Agencias Postais em Vilas Populares

Tudo começou com minha curiosidade sobre a agencia Avenida Ruy Barbosa que eu imaginava estar em Botafogo até descobrir que ela não havia ainda sido construída. A pesquisa acabou por revelar uma fascinante história no centro da cidade que resolvi contar em uma monografia que publiquei em 2018. Mais tarde, decidi aprofundar o tema “projetos de habitações populares na cidade do Rio de Janeiro” (e suas respectivas agencias) cujos resultados consolidei no presente artigo.

INDICE

CAPÍTULO I – As iniciativas pioneiras no século XIX

    • Villa Ruy Barbosa
    • Villa Arthur Sauer
    • Villa Senador Soares e Villa Maxwell
    • Villa Sampaio

CAPÍTULO II – As Villas Proletárias no século XX

    • Villa Salvador de Sá
    • Villa Pereira Passos
    • Villa Orsina da Fonseca
    • Vila Marechal Hermes

 


CAPITULO I – AS INICIATIVAS PIONEIRAS (século XIX)

O grande crescimento da população urbana da cidade no século XIX trouxe déficit habitacional e a consequente proliferação de “cortiços” e “casas de comodo” com péssimas condições sanitárias. Algumas melhorias foram introduzidas com as “estalagens” – pequenas casinhas de porta e janela ao redor de um pátio central.

Revista Renascença, ed. nº 13 – março de 1905 – pagina 90.

As iniciativas

O decreto imperial 3151 de 9 dezembro de 1882 é o ponto de partida ao estabelecer as condições especiais do poder público que viabilizariam os projetos. Reproduzo seu artigo inicial:

“Art. 1º O Governo fica autorizado para conceder a Americo de Castro e ás emprezas que se organizarem com o fim de construir edificios destinados à habitação de operarios e classes pobres, na cidade do Rio de Janeiro e seus arrabaldes, segundo os planos mais convenientes approvados pelo mesmo Governo, os seguintes favores (…)”

Assim, a Companhia Evoneas Fluminense é constituída por Américo de Castro e outros sócios capitalistas, e submete seus projetos ao poder público. Já na República, o Decreto nº 639 de 09/08/1890 do Poder Executivo Federal (D.O.U. 31/12/1890) ratifica o disposto pelo governo imperial e aprova os planos apresentados pela Companhia:

“O Generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca (…) attendendo ao que requereu a Companhia Evoneas Fluminense, (…), relativa á construcção de edificios para habitação de operarios e classes pobres, resolve approvar os planos apresentados (…)”

Infelizmente, porém, parece-me que os projetos superestimaram a capacidade de gestão e financeira da companhia. Em 1896 já aparecem na imprensa avisos de leilão das propriedades de Botafogo e Tijuca e em 1900 a liquidação da companhia era publicada no Diário Oficial da União. A companhia no entanto marcaria a história, tendo cunhado o termo “evonea” como sinônimo da habitação popular.

Melhor sorte teria o engenheiro Arthur Sauer que em 1899 incorporaria a Companhia Saneamento do Rio de Janeiro. As duas imagens abaixo são do Annuario Commercial do Almanak Laemmert de 1922 (Hemeroteca da BN):

Seus projetos previam a construção de diversas “Villas”, conforme consta da mesma publicação citada acima:

Várias seriam construídas teriam agencias postais, como veremos a seguir.

HISTÓRIA


Villa Ruy Barbosa


Revista Renascença edição nº15, março de 1905 (Hemeroteca da BN)

O primeiro empreendimento, a Villa Ruy Barbosa, foi lançado em 1890 na Rua dos Inválidos 24 em terreno de uma antiga chácara que compreendia todo o quarteirão entre essa rua e as do Senado, Ubaldino do Amaral e Henrique Valadares, numa área de 25 mil metros quadrados. O empreendimento previa 145 casas e 324 cômodos para solteiros distribuídos por duas ruas e três travessas calçadas e arborizadas, com adequadas condições de saneamento. O empreendimento só ficaria totalmente pronto em 1912. A imagem a seguir dá uma ideia do aspecto interno da vila.

Imagem Revista Renascença edição nº15, março de 1905 (Hemeroteca da BN)

 

A comunidade prosperou, tendo como moradores ao longo do tempo ilustres personagens, conforme nos conta Celso Balthazar em seu livro No Tempo da Vila Rui Barbosa. Vários serviços se instalaram na comunidade – tais como açougues, bares e armazéns, além de uma agencia postal, conforme veremos adiante.

