Franquias Mecanicas “Rio de Janeiro”

Introdução: um pouco de história das máquinas de franquear

As máquinas de franquear foram autorizadas a funcionar pelo DGC a partir de 15 de abril de 1925 pelo aviso 490 de 17 de outubro de 1924. O Boletim Postal traz a informação pela Circular n.17 E/1ª de 27 de março desse ano.

Machinas de Franqueamento (BP 02 mar1925)

A apresentação oficial das máquinas ocorreu em 15 de abril de 1925, cujo resumo transcrevo de matéria no O Jornal do dia 16:

“Foram inauguradas hontem as maquinas de franquear correspondencia no saguão de venda de selos da Sub-Directoria do Trafego Postal. (…) A primeira carta franqueada foi expedida pelo sr. Severino Neiva (DGC) ao sr. Francisco Sá (Ministro da Viação)”.

Se a primeira carta saiu do Correio Central, a primeira inauguração foi notícia na edição de 19 de abril de 1925 do jornal O Paiz (RJ):

“Inaugurou-se hontem, na séde da Companhia Nacional de Seguros Sul-America a primeira machina de franquear correspondência em uso no nosso paiz. (…) A machina, da ‘The Universal Postal Frankers Ltd.’, de Londres, sella e carimba qualquer envelope automaticamente movida por electricidade. ( …) O apparelho tem o numero 12, sendo o pioneiro na América do Sul”.

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A principal inovação é que elas dispensam os selos postais imprimindo em seu lugar, ao lado do datador, uma estampa padrão com o valor do porte. Já que não há selos, também não há carimbos – estes são impressos no datador. No início as máquinas eram utilizadas, como se lê na publicação acima, para “franquear a correspondência postada no Distrito Federal”.

No interior do estado, só bem mais tarde – nos anos 1950. SP e MG ainda nos anos 1920.

Um típico exemplar de franquia:

O franqueador faz às vezes do selo postal regular. Ou seja, traz o nome do país emissor e o valor do porte. O numero da máquina é o da matrícula nos Correios. Voltaremos a isso mais adiante.

O datador faz às vezes do carimbo postal. No caso, indica o nome do local e a data em que o objeto foi postado.

A flâmula de propaganda é uma função nova que a tecnologia viabiliza, permitindo a customização da franquia mecânica com inclusão de um logotipo ou uma mensagem publicitária da empresa usuária.


Franquias Mecânicas “Rio de Janeiro”

Objetivo
O objetivo deste artigo é entender a razão da ampla utilização da legenda “Rio de Janeiro” nas máquinas franqueadoras entre 1925 e meados dos anos 1970. Como explicar isso se desde o início da Republica não existiu uma agencia postal na cidade com o nome “Rio de Janeiro”?

Para entender o ambiente, analisemos os principais usuários dos equipamentos. Uma matéria publicada na imprensa em março de 1929 no J. Commercio dá uma idéia dessa distribuição:

O Correio Central

O regulamento dos Correios indica que todas as máquinas teriam gravadas o número de série do fabricante e receberiam um número de matrícula no Correio Central, que seria grafado no franqueador. Desta forma, pela franquia seria possível aos Correios identificar o local de postagem de qualquer objeto.

A nota acima mostra que 11 das 200 máquinas estavam no Correio Central. Faz sentido portanto que a máquina da primeira instalação comercial na Sul-America trouxesse o numero 12.

Uma dessas máquinas da Central teria a matrícula Nº1. Um envelope circulado em julho de 1925 mostra um exemplo, o que nos permite constatar que já se usava a legenda “Rio de Janeiro”.

Com a criação em 1962 da Agencia “Central do Rio de Janeiro” essa legenda substituiria paulatinamente aquela até a total substituição em meados dos anos 1970.

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Empresas

A utilização de máquinas de franquear por empresas comerciais, bancárias ou industriais dependia de prévia concessão pela DGC que, uma vez concedida, permitia a negociação direta do usuário com o fabricante.  Uma vez adquirida, o registro da matrícula deveria ser feito no Correio Central. Nota na imprensa em 1928 no J. Commercio ilustra bem o texto acima:

A legenda para as empresas utilizaria o genérico “Rio de Janeiro”. Podia ser equipada com uma “flâmula” contendo o logo da empresa ou mensagem publicitária como mostra o exemplo que abre esta matéria.

A numeração que aparece junto ao franqueador é sempre a da matrícula no Correio Central que, como já dissemos, permite identificar o local da postagem. Isso mudaria a partir de 1981, quando passa a ser obrigatória a indicação da matricula e do fabricante (conforme Mario Xavier Jr).

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Agencias do Correio

A diferença das máquinas que eram disponibilizadas pelo Correio Central para suas agencias é que as legendas traziam o nome da agencia. Caso utilizassem máquinas genéricas, um segundo carimbo era manualmente aplicado sobre a franquia. Seguem exemplos da Praça 15 de Novembro,  Av. Gomes Freire e Copacabana.

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Vale também comentar duas outras práticas visualmente semelhantes, mas que resultam de outras instruções do Correio:

  1. No exemplo das franquias de 1968 na agencia Jardim Botânico e Av. Rio Branco de 1956 nota-se o carimbo manual aplicado sobre a franquia replicando as mesmas informações já explícitas no datador desta. Obedecem nesse caso à instrução dos Correios reforçando a necessidade de aplicação de um carimbo legível “mesmo em cartas franqueadas mecanicamente”.

2.  No próximo exemplo da agencia Cidade Nova em 1957 há DOIS carimbos além da franquia. O primeiro deve seguir a instrução anterior. Já o segundo é bem raro (só tenho 4 deles, em diferentes agencias) e nos informa que o objeto postal foi “Porteado por Máquina de Franqueamento”. Para que serve essa informação não consegui descobrir, muito menos encontrei a instrução.


Conclusões:

Os comentários a seguir são baseados nas conclusões a que cheguei após estudar as centenas de franquias da coleção e pesquisar referencias.

A primeira conclusão a que cheguei é que as franquias representaram uma inovação importante: ao olhar um envelope franqueado por máquina, a existência de um numero de matrícula impresso no franqueador permitia aos Correios saber com segurança onde ele havia sido postado. Também a data de postagem. Ah! mas isso já existia com o carimbo – dirá alguém – é fato, mas agora não haveria possibilidade de erro, engano, ou fraude. A máquina era implacável.

Baseado nisso, há uma forte razão para que não fosse muito importante um detalhamento do local no datador. Para o público, a postagem era no Rio de Janeiro; já os Correios sabiam exatamente a origem.

A segunda conclusão é que o sistema de controle lhes permitia distribuir máquinas pelas grandes empresas usuárias, aumentando sua receita sem sobrecarregar a rede de agencias. Nesse sentido, o uso de “Rio de Janeiro” simplificava a distribuição das máquinas e até a mudança de empresa sem necessidade de alterar a máquina, só alterando seu registro.

A substituição mais tarde de “Rio de Janeiro” por “Central” faz mais sentido, por tornar mais explícito o mecanismo, mas não altera o conceito.


Imagens

Boa  parte dos exemplares com franquia “Rio de Janeiro” possui um segundo carimbo que torna mais explícito para o público o local de postagem. Nesse casos, eu classifiquei o carimbo no local de origem conforme o carimbo. Onde não foi possível essa identificação – particularmente nos fragmentos – e sem acesso ao cadastro dos Correios pelas matriculas – eu os classifiquei junto à Agencia Central, permitindo visão de conjunto.

Veja as imagens desses franqueadores no menu Central do Rio de Janeiro, na parte inferior da página que copio abaixo:

Agencia Central do RJ (1962 – )


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