Freguesia de Iguassu

Municípios Extintos no Rio de Janeiro

A  ‘VILLA DE IGUASSU’

Prólogo: Abro este artigo observando que, oficialmente, essa vila não foi extinta, pois a sua sede foi transferida para Maxambomba (hoje Nova Iguaçu).  O fato é que, como veremos ao longo do texto, uma importante unidade político-econômica representada pelas freguesias de Iguassu e de Santana das Palmeiras desapareceu e de suas sedes só restam umas poucas ruínas. Assim, a atual Nova Iguaçu – na opinião deste autor – guarda pouca ou praticamente nenhuma relação histórica e econômica com aquele núcleo original. Por isso escolhi o título “Villa de Iguassu” com a grafia da época, para diferenciá-la da atual Nova Iguaçu. No texto usarei geralmente a grafia Iguaçu, que é como o IBGE a registra.

  1. As origens

A primeira freguesia da região originou-se em 1637 às margens do rio Pilar, afluente do rio Iguaçu, em torno da capela curada dedicada a Nossa Senhora do Pilar, que foi elevada a Freguesia por volta de 1699. Nesse ano foi autorizada a abertura do Caminho Novo em direção a Minas Gerais que teria origem nesse porto (veja detalhes no artigo de história postal referente à Vila da Estrela).

Nessa época o Arraial de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu também já possuía capela curada e seu porto às margens do Rio Iguaçu era navegável até boa distância terra a dentro. Em 1750 seria levada à Freguesia (Fonte Wikipédia). Um grande impulso seria a interligação de seu porto ao Rio Paraíba, conforme veremos a seguir.

  1. A Estrada Real do Comércio

Como vimos no artigo “Vila da Estrela” no menu História Postal, a ligação da Corte com as Minas Gerais sempre esteve entre as prioridades da Coroa. Resumindo-o, até o final do século XVII essa rota era feita por Paraty; em 1699 foi aberto o “Caminho Novo” com origem no porto de Pilar e em 1725 a “Variante do Proença” teve origem no porto da Estrela.

Em 1811 a Junta de Comércio do Rio de Janeiro sugeriu a abertura de novo caminho, que ficaria conhecido por Estrada do Comércio. Este ficou pronto em 1822 com origem no porto de Iguassu, atravessando a Serra do Tinguá e, passando por Estiva (atual Miguel Pereira), Arcadia e Vera Cruz atingindo o porto de Ubá (atual distrito de Andrade Pinto em Vassouras), às margens do Rio Paraíba. O engenheiro Conrado Niemeyer seria o responsável em 1842 pela obra de reconstrução e calçamento da via tendo inclusive morado aos pés da serra no atual distrito de Conrado em Miguel Pereira que o homenageia (fonte: Wikipedia, verbete Estrada do Comercio). O traçado em verde é o descrito neste capítulo.

 

  1. A Vila de Iguassu

O progresso da freguesia com a abertura da nova estrada e o aumento do tráfego comercial com o advento do ciclo do café no vale do Paraíba nas primeiras décadas do século XIX impulsionaram a criação em 1833 da Vila do Iguassu, com sede no antigo Arraial de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu. Escaramuças políticas com Pilar e Estrela levaram a uma temporária extinção da vila entre 1835 e 1836.

A agencia postal Vila de Iguassu (ou Iguassu) foi aberta em 16 de outubro de 1832 (2).

À nova Vila foram incorporadas as freguesias de Santo Antonio do Jacutinga, NS do Pilar, São João de Meriti e NS da Conceição do Marapicu. A sede da vila permaneceu em Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu. Com a prosperidade trazida pelo café, uma nova freguesia viria a ser criada no território de Iguassu.

A Freguesia de Santana das Palmeiras (*)

(*) [1] Baseado em: Elias, A.G. – Sant’Anna das Palmeiras, uma Freguesia de Iguassú na Região do Vale do Café. 2018 Jul./Dez.

A freguesia de Santana das Palmeiras seria criada Decreto Provincial n.º 813 em 8 de outubro de 1855 (IBGE) na serra do Tinguá, às margens da Estrada Real, como um importante entreposto do café produzido no vale do Paraíba. Seu território abrangia a serra até os limites de Vassouras e sua área era a maior entre todas as freguesias que compunham a vila de Iguassu, o equivalente a um terço de todo o seu território.

A agencia postal Santana das Palmeiras foi criada em 25 de abril de 1857 (BP).

Veja logo abaixo o parágrafo “Decadência da Freguesia de Sant’Anna das Palmeiras”.

