renomeados Parapeúna, rio preto em tupi. Mais tarde a linha foi estendida a Santa Rita, como se verá no próximo bloco.

A cidade de Rio Preto possuía agencia desde 16 de agosto de 1855 com acesso à estação que a servia pela já citada ponte que se vê na imagem ao lado (estaçõesferroviarias.com.br editado por Ralph Giesbrecht). A ponte foi mais tarde substituída por uma rodoviária de concreto.

O trecho ferroviário foi desativado em 1970 e a partir do GP de 1976 temos noticia de uma nova agencia “Parapeúna”  instalada no antigo prédio da estação, indicada por uma plaquinha numa das portas. Em 2000 ela seria transformada em AGC.

 

ERJ 1490 – Parapeúna (1976-2000)
ERJ 1490A – AGC Parapeuna (2000 –  )

 


PARTE 3 – RAMAL DE JACUTINGA

3º Trecho – Rio Preto a Santa Rita de Jacutinga

A União Valenciana teve Parapeúna como sua ponta de linha por décadas. Em 24.06.1910 foi constituída a “Rede de Viação Fluminense” tendo por tronco a Linha Auxiliar e incorporando a União Valenciana e a EF Rio das Flores. Seu controlador era a EF Central do Brasil. Todo esse trecho, mais o Ramal de Vassouras, construído no final do século pela Auxiliar, passou a ser conhecido por “Ramal de Santa Rita de Jacutinga“. Ele seguiu pela margem sul do rio Preto, depois o cruzou até chegar a Santa Rita, onde se encontrou com a RMV. As estações fluminenses com agencia são:


São Luiz / Fernandes Figueira (Local 11 no mapa)


A fazenda São Luiz foi formada em terras adquiridas em 1839 pelo Marquês de Valença, Estêvão Ribeiro de Resende (1777—1856). Casado com Ilidia Mafalda de Sousa Queirós, dama de honra da Imperatriz, seu primogênito Luís Ribeiro de Sousa Resende (1827-1891 foi provavelmente quem emprestou seu nome à fazenda.

A estação foi construída em 1914 junto à sede e também batizada São Luiz. Nos anos 1940 seu nome foi mudado para Fernandes Figueira em homenagem ao médico Dr. Antonio Fernandes Figueira (1863-1928). Com a desativação do trecho nos anos 1970 o prédio abrigou uma escola municipal. A imagem atual do Street View acima não mostra mais o nome da escola na fachada, um indício de que ela também foi desativada.

A agência postal “São Luiz” foi criada em 1918 e renomeada em 1948 acompanhando a estação (fontes: institutocidadeviva.org.br/inventarios e estacoesferroviarias.com.br).

ERJ 1492 – São Luis (1914-1948)
ERJ 1493 – Fernandes Figueira (1948-1963)

 


Coronel Cardoso (Local 12 no mapa)


O coronel Manoel Joaquim Cardoso, importante político local, adquiriu no início dos anos 1910 a fazenda São Fernando situada às margens do rio Preto [6]. Visionário, ele se tornaria um dos maiores produtores de café do vale do rio Preto. Diversificou as atividades para a agropecuária e construiu uma usina hidroelétrica no vizinho rio São Fernando que ainda está em funcionamento.(imagem e textos ICV/INEPAC)

Forneceu o terreno para a construção da estação ferroviária que tomou seu nome e hoje é escola primária como se vê na imagem.  A estação foi inaugurada em 1914 e a agencia postal no ano seguinte.

ERJ 1494 Coronel Cardoso (1915-1963)

 

 


Santa Clara / João Honório (Local 13 no mapa)


Imagem Wikimapia com os locais da fazenda e da estação (anotações do autor)

Como mostra a imagem, a estação de Santa Clara ficava um pouco distante da sede da fazenda Santa Clara já que a ferrovia não acompanhou o meandro do rio. Mas havia um acesso e ponte sobre o rio Preto, pois a imponente fazenda está no município de Santa Rita de Jacutinga; vale ler a nota [7]. Já mencionei os antigos proprietários da fazenda ao descrever a fazenda São Fernando no item anterior (ver nota 6).

A localidade deve seu atual nome ao Coronel João Honório de Paula Motta, que adquiriu a fazenda em 1924 do seu segundo dono, o Comendador Modesto Leal.

A agencia e a estação são de 1914, época da abertura da linha. Ambas foram renomeadas nos anos 1950. A imagem acima é a atual da estação. Um tanto descuidada, mas de uma beleza singela. Não possuo imagens de carimbos.

