Introdução ao porto do Rio de Janeiro
A região portuária é uma das mais antigas da cidade e composta dos bairros de Santo Cristo, Gamboa e Saúde, bem como da praça Mauá, que se vê na extremo direito do mapa Wikimapia acima, área tecnicamente classificada no Centro.
Mapa Laemmert de 1864
O Porto do Rio de Janeiro: até os anos 1870 o porto funcionava em uma série de trapiches operados por diversas empresas. O mapa acima permite ótima visualização do recortado perfil original. Em azul, desenhei o perfil atual da região após as obras de aterro para a construção do porto entre 1904 e 1920.
Como veremos, até a EFDP II construiu em 1880 seu próprio ramal e doca para atender seu projeto logístico de exportação de mercadorias. No entanto, somente no inicio da república em 1890 os primeiros estudos e decretos começaram a regulamentar as obras e sistemas de fiscalização.
O governo Rodrigues Alves (1902-1906) assumiu tendo o porto como uma de suas prioridades. Em 1903, com o decreto 4.969 foi criada a Comissão Fiscal e Administrativa do Porto e, nesse mesmo ano, contratada a firma inglesa Walker & Co. que iniciou os trabalhos no ano seguinte. A inauguração oficial aconteceu em 1910 já no governo Nilo Peçanha.
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O Porto Maravilha: um ambicioso projeto de remodelação total da antiga área portuária do Rio foi conduzido pela Prefeitura do Rio por ocasião da Copa de 2016. Toda a orla compreendida entre a Praça XV e a estação rodoviária. A implantação do sistema VLT no centro foi também estendida para toda a área do porto maravilha. As linhas e estações estão marcadas no mapa ao alto.
À direita da imagem, os quatro armazéns reformados e ao centro a repaginada praça Mauá com os novos museus MAR e do Amanhã. Além dos museus, o imenso aquario AquaRio e a roda gigante YupStar Rio são imperdíveis atrações turísticas.
Quadro de agencias
Dada a proximidade dos bairros, vou informar o quadro de agencias dos três bairros da zona portuária para facilitar pesquisa:
SAÚDE
Região antigamente conhecida por Valongo ou Valonguinho, a Saúde deve seu nome à igreja de Nossa Senhora da Saúde, construída em 1742.
Um pouco de história
O Cais do Valongo
O cais do Valongo creio que está oficialmente no bairro da Gamboa, na divisa com Saúde. No entanto, em atenção à história, preferi tratá-lo nesta página.
Mapa McKinney & Lieder, 1858 (Biblioteca Nacional)
Em 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras do Porto Maravilha, foram encontrados vestígios do Cais do Valongo e uma grande quantidade de objetos trazidos pelos escravos africanos. A descoberta despertou grande interesse histórico e o local foi declarado patrimônio da humanidade pela Unesco em 2017.
Até meados da década de 1770, os escravos desembarcavam na Praia do Peixe, atual Praça XV, e eram negociados na Rua Direita – hoje Rua 1º de Março, no centro do Rio de Janeiro. Em 1774, uma nova legislação estabeleceu a transferência desse mercado para a região mais discreta do Valongo, por iniciativa do segundo Marquês de Lavradio.
Como ainda não havia o ancoradouro, a alternativa foi desembarcar os escravizados na alfândega e enviá-los de bote à praia do Valongo. Somente em 1811 o cais seria construído, passando o desembarque a ser feito diretamente no denominado Cais do Valongo. O comércio de escravos teve seu auge entre 1808, com a chegada da família real portuguesa, e 1831, ano da proibição do tráfico negreiro.
A ligação do cais com a cidade se fazia pela rua do Valongo que seguia pela passagem natural entre os morros do Valongo (da Conceição) e da Providência. Entre as transversais Rua da Princeza e Rua do Principe, a Valongo formava uma praça triangular conhecida por Largo do Depósito, pois aí ficava o Depósito Público e vários armazéns dos negociantes que utilizavam o Cais do Valongo.
Em 1843 o arquiteto francês Grandjean de Montigny foi encarregado de reurbanizar a praça para recepcionar a princesa Teresa Cristina, futura esposa de D. Pedro II. Foi feito um aterro de sobre o cais que foi rebatizado “Cais da Imperatriz”. Ao mesmo tempo, a rua Valongo e o Largo de depósito foram rebatizados respectivamente Rua e Largo da Imperatriz.
O obelisco que se vê na imagem é o “Chafariz da Imperatriz” erguido em 1872 no Largo em comemoração aos 30 anos da sua chegada. Projeto de Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. Hoje ele está solitário no meio ao que sobrou da praça.
O Cais da Imperatriz foi logo depois renomeado Praça Municipal, principal logradouro do bairro. Recebeu agencia em 1898, transformada em sede de uma das sucursais dos Correios em 1902. Hoje, mutilada, é a Praça Jornal do Commercio (ver matéria a seguir). A Rua da Imperatriz é hoje a Rua Camerino. Por fim, o Largo da Imperatriz foi renomeado Praça dos Estivadores no início do sec. XX e, revitalizada no bojo do projeto Porto Maravilha, hoje integra o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana.