  1. A decadência de Iguassu

As duas principais freguesias sofreriam não poucos reveses econômicos nos próximos anos que, combinados, se revelariam fatais para a existência das freguesias:

  • A EF D. Pedro II chegou ao porto de Ubá em Vassouras em 1867 oferecendo transporte mais barato, seguro e rápido para o porto do Rio de Janeiro; além disso, o progresso de Maxambomba, importante estação no mesmo município, foi um fator de atração da população da antiga vila;
  • O desmatamento e a falta de saneamento – males de toda a baixada – provocaram o assoreamento do Rio Iguaçu e seus afluentes e causaram doenças e endemias;
  • Outro importante fator – embora menos lembrado – foi a imperiosa necessidade de melhorar o abastecimento de água da Capital, sendo a serra do Tinguá um importante manancial que deveria ser preservado (mais tarde se tornaria a Reserva Biológica do Tinguá). Uma adutora entre o Caju e os mananciais e represas foi aprovada e uma ferrovia construída entre 1875 e 1882 para apoiar o projeto – a EF Rio d’Ouro. Esta passaria por perto da vila, mas sua estação, também chamada Iguassu, não teve nenhuma relação com ela. Chegou a ter uma agencia postal de 1890 a 1896.
  • A Linha Auxiliar chegou em 1898 à vertente norte da serra do Tinguá com as estações Sertão (Conrado), Santa Branca e Bonfim sobre as quais falaremos mais adiante.

Decadência da Freguesia do Iguassu

Pelo Decreto Estadual n.º 204, de 01-05-1891 a sede do município de Iguaçu foi transferida para a estação de Maxambomba, mantendo o nome até 1916, quando passou a Nova Iguaçu. A vila passaria a distrito com o nome original de Nossa Senhora do Iguassu mas este foi renomeado Cava por volta de 1920, encerrando o uso do nome. Apesar disso, a agencia postal “Iguassu” continuaria a funcionar até 26 de agosto de 1931 (2).

Imagem da torre sineira e portão do cemitério, ruínas remanescentes da antiga vila de Iguassu.

Cava

O povoado, próximo a Iguassu, ganharia uma estação da linha-tronco da EFRD em 1883. Elevado a distrito com a transferência da sede de Iguassu por volta de 1920, seria renomeado Estação Jose Bulhões em 1924 e retornaria ao nome original em 1939 (IBGE).

Uma agencia postal funcionaria aí a partir de 1890 até os anos 1970 (ver a tabela de agencias no menu Nova Iguaçu).

Ruínas da Fazenda de São Bernardino em Cava                                          (blog fazendasaobernardino.blogspot.com)

Decadência da Freguesia de Santana das Palmeiras

Valem os mesmos argumentos expostos acima no caso de Iguaçu. Da cidade, restam somente ruínas dentro da reserva ecológica do Tinguá.

(imagens em Nova Iguaçu)

Ruínas de Santana das Palmeiras, Nova Iguaçu, RJ

Ruínas de Santana das Palmeiras, Reserva do Tinguá (Wikimedia Commons)

A transferência da agência postal gerou uma curiosa história. A primeira instrução oficial dos Correios, em 15 de julho de 1892, fechava e transferia a agência de Santana das Palmeiras para Santa Branca das Palmeiras, hoje no distrito de Conrado. Uma nova instrução em 21 de julho cancelava a anterior e nomeava Livramento das Palmeiras, no mesmo distrito. Finalmente, uma terceira instrução, em 9 de agosto, fixava Ponte da Estrada do Bonfim como novo local da agência (e futura estação da ferrovia). O local é hoje a cidade de Arcádia, nome que a agencia nunca chegou a adotar [2].

Essa história está contada em detalhes na página de Miguel Pereira, que aborda os movimentos econômicos e políticos na divisa de Iguaçu com Vassouras, que acabariam por gerar o município de Miguel Pereira. O mesmo para o tópico a seguir.

O distrito de Conrado (antigo Sertão)

Pela lei estadual nº 3494, de 04-12-1957, é criado o distrito de Conrado a anexado ao município de Vassouras, com terras desmembradas do distrito de Sacra Família do Tinguá.

Segundo dados do IBGE, em dezembro de 1957 o distrito de Conrado foi criado em Vassouras com terras desmembradas do distrito de Sacra Família e mais tarde, em dezembro de 1987, anexado a Miguel Pereira. Diz ainda que Conrado é formado pelas localidades de Conrado, de Arcádia, Santa Branca, Mangueiras e Paes Leme.

Por outro lado, o mesmo IBGE informa que, em Nova Iguaçu, o distrito de Santana das Palmeiras foi renomeado Santa Branca em 1919 e depois Bonfim em 1924. Dessa coincidência de nomes – Bonfim (atual Arcádia) e Santa Branca – pode-se supor que uma parte do território do atual distrito de Conrado pertenceu durante algum tempo à vila de Iguassu, pelo menos até 1943, quando o distrito de Bonfim foi extinto e o município de Miguel Pereira foi criado.

  1. A situação atual de Nova Iguaçu

Segundo o IBGE, no quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 9 distritos: Nova Iguaçu, Belford Roxo, Bonfim, Cava, Caxias, Estrela, Meriti, Nilópolis e Queimados.

Pelo Decreto-lei Estadual n.º 1.055, de 31-12-1943,  são desmembrados os distritos de Caxias, Meriti e Imbariê (ex-Estrela), para formar o novo município com a denominação de Duque de Caxias. Nessa mesma data, o distrito de Bonfim é extinto.

A partir dessa data houve forte redução de sua área, pois 7 novos municípios seriam formados e desmembrados; em 1999 Nova Iguaçu já estava formada somente pelo distrito sede.

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