ERJ 1495 – Santa Clara (1915-1955)
ERJ 1496 – João Honorio (1955-1963)

 


Barbosa Gonçalves (Local 14 no mapa)


 

Barbosa Gonçalves é a última estação da linha no município de Valença, aberta em 1914 (a imagem é do site estacoesferroviarias.com.br). Logo em seguida ela cruza o rio para atingir a ponta da linha em Santa Rita de Jacutinga em MG. Nessa cidade, ela encontrará a EF Santa Isabel do Rio Preto (RMV), sobre a qual falaremos a seguir. A estação é da época da abertura da linha, mas a agencia veio um pouco mais tarde em 1921. Não possuo imagens.

ERJ 1497 – Barbosa Gonçalves (1921-1963)

 


PARTE 4 – ESTRADA DE FERRO SANTA ISABEL DO RIO PRETO


Quadro de agencias ferroviárias

A Cia. EF Santa Izabel do Rio Preto teve seus estatutos aprovados pelo decreto 7549 de 22 de novembro de 1879.  As obras partiram de Barra do Piraí em 1881, passaram pela estação de Ipiabas no mesmo município e cruzaram a divisa com Valença. Segue a descrição das estações com agencias postais no território de Valença:

 


Paulo de Almeida (Local 15 no mapa)


Segundo o site Estações Ferroviárias do Brasil, o nome da estação homenageia Francisco Paulo de Almeida, o Barão de Guaraciaba, bem-sucedido empresário e único negro agraciado com título de nobreza. Sobre ele comentamos na nota [5].

Uma das imagens de carimbo que possuo grafa a localidade como ‘Paula’ d’Almeida. Achei o fato curioso até descobrir que havia erro de grafia da legenda. A estação é de 1884 e a agencia também. Vale lembrar que o distrito ao qual pertence, Conservatória, esteve anexado a Barra do Piraí por quatro anos, de 1943 a 1947. É possível que apareça um carimbo assim identificado.

 ERJ 1498 – Paulo de Almeida (1884-1963)

 


Santo Antonio do Rio Bonito / Conservatória (Local 16 do mapa)


O primeiro registro da localidade data do final do século XVIII como reserva dos índios Araris. Diversas histórias justificam a origem do nome – lugar onde foi implantada uma “conservatória” para registrar e catalogar os índios. Com a colonização, cresceu o povoado de Santo Antônio do Rio Bonito, batizado pelo rio que a corta. Mas a tradição foi mais forte  e a povoação sempre foi conhecida por “Conservatória dos índios”, nome que acabou por adotar em 1938.

Santo Antonio do Rio Bonito foi o primeiro distrito de Valença, estabelecido em 1839. Seu desenvolvimento veio com o ciclo do café. Conta-se que o povoado foi um dos primeiros a ter seu traçado urbano projetado por um engenheiro, o italiano Cezar Capolino, contratado pelos fazendeiros. Outra tradição local são as serenatas, festejadas pelas plaquinhas instaladas nas fachadas das casas pelos irmãos Freitas nos anos 1950 e que registram nomes de músicas e seus autores. A rodovia RJ-137 que corta a cidade leva o nome dos irmãos.

O trem também tem tradição na cidade. A estação foi inaugurada em 1883 e hoje é uma rodoviária bem preservada. Na imagem ao alto, ao fundo vê-se a locomotiva Baldwin de 1910 instalada como uma escultura, que aparece na segunda imagem. Ambas são do Street View de 2021. A agencia postal é bem antiga, criada em 1849, e que continua em operação regular na cidade.

O IBGE informa que, pelo Decreto-lei Estadual 1056, de 31-12-1943, o município de Valença passou a denominar-se Marquês de Valença e, sob o mesmo Decreto, o distrito de Conservatória é transferido para Barra do Piraí, retornando em 20 de junho de 1947.

ERJ 1499 – Santo Antonio do Rio Bonito (1849-1938)
ERJ 1499 T2c

 

ERJ 1500 – Conservatória (1938-  )

 

 


Santa Cruz / Pedro Carlos (Local 17 no mapa)


A marca da localidade é a “Ponte dos Arcos” bela ponte ferroviária no trecho que vem de Conservatória e que está bem preservada. A estação foi inaugurada em 20 de junho de 1885 com o nome de “Santa Cruz” e renomeada Pedro Carlos por volta de 1890 – homenagem a um engenheiro da ferrovia. A agencia postal é de 1887, registrada no Relatório dos Corrreios de 1887 como “Estação da Cruz, EF Santa Isabel do Rio Preto”; foi instalada na estação e acompanhou a mudança de nome na mesma data. Desativada junto com a estação, foi reinstalada anos mais tarde sob a forma de AGC.

