Um pouco de História
A história desses bairros vizinhos se confunde e, como veremos, sempre ligada a rotas e caminhos. Na importante freguesia de Irajá, no cruzamento da Estrada Real de Santa Cruz e a Estrada de Irajá, indicado com a letra “A” no mapa, havia um local onde os viajantes descansavam, nas proximidades de um campo onde havia uma feira de gado, conhecido como Campinho [1].
No século XVIII foi aberta uma hospedaria, que Tiradentes frequentava quando vinha ao Rio de Janeiro. Nas suas imediações existia pequena fortaleza, onde foi erguida uma capelinha, atual Igreja N.S. da Conceição, local assinalado com a letra “B”.
A agencia postal “Campinho”, ponto de rota de malas dos Correios, foi criada em 1873.
Em 1858 a linha da E.F.D.Pedro II cruzaria a região. No entanto os trens de subúrbio só chegariam até a estação de Cascadura, a um quilômetro de distância, de onde, após trabalhosa operação rotatória, retornavam para a Corte.
O mapa Maschek-Laemmert de 1870 acima apresenta com clareza a região de Cascadura e Campinho. Nota-se que a mancha urbana rareava a partir de Cascadura, estação da EFD.Pedro II, e de onde partia o “tramway” Cascadura-Jacarepagua [3] em rota passando por Campinho e representada no mapa por uma linha vermelha tracejada.
A situação só evoluiria já na república quando a EF Central do Brasil inaugurou a estação Madureira em 1890, mesmo ano no qual foi criada a homônima agencia postal.
Poucos anos depois, em 1895, chegaram também os trilhos da EF Melhoramentos, futura Linha Auxiliar. A linha corria paralela à da Central, mas em Madureira ficavam bem próximas, como se vê em verde no mapa acima.
Ao mesmo tempo, a EFCB construiria o Ramal Circular de Madureira de modo a eliminar a operação de rotação das máquinas. Nesse ramal, circulado em azul com letra “C” no mapa superior, seria inaugurada em 1897 mais uma estação, a Dona Clara [2]. No local foi criada em 1911 uma segunda agencia, “Dona Clara”, em renomeada “Campinho” em 1935 (lembrar que agencia Campinho original já havia sido fechada em 1917) .
Na área entre as três estações, assinaladas em verde no mapa, floresceria o bairro de Madureira que em breve superaria o vizinho Campinho. A área urbana pode ser observada no mapa acima
[1] As mencionadas estradas são hoje as importantes vias Intendente Magalhães e Cândido Benício. Para facilitar o pesado tráfego no cruzamento, foi construída uma passagem de nível conhecida por “Mergulhão de Madureira” ou, oficialmente, Mergulhão Clara Nunes.
[2] Todas as terras de Madureira, do Campinho até a Estrada da Portela constituíam a Fazenda do Campinho pertencente a D. Rosa Maria dos Santos, que faleceu em 1846. Ainda em vida, dividiu sua propriedade e parte dela foi herdada por D. Clara Simões. Foi na sua chácara que o ramal foi construído e a estação a homenageou. Em 1934 e estação foi renomeada Campinho, relembrando a antiga fazenda. Mas em 1937, com a eletrificação da linha, a estação foi desativada, já que as locomotivas elétricas não precisavam ser giradas.
[3] O Decreto nº 5941 de 11/06/1875 “concede á Companhia Ferro-carril de Cascadura a Jacarepaguá autorização para funccionar, e approva, com modificações, os seus estatutos (…) Art. 3º O seu fim é construir e custear uma estrada para passageiros e mercadorias, sobre trilhas de ferro, por tracção animada, entre a estação de Cascadura, na Estrada de Ferro D. Pedro II, e a freguezia de Nossa Senhora do Loreto de Jacarepaguá, podendo ser prolongada até a de S. Salvador da Guaratiba”.
História Postal
Campinho é mencionada desde o Relatório dos Correios de 1858 nas linhas de malas entre a Corte e Guaratiba, por Campinho e Jacarepaguá (imagem abaixo).
