O nome do bairro deriva do rio Catete, que corria paralelo à rua, por sua vez construída seguindo o Caminho do Catete que era utilizado pelos índios Tamoios habitantes da região. Em tupi, significa “mata imensa”.
Nessa rua está localizado o belo Palácio do Catete (imagem do Arquivo Nacional), sede do governo republicano do Brasil de 1897 até 1960 [1]. Juscelino foi seu último ocupante. A proximidade ao poder fez do Catete uma região nobre, com inúmeros sobrados e palacetes hoje lamentavelmente mal preservados. Com a mudança da capital federal o bairro perdeu muito do seu glamour, encontrando-se hoje descaracterizado.
Atualmente o prédio abriga o Museu da República. A imagem acima, da escadaria principal na chegada ao segundo andar, dá uma ideia da suntuosidade da decoração, inspirada nos palácios da Itália renascentista.
Quadro de Agencias Postais
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No mapa abaixo, de 1910, os locais das agencias originais da Praça Duque de Caxias e da Rua do Catete.
O principal logradouro do bairro é o Largo do Machado que, diz a lenda, era assim conhecido desde o início do século XVIII devido um grande machado de madeira que anunciava um açougue local, de propriedade de um certo Machado. Com a inauguração da Igreja Nossa Senhora da Gloria em 1843 – pelo então jovem D. Pedro II – o local passa a ser conhecido como Praça da Glória ou Largo da Matriz da Gloria (não confundir com a capela homônima no Outeiro da Gloria). A Igreja pode ser vista ao fundo na imagem abaixo.
Seu nome foi alterado em 1869 para Praça Duque de Caxias em homenagem ao herói da Guerra do Paraguai. Mais tarde, em 1899, um monumento a Duque de Caxias foi nela inaugurado com a presença dos presidentes do Brasil e Argentina.
Com a transferência do monumento em 1953 para a av. Presidente Vargas, em frente ao Ministério da Guerra, no mesmo local foi erigido pela Arquidiocese a estátua da Santa (imagem ao lado).
A praça retomaria então o nome original de Largo do Machado que mantem até hoje.
O Correio Urbano Imperial
O Decreto Imperial de 1865 continha a regulamentação do Serviço de Correio Urbano na cidade do Rio de Janeiro. Assim, entre 1868 e 1877 foi implantada uma rede de 25 agencias identificadas por letras de A a Z.
O Catete teve o privilégio de receber duas agências, como se pode ver no mapa mais acima. Ambas foram criadas em 1º de novembro de 1868. A da Rua da Catete recebeu a letra “A” e a da Praça da Gloria recebeu a letra “B”.
As agencias urbanas do império utilizaram duas séries de carimbos de letras, sendo a segunda bem mais difícil de encontrar. O assunto foi explorado em detalhes no menu “Correio Urbano do Imperio“ que vale explorar.
MRJ 117 – Agencia Urbana “A” Rua do Catete (1868-1882) 1a. série
Esta série é a mais comum. Foram 25 agencias numeradas de “A” a “Z”. Destas, P.A. apresentou 12. Da agencia “A” tenho o desenho PA 1022 e algumas reproduções.
MRJ 117 – Agencia Urbana “A” Rua do Catete (ND) 2a. série
Desse série, conheço desenhos ou imagens de 6 agencias, das 25 que eventualmente as tenha usado.
O desenho do exemplar de 2a. serie da agencia “A” consta do livro “Um estudo da coleção de matrizes do MPT” de autoria de Cicero A.F. Almeida, publicado pela EBCT em 1989.
MRJ 118 – Agencia Urbana “B” Praça da Glória (1868-1869) 1a. serie
Esta agencia foi renomeada duas vezes, como se vê abaixo [2]. Como os exemplares que possuo são todos da emissão Dom Pedro 1866, eu os classifiquei como se fossem da MRJ 118. Somente uma sobrecarta datada poderia dar comprovação.
