Estação Central EFCB 1875-1876 Mapa Verena Andreatta 2008
ESTAÇÃO CENTRAL DA ESTRADA DE FERRO DOM PEDRO II
PARTE 1 – Um pouco de história
Entre 1860-61 seria praticamente extinto o correio urbano organizado na forma prevista no decreto de 1844. Algumas caixas urbanas continuaram a existir sem, contudo, uma estrutura logística consistente. Mostro abaixo duas notas na imprensa que ainda se referem à caixa da estação do Campo de Sant’Anna ou Campo da Aclamação [4] em 1866 (Diario do RJ, Hemeroteca da BN)
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A rede de agencias urbanas “de letras”
No entanto, o Decreto de 1865 já indicava um renovado interesse no serviço de Correio Urbano em seu Artigo 21, que resultou em uma nota do DGC em 31.03.1868 já nos informava da criação de duas agencias urbanas (imagem ao lado).
Apesar de o final da nota registrar que “brevemente serão criadas agencias em S. Clemente, Largos da Lapa e do Bispo”, nota-se que o projeto ainda não estava totalmente definido.
Sabemos disso porque somente a partir do comunicado de 28 de julho de 1869, quase um ano depois, é que a relação das 11 agencias implantadas até a data aparecem elencadas com letras de “A” a “K” que seria a marca dessa rede. No total, 25 agencias seriam implantadas até 1877, com letras de A a Z (com exceção do “W”).
A agencia Estação Central da EF D. Pedro 2º recebe a letra “N” em 4 de setembro de 1869, como se vê na nota da DGC publicada no Diario do RJ em 5.9 [5]
O abandono da rede de agencias urbanas do império
Tudo indica que o projeto da rede de agencias urbanas foi abandonado por volta de 1880. Um anúncio publicado na Gazeta de Noticias em 10 de junho de 1880 assinado pelo Correio Central informa que “além das 25 caixas existentes nas agencias do correio urbano, colocaram-se mais 24 caixas (…) para recepção de cartas”. Será a última vez que se mencionará as tais agencias em notas da DGC. Como se verá no Almanaque Laemmert, no ano seguinte já seriam 70 caixas.
O Almanaque Laemmert publicava anualmente a lista das 25 agencias urbanas, como se vê na imagem abaixo, extrato da página 389 da edição para 1880.
(nas duas páginas seguintes, segue a lista das 25 agencias até a letra Z)
No entanto, a partir da edição para 1881 a lista não é mais publicada e em seu lugar na página 370 encontra-se a relação das “agencias e casas na cidade e subúrbios onde se vendem sellos, etc.”
(segue uma relação de aproximandamente 70 endereços)
É fato que não há um comunicado oficial (como também nunca foi feito no encerramento das sucursais). Mas são fortes as evidências do fim da rede nessa data. Com a república, a rede seria reativada em 1890 e mantendo as “letras”. Ver MRJ 162 mais abaixo.
Parte 2 – As agencias
Quadro de agencias
MRJ 161 agencia urbana “N” (1869-1881)
Os primeiros exemplares trazem a letra N, referencia da agencia. A imagem é reprodução do carimbo sobre emissão de 1866 (como também indica o P.A.)
O segundo exemplar está apresentado no trabalho de carimbologia de R.K. Trata-se de um carimbo oval, também sobre emissão 1866. O colega Fuad me enviou imagem também sobre a mesma emissão. Pelo menos agora o carimbo deixa mais claro o local de postagem.
Também apontado por R.K. está o carimbo retangular apresentado a seguir. Tenho imagens sobre emissões de 1876, 1877 e 1881.
Nota-se que a legenda dos últimos carimbos já não mais mencionam a letra “N” o que revela o aparente desinteresse dos Correios por essa organização. O Guia Postal de 1880 também a registra como “Estação Central da E.F.P. II – Côrte”.
Não encontrei apesar disso nenhuma menção oficial de troca de nome da agencia, de modo que mantive a numeração até a republica. O próximo tipo já adota o formato circular clássico, dimensões 23×13 mm e tem uma legenda inferior singular: “CORRº”
O tipo seguinte, legenda E. CENTRAL sobre emissão de 1885 (cifra branca) circulados em 1886 e 1887, formato 25 X 13 mm com legenda inferior EFDO2º
Aqui, a legenda superior é EST. CENTRAL sobre emissões de 1888 e 1889, formato 24 X 12,5 mm e legenda inferior em romanos (P. II). o exemplar sobre inteiro postal é datado 27 de junho de 1889 e é o último do império que conheço (*).