A planta abaixo reproduz o traçado da vila, estando em verde as áreas construídas e em vermelho a provável localização da agencia (em amarelo, casas hoje preservadas).

Planta do terreno da Vila Rui Barbosa. Croquis © Paulo Novaes, 2018

 

As duas maiores ruas internas eram a rua Ruy Barbosa – homenagem ao então deputado – logo depois renomeada Rua Dídimo, nome que ainda hoje conserva, e a travessa Maria Augusta, em 1934 renomeada Leon Simon, chefe da família que assumiu o empreendimento posteriormente. Seguem  referencias que encontrei sobre elas. São imagens do Almanak da Gazeta de Noticias de 1899 (Hemeroteca da BN).


A “AVENIDA RUY BARBOSA”

Curiosamente o empreendimento passará a ser conhecido por “Avenida Ruy Barbosa”, como atestam as referências na imprensa da época em artigos de 1892 e 1910.

Almanak Laemmert 1892

Correio da Manhã, ed. 27/03/1910 (Hemeroteca da BN)

Demorei a entender por que o empreendimento era referido por “Avenida”, já que todo o memorial descritivo o nomeava “Villa”. Finalmente, uma pista surgiu na leitura do já citado nº 13 da revista Renascença de 1905 que traz a matéria “Onde Moram os Pobres” de autoria do engenheiro Everardo Backhauser. Em sua análise das condições habitacionais da época ele redige na página 92 o parágrafo que transcrevo abaixo:

“…Essas habitações tendem e hão de desapparecer si os futuros administradores municipais seguirem a recta norma que está hoje traçada e (…) deixar que floresçam nesses mesmos locais as encantadoras “villas operarias”. Os “cortiços” e “estalagens” já vão cedendo lugar a essa outra habitação popular que o vulgo e a sisuda linguagem offical classificaram de “avenidas”. A “avenida” é afinal uma estalagem aperfeiçoada. Uma rua central, calçada e com passeios ladeada por casinhas.”

Eis o mistério desvendado. Trata-se do único texto que encontrei na imprensa que introduz o termo avenida como sinônimo de uma vila de habitação popular. No entanto, Mestre Aurélio a registrou em seu dicionário. O verbete avenida, acepção 4. traz: “Bras. V. vila¹ (3)”. O que nos remete ao verbete vila¹ cuja acepção 3 reza: “Conjunto de pequenas habitações independentes, em geral idênticas e dispostas de modo a que formem uma rua ou praça interior, por via de regra sem caráter de logradouro público; avenida”. Bingo: eis a descrição exata da nossa Villa Ruy Barbosa.


A Agencia Postal “AVENIDA RUY BARBOSA”

A imagem é do Relatório Postal de 1896 descrevendo a rede de caixas postais no centro da cidade. Repare que ele coloca no endereço da caixa nº 3 a Rua dos Inválidos n.24, Avenida Ruy Barbosa (Villa). Ainda não existia a agencia, que vai ser instalada no local em 1902.

A agencia foi criada em 16 de julho de 1902 como “Avenida Ruy Barbosa” (fonte: BP).

Já o Guia Postal de 1906 – ao invés de Avenida Ruy Barbosa traz o verbete: Villa Ruy Barbosa, habitação colectiva, agencia urbana de 3a. classe (..) situada na parte da villa desse nome que dá para a Rua do Senado (…)Já esta nota, de 1910 reconfirma o nome anterior.

Gazeta de Noticias, ed de 06 /02/1910 (Hemeroteca da BN)

 

A agencia seria fechada em 25 de julho de 1911 e seus serviços transferidos para a nova agencia recém-aberta na avenida Gomes Freire, 13 (fonte: Boletim Postal).

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Carimbos

MRJ 149A Avenida Ruy Barbosa (1902-1911)

A imagem é do acervo do colega Helio A. Moura Fº.  A data de postagem, 2 de fevereiro de 1907. O texto traz ainda uma curiosa referencia ao tema: “tenho passeado muito e já conheço as avenidas, são muito lindas

 


A decadência da Vila

Nos anos 1960 a vila já estava em franca decadência, tendo mudado de donos algumas vezes. Em 1968 o proprietário faz demolir toda a quadra entre a Rua Dídimo e a Ubaldino do Amaral para a construção de um gigantesco conjunto de edifícios de 15 pavimentos (ao fundo à direita na imagem abaixo). Algumas poucas casas (em marcador amarelo no croquis) foram poupadas na esquina da Rua do Senado e em sua maioria estão hoje abandonadas.