ERJ 1501 – Cruz (1887-1890)
ERJ 1502 – Pedro Carlos (1890-1963)
ERJ 1502A – AGC Pedro Carlos (2002 –  )


 


Forquilha / José Leite (Local 18 no mapa)


Após deixar Pedro Carlos e descer a serra, a ferrovia seguia um traçado bem diferente da RJ-137 (confira no mapa de 1953 e no detalhe do Google Maps acima – clique para ampliar) e há um longo trecho sem estações até chegarmos a Forquilha (mais trade Leite de Souza). No mapa, assinalei os locais de Santa Isabel e de Leite de Souza, um local bem escondido que no início teve uma oficina ferroviária e hoje tem um punhado de casas, entre as quais a antiga estação, hoje residência.

A partir daí, a linha segue para o norte até encontrar o rio São Fernando, aquele mesmo do qual falamos na estação de Coronel Cardoso no local 12, seguindo o curso do rio até encontrar Santa Isabel (assinalei esse curso no mapa).

A estação é de 1886 e foi logo em seguida renomeada José Leite; mais tarde em 1936, Leite de Souza. Não identifiquei a origem dos topônimos. A imagem cima é do Google Maps, que mostra um atual povoado de meia-duzia de casas. A agencia postal “Estação da Furquilha” foi criada em 31 de janeiro de 1887 “na estação da EF Santa Isabel do Rio Preto” conforme Relatório dos Correios desse ano. Renomeada José Leite no ano seguinte, conservou esse nome até o fechamento da estação no final dos anos 1960.

ERJ 1503 – Estação da Furquilha (1887-1889)
ERJ 1504 – Jose leite (1889-1963)

 


Santa Isabel do Rio Preto (Local 19 no mapa)


A próxima estação da linha se chamou Joaquim Mattoso. Há um mistério aqui. Por que não se chamou logo Santa Isabel? E por que, ainda mais significativo, a Diretoria Geral dos Correios, em licitação pública para o serviço de condução de malas publicada na Gazeta de Noticias de 11 de novembro de 1888 listaria, entre as linhas de correio beneficiadas, a de Santa Isabel do Rio Preto à estação de Joaquim Mattoso, diariamente? (imagem anexa). O assunto foi abordado em estudo no menu História Postal, junto com “Ponte do Zacarias”. Ver a seguir no local 20.

ERJ 1505 – Santa Isabel do Rio Preto (1853 –  )

 


Ponte do Zacharias (Local 20 no mapa)


 

Ponte do Zacarias sobre o Rio Preto anotações do autor sobre Google Maps

A agencia postal na Ponte do Zacharias me levou a uma interessante viagem pela história, relacionada à ligação entre Santa Isabel e Santa Rita, com o prolongamento da ferrovia até aquela cidade por uma ponte sobre o rio Preto. A Ponte do Zacharias.

Fiz um extenso trabalho que publiquei em História Postal aqui no site. Engloba a Ponte e Santa Isabel do Rio Preto.

Ponte do Zacharias

 


Notas e informações

[1] O Barão do Rio Preto – Domingos Custódio Guimarães (S. João del Rei 1802 – Valença 1868) fez fortuna no comércio e depois fazendeiro de café no vale do Rio Preto. Sua fazenda “Flores do Paraíso”, hoje Paraíso (imagem acima), foi construída em 1853 e considerada a “jóia de Valença” (hoje no município de Rio das Flores e preservada pela família Belfort Carneiro da Silva). Imagem e texto do Instituto Cidade Viva.

[2] Foto do portalvalençarj.com.br

[3] A estação Chacrinha. Existem tabelas de horário publicadas na imprensa pela EF em 1871, 74, 76 77 e 1880 todas iguais à de 19 de maio de 1871 cuja imagem do Diario do RJ  apresento; nenhuma delas traz “Chacrinha” ou “Souza Barros” (figura 1). A primeira a mostrar a estação é a de 01.03.1881 na Gazeta de Noticias, que a grafa “Barros” (figura 2). Foi essa a data que adotei. Quanto à Chacrinha, a primeira publicação ferroviária a apresenta-la foi a Estatistica das Estradas de Ferro da União e das Fiscalizadas pela União, edição de 1901. A data coincide com a compra da fazenda pela família Oliveira Castro que, dizem, pediu para mudar o nome da estação.