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Praça Municipal hoje
Os aterros para as obras do cais do porto na década de 1910 mudaram a fisionomia do bairro (ver mapa de 1864 no alto da página). Boa parte da praça foi ocupada por armazéns e mais tarde pelo Hospital dos Servidores. O que restou é um pequeno retângulo de concreto na esquina da rua Sacadura Cabral, nome que politicamente substituiu a rua da Saúde que dava nome ao bairro. O novo nome da praça homenageia uma importante empresa jornalística cuja sede esteve nas proximidades, mas em isso sobrou: a empresa, antiga de quase 200 anos, fechou em 2016 e seu prédio está abandonado (ver MRJ 350 – Rua do Livramento na Gamboa).
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O Correio Urbano
Chegamos ao ponto do nosso interesse pela região. Como vimos na história do Correio Urbano, a implantação se inicia com o Regulamento de 17 de julho de 1845 que, em seu artigo 1º, dizia que a partir de 11 de agosto haveria três caixas “de correio urbano”, uma das quais no nosso Largo da Imperatriz. As duas outras nos atuais Largo do Machado e na Rua Frei Caneca.
O Almanaque Laemmert nos anos 1880 listava as “casas e agencias onde se vendem selos”. Costumo catalogá-las, como é o caso da Rua da Prainha, via do bairro da Saúde ligação com o trapiche da Prainha, hoje Praça Mauá. Ela teve vários nomes. O mapa acima a registra com dois nomes: ‘Rua do Aljube’ (atual Leandro Martins) e ‘Rua da Prainha’ (atual Rua do Acre). Em 1885, os mapas registram ambos os trechos por rua da Prainha e em algum momento, um trecho também se chamou Vieira da Silva (que atualmente é uma rua em Sampaio).
MRJ 594 – Rua da Prainha (1881-1882) sem imagens
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A agencia postal “Praça Municipal” foi criada em 1898 e transferida em janeiro de 1902 para Copacabana (BP). Nesse mesmo local seria instalada a Sucursal nº6, que apresento a seguir.
MRJ 595 – Praça Municipal (1898-1902) não tenho imagens
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A Sucursal Nº 6 foi criada em 5 de outubro de 1902 como parte do projeto de rede de Sucursais aprovado pela portaria de 27 de janeiro de 1901. São escassos os carimbos dessa sucursal. Os primeiros que possuo referem-se às quatro distribuições padrão das sucursais. Tenho exemplares da 3a. e 4a. D. inclusive uma bela cartinha. São também parte do procedimento padrão as distribuições de malas, da qual apresento em seguida um da 4a.Mala em recepção sobre envelope.
MRJ 596 – Praça Municipal, Sucursal nº6 (1902-1932)
Em seguida, surgem os usuais carimbos duplas barras com datador DC – digito de controle que em alguns locais se usa para marcar os turnos de distribuição. Com os exemplares disponíveis, não me parece ser o caso aqui. Segue-se os carimbos T 10, com datador em romanos, com somente dois turnos.
Franquias mecânicas propagandísticas
Carimbos de serviço
No bojo das mudanças trazidas pela criação do DCT, a Sucursal foi transferida em 30 de junho 1932 para o bairro da Cidade Nova e renomeada Praça Onze de Junho, como se lê na nota do DOU.
Mas reparem que no mesmo comunicado nos é informado que, simultaneamente, a agencia postal MRJ 268 Praça Onze de Junho está sendo transferida para a Praça Municipal, com esse nome, “passando a funcionar apenas como coletoria”.
Apesar de a tal agência ter funcionado sob a denominação de Praça Municipal por apenas seis meses (foi renomeada Rua Camerino como veremos em seguida), tive a felicidade de conseguir exemplares dos dois turnos:
MRJ 597 – Praça Municipal (1932)
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A rua Camerino
Volto a chamar atenção à frase “apenas como coletoria” no comunicado anterior, que se interpreta como um sinal de coisa provisória. E assim foi. Sem nenhum comunicado no boletim postal, carimbos de uma agencia APT Rua Camerino aparecem já em março de 1933. Tenho também menções no DOU em junho desse ano sobre o agente postal.
A rua Camerino nº 70 era o endereço da antiga sucursal e portanto faz sentido o novo nome da agencia. No atual mapa Google é o edifício de três janelas na extrema esquerda da foto. A praça em frente se chamou Largo da Imperatriz (1843) e, com a republica, Largo da Redenção. Em 1904 foi renomeada Praça dos Estivadores (nome atual), depois que aí se instalou o respectivo sindicato da classe. Um casario belíssimo mas hoje um tanto deteriorado. O topônimo homenageia Francisco Camerino, um herói da guerra do Paraguai.
Sob o nome de Rua Camerino a agencia funcionou por mais de 20 anos e dela consegui encontrar carimbos inclusive nos primeiros dias de funcionamento
MRJ 598 – Rua Camerino (1933-1956)
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