A agencia postal no entanto só aparece em 1873, como se lê no “Relatório das Agencias do Imperio” publicado em 1885.
Para dar uma ideia da importância postal de Campinho na época, reproduzo abaixo o mapa postal de 1888 publicado no item Correio Rural do menu Agencia Central. Note-se no canto superior direito a linha de roteiro de malas de Campinho a Jacarepagua (na linha de bondes mencionada acima) . Desta parte também a linha de malas que atravessa toda a baixada de Jacarepagua até Vargem Grande.
Quadro de agencias postais
CAMPINHO
Abre o quadro a pioneira agencia postal de Campinho em 1873, desativada em 1914. Uma segunda agencia “Valqueiro” seria criada também na Estrada Real em 1907. Não sei se ela teria tido alguma relação com o Engenho Valqueire, origem do nome do bairro que mais tarde foi nomeado Vila Valqueire. Essa agencia fechou no início dos anos 1940 e atualmente Campinho não tem agencias.
MRJ 427 – Campinho (1873-1917)
MRJ 427A – Valqueiro (1907-1941) sem imagens
MRJ 427B – ACF Campinho (1992-2012)
MADUREIRA
A agencia de Madureira foi criada logo após a inauguração da estação em 1890 e fechou em 2018. Hoje o bairro tem uma única AGF no shopping. Sobre a agencia Dona Clara, já comentei no texto de introdução
MRJ 428 – Madureira (1890-2018)
Carimbos de serviço
Franquias mecanicas
MRJ 429 – Dona Clara (1911-1935) sem imagens
MRJ 430 – Campinho (1935-1939) sem imagens
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Agencias Franqueadas
MRJ 431 – ACF Mercadão de Madureira (1992-2012)
MRJ 431A – ACF Edgar Romero (1994-2000)
MRJ 431B – ACF Barro Vermelho (1996-2013)
MRJ 431C – Madureira Shopping (2013 – )
OSVALDO CRUZ
A origem do bairro está ligada à estação “Rio das Pedras” inaugurada em 17.04.1898. A agencia foi criada por volta de 1913 (consta no GP desse ano) e renomeada “Oswaldo Cruz” em 1918 em homenagem ao sanitarista falecido na época. Antes existiu uma agencia homônima em Rio das Pedras, ponto em Jacarepaguá, que funcionou de 1891 a 1897.
Existiu estação homônima mais importante em S. Paulo, inaugurada em 1881; seus carimbos têm a legenda E. DO RIO DAS PEDRAS; Koester registra carimbo já em 1883.
MRJ 432 – Rio das Pedras (1913-1918)
MRJ 433 – Osvaldo Cruz (1918-1993)
BENTO RIBEIRO
O bairro, de características fortemente residenciais, formou-se em torno das ruas João Vicente e Carolina Machado, e como diversos outros do subúrbio carioca, tem sua história atrelada à estação ferroviária, inaugurada em 1914.
Em 23 de julho de 1881, a região foi oficialmente transformada em bairro através de decreto, após longa negociação entre as três famílias mais influentes do local a época com o então governo (Wikipedia).
Bento Manuel Ribeiro Carneiro Monteiro (Jaguarão,1856 – Rio de Janeiro, 1921) foi um militar e político brasileiro. Bento foi prefeito do então Distrito Federal entre 1910 e 1914, durante o governo do Marechal Hermes da Fonseca.
Vale observar que a agência tem o seu nome citado indistintamente nos guias postais como “Bento Ribeiro” ou “Prefeito Bento Ribeiro”. Na dúvida, preferi classificá-la em três épocas, com as respectivas alterações de nome, conforme apresentado no quadro de agencias acima; não encontrei no entanto nenhuma referência oficial sobre mudanças de nome.
MRJ 434 – Prefeito Bento Ribeiro (1919-1957)
MRJ 435 – Bento Ribeiro (1957-1981)
MRJ 436 – AC Prefeito Bento Ribeiro (1981 – )
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