O restante do terreno foi invadido até que, em 2008, iniciaram-se as obras das modernas torres do Centro Empresarial Senado que seriam ocupadas pela Petrobras. O projeto preservou e reformou algumas casas na esquina das ruas Henrique Valadares e Inválidos, local assinalado em marcador amarelo no croquis ao alto. A imagem abaixo apresenta o conjunto das três épocas: a original preservada em primeiro plano, o Centro Empresarial em segundo e ao fundo à direita o edifício dos anos 1960.

Foto de Marcia Foletto em matéria de O Globo

 


Villa Arthur Sauer


A Villa Arthur Sauer foi construída em 1891 na atual rua Pacheco Leão, entre as atuais ruas Estela e Caminhoá (esta, à direita na imagem), no Jardim Botânico, nas proximidades da então Fábrica de Tecidos Carioca.

Revista Renascença n. 15 edição de maio de 1905 (Hemeroteca da BN)

Posteriormente, todo seu entorno foi construído e o conjunto todo passou a ser conhecido por Chácara do Algodão. A quadra original pode ser vista nessa imagem do Google Maps em 2018:

O bairro, entre as ruas Estela e Alberto Ribeiro, foi tombado em 1987 pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Veja abaixo imagem do Google Maps (2018):

A maioria das casas está bem preservada, como mostra detalhe da rua Caminhoá (Google Maps 2018):

Não há registro de agencia postal no bairro nessa época.


Villa Senador Soares e Villa Maxwell


As duas Villas seguintes foram construídas em Vila Isabel, próximas à Companhia de Fiação e Tecidos Confiança Industrial. Conhecida como Fábrica Confiança, foi fundada pelo Barão de Maxwell em 1885 na rua que leva seu nome; fechou em 1960. O edifício, lindíssimo, tem sua fachada tombada pelo município.

Compositor famoso de Vila Isabel, Noel Rosa imortalizou a fábrica em sua composição “Tres Apitos” de 1933. OUÇA AQUI.

“Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro”

Fabrica Confiança (Google Maps 2018)

MRJ 650 Rua Dona Elisa (ND-1898)
MRJ 651 Rua Teodoro da Silva (1898-1902)

A agencia postal “Dona Elisa” foi criada ao lado da fábrica, na rua Dona Elisa, atual Artidoro da Costa. Ela foi transferida logo após para a rua Teodoro da Silva, também nas proximidades. Infelizmente, não tenho imagens.

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Villa Senador Soares

A Villa Senador Soares foi construída entre as ruas Araújo Lima, Maxwell e Senador Soares. Pouco preservadas, somente poucas casas mantém o aspecto da época.

Villa Senador Soares (Google Maps 2018)

Villa Senador Soares (detalhe – Google Maps 2018)

O desenho das janelas reflete a época em que foram construídas e podem ser comparadas com as outras vilas mostradas neste trabalho.

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Villa Maxwell

Também em 1891 foi construída a Villa Maxwell, ao lado da fábrica, na esquina das atuais ruas Artidoro da Costa e Souza Franco. Durante a construção a empresa já estava em más condições financeiras e somente 11 casas foram concluídas. Poucas sobraram.

Villa Maxwell; o prédio da fabrica está logo à esquerda (Google Maps 2018)

Villa Maxwell – detalhe (Google Maps 2018)

 


Villa Sampaio


Como se vê no documento da Companhia de Saneamento, o projeto previa também a construção de Villas ao lado das estações de subúrbio da EF Central do Brasil. Das estações de Riachuelo, Rocha e Sampaio, somente esta última foi entregue, num total de 66 casas.

Completamente descaracterizada, foi bastante difícil encontrar vestígios da vila, embora o documento seja claro: “em frente à estação Sampaio”. Finalmente, com a ajuda de um mapa antigo de ruas, foi possível encontrar referencias das travessas que a ladeiam: Maria Justina e Coronel Soares:

Ambas as ruas mencionadas “ao lado da Villa Sampaio

 

Abaixo, vista parcial da Vila; note a estação Sampaio acima à direita (Google Maps 2018)

Abaixo, detalhe de uma das poucas residências visíveis entre os muros. Reparem no detalhe do desenho das janelas (Google Maps, 2018)

Felizmente, consegui localizar uma agência postal aqui também. Trata-se da MRJ 530, Agencia Sampaio, criada em 19/09/1890. Mais interessante ainda, o Almanaque Garnier de 1903 informa como seu endereço a “Vila Sampaio”. Pelos menos por algum tempo a agencia fez parte da vila – quem sabe esse carimbo abaixo não foi batido lá?