 

 

[4] Barão de Juparanã – Manuel Jacinto Carneiro Nogueira da Costa e Gama (Rio de Janeiro, 4.4.1830, Valença, 2.6.1876) foi um fazendeiro e político brasileiro, presidente da Câmara de Valença em 1858. Sua família possuía várias fazendas à margem do Paraíba, sendo a principal a Fazenda Santa Mônica onde D. Pedro II se hospedou diversas vezes e Duque de Caxias, parente da família, faleceu em 1880 (fonte ICV/INEPAC).

 


[5] Francisco Paulo de Almeida – Barão de Guaraciaba (Lagoa Dourada-MG, 1826 – Rio de Janeiro, 1901), foi proprietário rural e banqueiro brasileiro, um dos mais importantes barões do café do segundo reinado. Titulado pela própria princesa Isabel, acumulou um enorme patrimônio no Vale do Paraíba. Suas fazendas se estendiam pelos estados do RJ e MG. No entanto, um detalhe o tornava diferente dos outros nobres. Ele era negro em um país escravocrata. Há estação e agencia postal em Valença com seu nome (ERJ 1498 – Paulo de Almeida)

Morou em Petrópolis por um tempo, onde adquiriu o famoso Palácio Amarelo, que depois vendeu para a Câmara Municipal, mudando-se para o Rio.

 

 

 

[6] A Fazenda São Fernando teve origem em terras da sesmaria ao Guarda-Mor Joaquim Diofrídio Fortes em 1804. A fazenda foi construída na primeira metade do século XIX pelo casal Carlos Teodoro de Souza Fortes e Isabel Henriqueta Fortes, primos de Diofridio.

São Fernando foi uma das maiores e mais bem equipadas fazendas de café da região do Vale do Rio Preto. A unidade de produção de café foi implantada em uma várzea, entre os rios Preto e São Fernando, seu afluente. O casal era senhor, também, da grandiosa Fazenda de Santa Clara, localizada mais adiante na linha na outra margem do rio Preto (ver nota 7). Souza Fortes foi agraciado, em 1887, com o título de segundo Barão de Santa Clara.

Por volta de 1915, a São Fernando foi adquirida pelo empresário de origem portuguesa, coronel Manoel Joaquim Cardoso sobre o qual falamos acima. Com a crise mundial de 1929 os negócios se complicaram e Cardoso se associa com um de seus maiores clientes formando uma empresa. Em 1935 seus sócios compram a sua parte e a empresa funciona até recentemente, estando desativada no momento.

[7] Em 1824 Francisco Fortes de Bustamante, filho do guarda-mor do registro de Rio Preto, foi agraciado com uma sesmaria onde montou a fazenda Santa Clara, concluída em 1856. Com sua morte, a fazenda ficou para sua viúva, Maria Tereza de Souza Fortes, viscondessa de Monte Verde e, com sua morte, para seu irmão Carlos Teodoro de Souza Fortes, que era o 2º Barão de Santa Clara. Sobre ele, já falamos na fazenda São Fernando no item 6. A propriedade foi depois adquirida pelo Comendador Modesto Leal, que na virada do século chegou a possuir mais de 30 fazendas na região. Em 1924 foi adquirida pelo coronel João Honório, cuja família é a atual proprietária.

Santa Clara é uma das maiores propriedades rurais do século XIX ainda existentes. Tem 6 mil m2 de área construída, 46 quartos e um mirante com relógio. Foi cenário da novela “Terra Nostra” da Globo em 1999.

 

[8] Nicolau Pentagna era imigrante italiano, industrial e agricultor, fundador do clã Pentagna em Valença. Seu sobrinho Humberto fez carreira política, foi prefeito local e vice-presidente da província. Seu falecimento gerou grande reconhecimento do município, tendo sido homenageado com uma estátua em praça pública e rebatizando o distrito.

No Jusbrasil encontrei em 17.07.1939 o comunicado oficial do Ministro de Viação aos Correios e à EFCB informando-os sobre a mudança do nome do distrito de S. Sebastião do Rio Bonito para Pentagna. Com isso, a direção da ferrovia alterou o nome da estação de “Rio Bonito” para “Vila Pentagna” em 10 de agosto de 1939. Sobre a agencia não conheço a data, mas o GP de 1940 já nos informa da mudança.

 


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