MRJ 119 – Agencia Urbana “B” Praça Duque de Caxias (1869-1878)
sem imagens
MRJ 120 – Agencia Urbana “B” Rua do Catete (1878-1882) 2a. serie
O desenho do exemplar de 2a. serie consta do livro “Um estudo da coleção de matrizes do MPT” de autoria de Cicero A.F. Almeida, publicado pela EBCT em 1989. Na mesma publicação consta imagem semelhante da agencia “I”, da qual tenho exemplar de 1885. Desse modo, pressupus que os demais teriam circulado por volta desse ano, ou seja, na época da agencia MRJ 120. Detalhes no menu Correio Urbano.
As Agencias Urbanas na Republica
No alvorecer da República, com base em um projeto ministerial no ocaso do Império, uma nova rede de Agencias Urbanas foi implantada em 30 de dezembro de 1889, com objetivo de descentralizar algumas responsabilidades do Correio Central.
Foram implantadas 12 agencias, que também receberam identificação por letras. No primeiro grupo de oito agencias, coube ao Catete a letra “D”. Foi sucedida (ou renomeada) em 1897 pela agencia “Praça Duque de Caxias”. O assunto está abordado na matéria “Sucursais do DF“.
MRJ 121 – Agencia Urbana “D” Praça Duque de Caxias (1890-1897)
Vale uma observação. Há documentação da criação dessa agencia, mas como não possuo de imagens desse carimbo, apresentei um layout semelhante aos demais dessa série, indicando em vermelho o local onde haveria as letras D.
MRJ 122 – AP Praça Duque de Caxias (1897-1902)
Sabemos oficialmente que a Urbana “D” foi fundida com a AT Praça Duque de Caxias, assumindo esse nome e transferida para esse endereço em 05/08/1897. A agencia funcionaria até 1902 quando foi substituída por uma nova rede, a das Succursais (confira datas no quadro de agencias acima)
Não tenho imagens
O projeto republicano de Sucursais
Vale a leitura da matéria “Sucursais do Distrito Federal”.
Sucessora das “agencias de letras”, uma nova rede foi criada pela portaria de 27 de janeiro de 1901 baseada em um detalhado pré-projeto (não implantado) de 1896. Composta inicialmente por seis sucursais com o Catete recebendo a Sucursal nº 2 – Praça Duque de Caixas.
Como habitual, os atos de criação e fechamento das sucursais não costumavam ser publicados no Boletim Postal. Neste caso, a data surge no Relatório dos Correios do ano 1903, que informa a inauguração da sucursal “Praça Duque de Caxias” em 13 de abril de 1902 e em seguida descreve em detalhes sua operação no ano anterior.
Por sua vez, a agencia regular que funcionava no local (a MRJ 122) foi suspensa pouco depois em 20 de maio de 1902 e transferida em 28 de novembro desse ano para a Praça Onze de Junho na Cidade Nova (fonte: BP), como corolário da criação da sucursal no mesmo bairro.
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MRJ 123 – Sucursal n°2 Praça Duque de Caxias (1902-1932 e 1933-1940)
No intervalo 1932-1933 a sucursal foi temporiamente realocada para a agencia da Rua do Catete (MRJ 128) sobre a qual falaremos mais adiante.
Pela extensão do arquivo, apresentarei os carimbos cronológica e tematicamente:
Tipos “Distribuição”
Os primeiros carimbos da sucursal (1902-1906) estão organizados pelas diversas distribuições ao longo do dia. A portaria de 1901 previa quatro distribuições diárias, mas pela análise dos carimbos, notamos que pelo menos a partir de 1904 foi implantada também uma quinta.
Para introduzir o próximo tipo, relembro que os carimbos das cinco distribuição regulares apresentados anteriormente tem orelhas esquerdas grafadas “1A.” (1ª a 5ª) e direitas “D.” (Distribuição). É o que encontramos normalmente nas sucursais e agencias que possuem várias distribuições diárias.
Mas o tipo seguinte é bastante original pois trazem “M” e “5A.” respectivamente. Notem no exemplar destacado que é o mais completo e levemente retocado:
Não encontrei similares em nenhuma outra agencia. Os poucos “M” que apareceram se referem claramente à abreviação Manhã e na orelha direita normalmente trazem DF, como o exemplo abaixo, da mesma sucursal.