(*) Vale citar o trabalho de R. Koester, já que este nos aponta dois carimbos da coleção Nacinovic que seriam os últimos da monarquia. Ambos circulados na república, o que eu penso ser muito improvável. São eles:
Legenda EFDP2º de (19) de dezembro de 1889 (figura 28-A)
Trata-se no entanto de um carimbo da estação de Sant’Anna (ERJ 57 em Barra do Piraí). Tenho certeza por possuir um carimbo completo na coleção. Além disso, tem formato de 24×13 mm enquanto o da EFDPII é de 25×13 mm e, reparem, com tipologia bem diferente.
Legenda EFDPII de 14 de fevereiro de 1890 (figura 29)
De fato, como se vê nos exemplares da MRJ 161 acima, esse layout é mesmo o último da monarquia (eu tenho idêntico em 27 de junho de 1889). Mas o exemplar citado de 14 de fevereiro não nos é apresentado e o 29 está ilegível. De qualquer modo, acho improvável, já que o próprio RK informa que o primeiro da república data de 17 do mesmo mês. Veja abaixo a seguir na MRJ 162.
MRJ 162 – Estação Central da EFCB (1890-1893)
Com a proclamação da republica, o novo governo teve a necessidade de rapidamente substituir nomes e símbolos do Império. Era o caso da EF D. Pedro II que logo em 22 de novembro de 1889 foi renomeada Central do Brazil (data da Wikipedia).
Evidentemente, a grafia dos carimbos da agencia postal teria também que ser alterada. Assim, a toque de caixa, foi confeccionado um carimbo novo temporário com legenda E.F.C. Brazil substituindo a E.F.D.P.II. O primeiro que tenho notícia aparece em fevereiro de 1890 (segundo nos informa RK).
A rede de agências “de letras” da república
História
No alvorecer da República é implantada uma rede de 12 agências auxiliares com o objetivo de descentralizar algumas atribuições do Correio Central (da então DR-DF).
Já em 30 de dezembro de 1889 o Aviso nº 17 do Ministério da Agricultura – a quem então se subordinava a Diretoria Geral dos Correios – registrava o conceito de agências urbanas que seriam criadas pela Portaria de 28 de janeiro de 1890 da Diretoria Geral dos Correios. Essa Portaria criava oito agências urbanas identificadas pelas letras de “A” a “H”, rede que seria expandida depois para doze. Detalhes e fontes no menu “Sucursais do Distrito Federal”
As primeiras oito de “A” a “H” foram criadas por nota da DGC em 28 de janeiro de 1890. Os primeiros carimbos com legendas (no caso, orelhas) de letras que possuo aparecem a partir de 1891. As duas seguintes, “J” e “K” são criadas em 31.03.1890. Mas já mostram certa desconexão com o projeto original, por serem agencias em estações da EF Rio d’Ouro sendo uma delas em Cava, Nova Iguaçu. Posteriormente, elas apareceriam no Relatório dos Correios de 1893 com as letras J e K. Entretanto, em 1892 o BP informa a criação da Agencia Urbana “L” na Tijuca.
A agencia da Estação Central
Só temos conhecimento oficial da existência dessa agencia ao vê-la relacionada como agencia urbana de letras “I” no Relatório dos Correios de 1893 que, pela primeira vez, nos apresenta a lista completa das doze agencias urbanas de letras.
Além dessa aparição tardia, seu carimbo tem layout bem diferente dos anteriores, o que a torna sui generis – principalmente por ser a mais importante da rede, tanto que mais tarde é descrita como “sede da 1a. circumpscrição urbana” (AL 1902).
MRJ 163 – Agencia Urbana “I” (1893-1925)
O primeiro carimbo dessa agencia na minha coleção é do trabalho de R.K. e datado de 19 de fevereiro de 1890. O layout foi alterado logo depois para incluir o “Ag. I do Correio” , mas mantendo a legenda inferior E.F.C.BRAZIL O mais antigo na coleção só aparece em setembro de 1893.