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Encerrando este capítulo sobre as iniciativas pioneiras em habitações populares, cito como bibliografia o livro “O Rio de Janeiro e Seu Desenvolvimento Urbano” de Rodrigo de Faria e Vera F. Rezende publicado em 2017 pela Editora Letra Capital. Edição esgotada nas livrarias, pode ser consultado parcialmente em books.google.com.br  Extraio dele o parágrafo com que fecho o assunto:

 


CAPÍTULO II – AS VILLAS PROLETÁRIAS

Vilas operárias na gestão do Prefeito Pereira Passos (1902-1906)

Antes de mais nada, vale mencionar talvez a primeira iniciativa de habitação conduzida pelo poder público – no caso, a Prefeitura. No bojo de sua administração reformista, o prefeito Pereira Passos construiu duas vilas operárias: uma na Cidade Nova e outra no Catete.


Villa Salvador de Sá


Construída na Avenida Salvador de Sá, num total de 105 casas. O conjunto está em adiantado estado de deterioração apesar de (ou talvez devido a) ser um conjunto tombado. Veja imagem do Google Maps (2018):

Uma agência postal foi criada no local: trata-se da MRJ 274  “Avenida Salvador de Sá”. A primeira informação de endereço é o nº 107 da avenida, depois mudado para o nº 164. A imagem abaixo mostra o atual nº 107 e seu estado de conservação

MRJ 274 Avenida Salvador de Sá ( 1909-1933)

Google Maps 2018

 


Vila Operária Pereira Passos


Possuía apenas 31 casas, no mesmo estilo das da Cidade Nova, mas ficava num local mais nobre, no outeiro da Gloria no bairro homônimo e bem próximo ao palácio do Catete, sede do governo federal. Foi construída no logradouro então conhecido por  “Becco do Rio” (local ao centro da imagem abaixo):

Becco do Rio, imagem do Guia Rex de 1946

Iniciado em 1906 entregue em 1909, o conjunto recebeu o nome de Vila Operaria Pereira Passos em homenagem ao ex-prefeito – seu idealizador. A região passaria por grande reforma urbana com as obras do Metro-Rio nos anos 1980. Não há vestígios do beco e da vila operária – hoje nessa área estão o CIEP Presidente Tancredo Neves (o primeiro da cidade) e uma unidade da Guarda Municipal.

Mapa da cidade em 2010, Guia 4 Rodas, Editora Abril onde consta a Al. Aimorés

 

No entanto, vale mencionar uma obra vizinha e contemporânea. Na rua paralela, morro acima, conhecida como Alameda Aimorés, foi construída a Villa Aymoré nos anos 1910. Nada semelhante a uma vila operária, um total de 10 casas, todas nomeadas com nomes indígenas, foi uma iniciativa do comerciante e industrial Antonio Mendes Campos.  Este seria homenageado dando nome à nova rua que corre paralela à rua do Catete (vide mapa acima).

Acompanhando o declínio dos bairros da Gloria e do Catete com a transferência da capital, o conjunto estava em franca decadência no final do século, com alguns imóveis quase em ruínas. Felizmente, foi adquirida por um grupo de investidores em 2010 na onda de otimismo que se criava com os megaeventos previstos para a cidade. Hoje um conjunto comercial, sua notável arquitetura pode ser apreciada na esquina da Ladeira da Gloria com a Alameda (esta uma via particular) e é tombada pelo município.

Abaixo, imagem lateral da Vila tomada da rua Antonio Mendes Campos:

Villa Aymore (Google Maps, 2018)

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O Presidente Hermes da Fonseca

Em março de 1910 as eleições presidenciais apontaram Hermes da Fonseca como novo presidente do Brasil. A posse teve lugar em novembro do mesmo ano. Casado desde 1874, sua esposa, Orsina da Fonseca, tinha gosto por projetos sociais, tanto que, após sua morte em 1912, recebeu como homenagem a incorporação do seu nome ao então Instituto Profissional Feminino.

O fato é que, logo no início de seu governo, Hermes publicou o Decreto 2407 de 18 de janeiro de 1911, que traz como subtítulo “Concede diversos favores ás associações que se propuzerem a construir casas para habitação de proletarios e dá outras providencias”. Saliento também seu Art. 7º: “O Poder Executivo fica autorizado a auxiliar as associações cessionarias da construcção de casas populares com emprestimos da Caixa Economica (…)

Chama a atenção a nova nomenclatura utilizada para as iniciativas de habitação popular: “casas populares” e “habitação de proletários”.