Mas neste caso, manhã não faria sentido: “5a. distribuição manhã”? Poderia talvez ser Mala como na próxima série, que também tem 5 remessas. As datas entre 1910 e 1914 conferem. Mas por que existiriam dois carimbos diferentes com o mesmo objetivo? De qualquer modo, deveriam aparecer as outras quatro, vamos aguardar.
Por último: mas por que “mala”, se existiram os carimbos a seguir?
Tipos “Mala”
Em seguida temos a série referente à expedição de malas também prevista na portaria. Nela consta a obrigação de enviar várias malas durante o expediente para o correio central. No caso, tenho carimbos da 1A. à 5A. malas, faltando-me exemplar da quarta. Os carimbos não mais apresentam orelhas e estão datados de 1912 a 1918 (ver mais adiante os carimbos de serviço sobre vale postal).
Tipos Barra-Dupla (1914-1929)
A próxima série é de carimbos “barra dupla” T5h usados igualmente pelas sucursais irmãs nessa mesma época, como a de Botafogo por exemplo. Circularam por bastante tempo, cobrindo pelo menos três consecutivas emissões de selos regulares. Não há mais menção explícita à distribuição nas legendas mas, como o datador têm espaços para dígitos de controle, estes foram utilizados para esse efeito como se vê nas peças filatélicas assim classificadas mostradas abaixo.
Tipos Regulares (1928-1943)
Os próximos exemplares (tipos T9 e T10) usam legendas Manhã e Tarde para identificar as duas malas diárias. Notem que os últimos carimbos da série – tipo T13 – trazem na orelha o “M” e o “T” com o mesmo significado.
Carimbos mecânicos obliteradores
O único exemplar na coleção é do tipo “F” usado entre 1933 e 1967. Notem a singela legenda inferior “Suc.2”
Carimbos mecânicos propagandísticos
Também com legenda Suc. Nº2. Essa legenda “Natural Beauties” foi usada somente nesta agencia. Assim podemos dizer que a encontramos nas filigranas de H a K da série vovó.
Carimbos de Serviço
Os vales postais a seguir permitem um comentário geral sobre “os selos de prêmio” que pagam o porte do serviço. No primeiro caso, de 1913, utilizou-se um carimbo regular apresentados anteriormente na página do serviço de malas. Vê-se que houve o cuidado em se omitir o numero da mala, pois não se tratava de carimbo operacional.
No segundo caso, já se utiliza de um carimbo de serviço mais específico da Thesouraria aplicado sobre selo regular.
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Em decorrência da criação do DCT em 1931 a sucursal Praça Duque de Caxias, num ato pouco usual, foi renomeada Catete como resultado de sua fusão com a estação telegráfica Largo do Machado. Conseguiram assim os Correios juntar os três topônimos históricos numa mesma nota oficial publicada no DOU em 3 de fevereiro de 1932. Creio que ela foi temporariamente realocada no local da agencia da Rua do Catete (MRJ 128) que havia sido recém fechada. Teve breve existência pois, um ano depois, uma nota do Boletim Postal nos informa que a sucursal retornou ao nome anterior.
MRJ 123A – Sucursal do Catete (1932-1933)
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O FIM DA SUCURSAL E A VOLTA DA AGENCIA APT DUQUE DE CAXIAS
Novamente o Boletim Postal manteve silêncio sobre a desativação da sucursal. Felizmente neste caso a imprensa nos informou que em 24 de dezembro de 1940 com a presença do Ministro e do DGC foi inaugurada a “nova sede” da APT Praça Duque de Caxias num edifício recém-construído. A imagem é do Jornal do Commercio que, ao transcrever a primeira frase do discurso do DGC no último parágrafo, nos deixa claro o objetivo do ato público. Embora não esteja explícito, adotei a mesma data como a de extinção da sucursal.
MRJ 124 – APT Praça Duque de Caxias (1940-1952)
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Sabemos ainda que em 1943 havia sido criada a APT Quartel General no novo edifício do Ministério da Guerra inaugurado em 1941. Em 1949, o monumento a Duque de Caxias foi transladado para a praça homônima em frente ao novo ministério. No local vago a Arquidiocese construiria o monumento a N.S. da Gloria.