LAYOUT Vale notar que esse layout é o único com desenho diferente dentre as 12 agencias de letras da republica (a imagem ao lado é da agencia padrão de Botafogo). Não consigo entender a razão, pois daria muito bem para manter “agencia” na superior e as orelhas “I”. Vai entender.
Como se nota, as letras se mantiveram nas legendas até 1894 quando desapareceram, a exemplo das demais agencias da rede. Logo em 1895, possuo um carimbo que ilustra bem a mudança ao grafar “AG. do C.” ao invés de “AG. I”
O seguinte ainda apresenta um “urbana” em 1897 (seria a última menção)
Finalmente aparece a legenda inferior “D. FEDERAL” que seria usada aí em diante.
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Nesse ponto, os carimbos sofrem uma mudança de layout e legendas com a chegada do século XX e a notação do ano em quatro dígitos. Nota-se também que a agencia se organiza em distribuições e expedições de malas como várias contemporâneas de grande porte.
Tipos “Distribuição”
Tipo 1 com legenda E. Central da EFC do B 2A. Distribuição, ano em 4 digitos
Tipo 1 com legenda E. Central da EFC do B 3A. Distribuição, ano em 2 e 4 digitos
Tipo 2 com legenda Est. Central 2A. e 5A Distribuições, ano em 4 digitos
Tipos Expedição
Legenda Est. Central 1A a 3A Distribuições, ano em 4 digitos
Tipos de serviço
Tipo Barras-duplas
Também comuns em outras agencias, algumas das quais utilizavam os espaços destinados a dígitos de controle no datador para marcar as distribuições, por exemplo. Neste caso, além dos poucos exemplares, não descobri a lógica.
MRJ 164 – Est. Dom Pedro II (1925 – 1932)
Em 2 de dezembro de 1925, o centenário de nascimento do Imperador ensejou a oportunidade de homenagear seu idealizador e a estação foi por decreto federal renomeada “Estação D. Pedro II” [1]. Os Correios já o tinha feito em 31 de novembro conforme o Boletim Postal do mês. Finalmente a estação e a agencia tinham mesmo nome, também grafado no prédio da estação. Foi um breve período, do qual possuo poucos exemplares. (fonte: Boletim Postal)
Ela é um caso raro de agencia que tenha operado por sete anos usando somente um tipo de carimbo, o T 6 – que é relativamente raro (40 exemplares na coleção). Por sinal o primeiro carimbo desse tipo a circular é o do rio-noite em 19.6.1926.
MRJ 165 – APT Pedro II (1932 – 1996)
Um último movimento afetaria ainda nossa agencia (mas não a estação). Em 26 de dezembro de 1931, o ‘governo provisório’ Getúlio Vargas publicaria o Decreto 20.859 fundindo a Diretoria Geral dos Correios com a Repartição Geral dos Telégrafos criando o DCT [2]. Em consequência, a fusão da nossa agencia com a vizinha Agencia Telegráfica da Praça da Republica resulta em 3 de fevereiro de 1932 na “APT D. Pedro II” que existiria até seu fechamento por volta de 1996 (ultima citação em Guia Postal). (fonte DOU fevereiro de 1932).
O primeiro carimbo é um tipo exótico, com 33mm de diâmetro e datador dd.mmm.aaaa dentro de caixa. deste, possuo tipos manhã e tarde.
Contudo, tenho também exemplares contemporâneos nos turnos da tarde e da noite, onde o ano está grafado somente em dois dígitos.
O segundo carimbo é do tipo 10 e tem a peculiaridade de acrescentar (EST.) à legenda superior. Eu os tenho nos três turnos.
Demais tipos
Franquias mecânicas
Mecânicos obliteradores
Carimbos de serviço
MRJ 166 – AC Central do Brasil (2010-2019)
Por um breve período funcionaria ainda essa agencia na Praça Cristiano Ottoni. Um dos mais tradicionais pontos da cidade, a estação não tem atualmente agencia dos correios.
Notas e informações
[1] Decreto presidencial que homenageia o centenário de nascimento de D. Pedro II renomeando a estação central em 2 de dezembro de 1925.