Cabe aqui a transcrição de um parágrafo do artigo de Vilma Homero no site da Faperj em 2014, que resume bem as próximas iniciativas:

Durante a gestão do presidente marechal Hermes da Fonseca houve pela primeira vez a preocupação em intervir no espaço urbano de forma planejada, na criação de bairros inteiros, as chamadas vilas proletárias. A ideia era marcar três pontos cardeais distintos na cidade: Gávea, o limite da periferia urbana ao sul, densamente ocupada pelos operários das fábricas têxteis Corcovado, Carioca e São Félix, onde foi construída uma vila em 1913, batizada como Vila Orsina da Fonseca, em homenagem à esposa do marechal presidente; Manguinhos, zona em franca industrialização, nas proximidades do recém-inaugurado porto e servida por bondes e pelas estradas de ferro da Leopoldina, Auxiliar e Rio D’Ouro, foi o espaço escolhido para a segunda vila proletária; e os terrenos vizinhos à Vila Militar, projeto mais ambicioso, onde se ergueriam moradias para cinco mil pessoas, com infraestrutura de hospitais, escolas, teatro etc. Seria, portanto, um grande bairro planejado como até então nunca se vira.”


Villa Orsina da Fonseca


Também chamada na imprensa de Vila Operária ou Vila Proletária Orsina da Fonseca, ela foi inaugurada a 15 de novembro de 1913 no bairro da Gávea. A primeira Villa a ficar pronta homenageou em seu nome a recém-falecida esposa do presidente. Segundo notas da imprensa, ela terá 72 habitações e duas escolas profissionais sendo uma masculina e outra feminina. Seu objetivo era atender às necessidades de habitação das grandes indústrias têxteis que funcionavam entre a Gávea e o Jardim Botânico.

Edição de A Noite de 25.11.1913 (Hemeroteca da BN)

Mesma vista na atual rua Major Rubens Vaz (Google Maps, 2018)

Como sempre, a má qualidade de gestão do empreendimento e dificuldades financeiras do poder público motivaram a venda da Vila pelo Patrimônio de Tesouro. A primeira tentativa, em 1916, não encontrou interessados. Os edifícios das escolas nunca foram incluídos e hoje abrigam duas Escolas Municipais: a Júlio de Castilhos e a Manoel Cícero. O conjunto está preservado e foi tombado nos anos 1990.

As duas escolas com a Rua Orsina da Fonseca no meio (vista da Praça Santo Dumont, Google Maps 2018)

MRJ 353 agencia urbana “V” Largo de NS da Conceição (1872-1878)

Tivemos uma agência postal de 1872 a 1878, ainda no Império, no Largo de Nossa Senhora da Conceição, atual Praça Santos Dumont, próxima ao local das escolas. Infelizmente não tenho imagens de carimbos.


Villa Proletária Marechal Hermes


Aproveitando o feriado operário do dia 1º de maio de 1911 o presidente Hermes compareceu ao local para assistir à colocação da pedra fundamental do empreendimento, de longe a maior e mais importante das vilas. Já próximo ao final do seu mandato a inauguração aconteceria também num primeiro de maio três anos após, em 1914.  Na imagem, aproximadamente dessa época, destaca-se a estação ferroviária à sua porta e o cinema Lux, à esquerda, na praça de entrada.


O conjunto perdeu muito de suas características originais, porem a elegância de seu traçado planejado ainda se destaca. Recentemente vários prédios foram tombados; destes, eu escolhi o da Escola Evangelina Duarte Batista, na praça Montese (imagem do Google Maps).

O projeto contemplava vários serviços, tais como os já citados cinema e escolas. Mas também previa uma agência postal, que foi criada logo após a inauguração, em 25 de agosto de 1913 e denominada agencia Vila Proletária Marechal Hermes, nome que seria simplificado para Marechal Hermes em 1928. Seu primeiro endereço era também a Praça Marechal Deodoro, atual Praça Montese. Abaixo, imagem de carta de 1924 e repare na legenda superior: “Villa Proletária” (coleção do autor).

MRJ 509 Vila Proletária Marechal Hermes (1913-1928)

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Para encerrar este capítulo, vale lembrar que havia um terceiro projeto, a Villa Proletária Manguinhos, a ser construída no bairro de mesmo nome. No entanto, existem somente vagas referencias a um projeto do mesmo porte que o Hermes referido anteriormente, mas que nunca chegou a ser iniciado.

 


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