Assim a praça retomou o nome de Largo do Machado que remonta ao século XVIII. A agencia homônima foi criada no início de 1952. A informação é do DOU ao informar que nessa data estava registrada uma funcionária como fiel.
MRJ 125 – AC Largo do Machado (1952 – )
Carimbos mecânicos – Franquias
Carimbos de serviço
Outras agencias do bairro
Na relação do Almanaque Laemmert “agencias e locais onde se vendem selos” consta a rua Bela da Princesa, cujo nome homenageava a princesa Carlota Joaquina, esposa de D. João VI. Hoje se chama rua Correia Dutra. Vale mencionar como curiosidade que ela tinha uma rua irmã, a rua Bela do Príncipe, que é a atual Silveira Martins. Ambas são travessas da rua do Catete próximas ao Palácio do Catete. Não tenho certeza se a agencia chegou a ser instalada.
MRJ 126 – Rua Bela da Princesa (1881-1882) sem imagens
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A agencia Rua do Catete tem uma história curiosa. Foi criada em 1908 como a segunda agencia do bairro já que a primeira era desde 1902 a sucursal na Praça Duque de Caxias. Tudo funcionou bem até o decreto 19.514 de 20 de dezembro de 1930, em pleno vigor do “governo provisório” getulista. O decreto, entre outras coisas, estabelecia dentre as medidas de economia o fechamento de todas as agências “próximas à Administração ou às Sucursais”, o que era o caso da MRJ 128. Mas, por motivos não esclarecidos, meses depois, em 3 de fevereiro de 1932 a própria sucursal foi transferida para esse local e, um ano depois, transferida novamente para a praça. Reformas? Não sei. Somente seis décadas depois uma agencia franqueada receberia o nome de Rua do Catete.
MRJ 128 – Rua do Catete (1908-1931)
Carimbos de serviço
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A única agencia franqueada do bairro foi criada logo no início da terceirização mas extinta junto com as demais ACF para regularização dos contratos.
MRJ 130 – ACF Catete (1992-2012)
Notas e informações
[1] A história do edifício do Palácio do Catete
Entre 1858 e 1860, o português Antônio Clemente Pinto, Barão de Nova Friburgo, adquiriu as casas de número 159, 161 e 163 do Caminho do Catete e seus respectivos terrenos de fundos, que se estendiam até a Praia do Flamengo. Fazendeiro e comerciante de café, banqueiro e industrial, o barão chegou a ser o homem mais rico do Brasil durante o Segundo Império. A imagem mostra a escadaria principal na chegada ao segundo andar. A construção do então Palácio Nova Friburgo, que seria a residência do barão e de sua família, terminou em 1866; o projeto foi do arquiteto alemão Carl Waehneldt e o jardim do paisagista francês Auguste Glaziou. Com o advento da república, o palácio foi vendido a investidores que posteriormente o repassaram à União. Em 1896, no governo Prudente de Moraes, o palácio foi requisitado para instalação da sede da Presidência da República, que até então havia sido o Palácio do Itamaraty.
[2] MRJ 120: no caso, o endereço é rua do Catete, 204. Portanto pode simplesmente significar uma transferência de local dentro do quadrilátero da praça uma vez que, como se vê no mapa de 1910, a rua do Catete passava junto à praça. E, segundo a nota [3] seguinte, a numeração é bem mais à frente na rua do que a MRJ 127.
[3] Reproduzo aqui a nota da monografia de Paulo Comelli (Correio Urbano na Corte) sobre o mesmo verbete (MRJ 127), pois ela traz mais detalhes: “Rua do Cattete, nº 2 A – encarregado: Manoel Luiz Pereira de Andrade – Em 1874 transferiu-se para a Rua do Cattete, nº 41. No ano de 1877 mudou-se para o número 42 da mesma rua. No ano de 1878 mudou para o número 75 da mesma rua. Criada 8.10.1868 (NN). Provavelmente essa é a data de instalação indicada por Nova Monteiro, já que fez parte da relação das agências criadas em 1867, conforme o Relatório Ministerial. Agência não listada por RK em seu trabalho de carimbologia do Brasil Império”.
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