[2] “Cria o Departamento dos Correios e Telégrafos pela fusão da Diretoria Geral dos Correios com a Repartição Geral dos Telégrafos e aprova o regulamento da nova organização administrativa (…)”
[3] a Estrada de Ferro. O texto abaixo é baseado no texto mais abrangente do capítulo ferroviário deste site, que pode ser visto no menu “Linha 1 Agencias“.
Em 9 de fevereiro de 1855, o Governo Imperial firmou contrato com o engenheiro inglês Edward Price para a construção da primeira seção de uma estrada de ferro que visava promover, a partir do Município da Corte, uma completa integração do território brasileiro sobre trilhos. Em 29 de março de 1858, foi inaugurada a seção que ligava a Estação do Campo (nome que pode ser atribuído ao Campo da Aclamação bem como ao tradicional Campo de Sant’Anna) à Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu (atual Queimados), num total de 48,21 km. Quando da Proclamação da República, em 1889, a Estrada de Ferro D. Pedro II teve seu nome alterado para Estrada de Ferro Central do Brasil (mudança oficializada a 22 de novembro desse ano).
[4] O Campo de Sant’Anna
O primeiro nome da região onde hoje fica o Campo de Santana foi Campo da Cidade e abrangia, até o início do século XVIII, toda a área compreendida a Rua da Vala (atual Uruguaiana), e o Mangal de São Diogo (Cidade Nova).
Em 1735, a irmandade santanense deu início à construção de sua própria capela, no terreno onde hoje está erguida a Estação Central do Brasil. Desde então, a área ao redor passou a ser chamada de Campo de Santana.
Com a chegada da família real ao Rio de Janeiro em 1808, o Campo de Santana ganhou mais benfeitorias. Por ser um lugar considerado adequado às manobras militares, foi escolhido para abrigar o Quartel do Regimento da Tropa (local onde mais tarde foi construído o Palácio Duque de Caxias).
Foi no Campo de Santana que, em 1818, aconteceram as pomposas festividades de casamento de D. Pedro com D. Leopoldina e de aclamação de D. João como rei de Portugal, Brasil e Algarves. Para essa ocasião, foi construído um vistoso curro – estrutura onde ocorriam as touradas e as cavalhadas. Em função disso, o Campo de Santana passou a ser chamado de Praça do Curro até 1822, quando foi este desmontado e virou Campo da Aclamação.
Provavelmente pela proximidade com o quartel-general, muitos militares moravam na região, entre eles o Marechal Deodoro da Fonseca, cuja residência ficava no próprio Campo da Aclamação. Encontrava-se ele em casa, na noite de 14 de novembro de 1889, quando alunos-alferes da Escola Militar e oficiais dos regimentos de e de cavalaria resolveram se rebelar contra o governo imperial. Pouco tempo depois, o Campo da Aclamação foi rebatizado de Praça da República.
Apesar de tantas mudanças de nomes, desde que a igreja em louvor à Mãe da Virgem fora ali instalada, o lugar que viu o Império ser aclamado e a República proclamada nunca deixou de ser chamado de Campo de Santana pela população.
[5] Comentários sobre fontes de referência
A data de criação da agencia “N” em 4 de setembro de 1869 que aparece oficialmente na nota Diario do RJ na minha opinião não deixa dúvidas. No entanto, para registrar a dificuldade que se encontra para determinar algumas datas, cito outras fontes tradicionais.
- R. Koester em seu longo texto descritivo não menciona a DCA.
- Nova Monteiro em seu trabalho “Administrações e Agencias Postais do Brasil Império” lista uma agencia Campo da Aclamação, criada em 3.08.1869 (imagem).
Noto a falta da agencia “N”. É verdade que ela estaria no Campo da Aclamação, mas também não há menção à EF. É claro que NM pode ter tido acesso ao ato de criação, mas neste caso, prefiro manter a data documentada.
- A tabela Agencias do Correio do Imperio aprovada pelo Ministério da Agricultura e publicada em 1885, que é bastante detalhada, traz o verbete “E. de F. Pedro II (Estação Central) de 2a. classe”, mas a coluna “Data da creação” está inexplicavelmente em branco e sem menção à agencia “N”.
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