Linha 11 Ramal de S. Paulo ou da Cachoeira

Um pouco de história

A Estrada de Ferro D. Pedro II chegou a Barra do Piraí em 1865 após vencer a Serra do Mar. A partir desse ponto, enquanto a linha tronco acompanharia o curso do rio Paraíba em direção a Minas Gerais (linha 1 no mapa), partiria em direção oposta um ramal em bitola larga denominado Ramal de S. Paulo [1]. Iniciada em 1871, a linha 11 chegaria a Volta Redonda e Resende em 1873 e a Cachoeira, em território paulista, inaugurando essa estação em 20/7/1875. Poucos dias depois, em 6/8/1875, foi também criada uma agencia postal homônima.

Cachoeira (hoje Cachoeira Paulista) tem origem no povoado de Santo Antônio do Porto da Cachoeira, elevado a Freguesia logo após a chegada da ferrovia. Nesse local, como o nome sugere, o leito fluvial era interrompido por corredeiras, de modo que era necessário que mercadorias em trânsito fluvial fossem aí descarregadas para seguir por terra para Minas Gerais ou para o Rio de Janeiro. A ferrovia vinha a atender essa segunda rota, cuja demanda aumentava com a produção cafeeira do Vale do Paraíba. Esse trecho ficaria conhecido também por Ramal ou Linha da Cachoeira. A respeito, segue nota do Diario do RJ em 18/3/1875 citando matéria do Correio do Norte paulista.

Nesse meio tempo, empresários paulistas planejavam uma ferrovia para escoar a produção cafeeira das fazendas do Vale do Paraíba através dos portos de Santos ou do Rio de Janeiro. A Estrada de Ferro do Norte começou a ser construída em 1875 pela Cia Ferroviária S. Paulo e Rio de Janeiro em bitola métrica a partir da Estação do Norte, ao lado da estação Brás da São Paulo Railway, com o objetivo de ligar S. Paulo a Cachoeira. A linha chegou a essa estação da EFDP2º em 1877 permitindo conexão ferroviária entre as duas cidades.

Entretanto, a diferença de bitolas entre as duas linhas exigia demorada baldeação, o que levou o governo republicano a emitir em 30 de agosto de 1890 o Decreto 701 encampando aquela ferrovia e incorporando-a à EF Central do Brasil. Entre 1901 e 1908 a Central retificou trechos e alargou a bitola da antiga ferrovia, finalmente permitindo o tráfego mais rápido e econômico.

A organização desta página começa com o Correio Ambulante no capitulo I, dividida em três partes, e depois prossegue com as Agencias Ferroviárias no Capitulo II.


Capitulo I – CORREIO AMBULANTE NA LINHA 11


Parte 1 – O Ramal da Cachoeira (1890-1897)

Nota: Nas abreviaturas do símbolo do numeral ordinal pode-se usar um ponto ou um traço sob a vogal, ou mesmo nenhum (o acordo ortográfico é omisso). No nosso caso, o tipo 2 tem duplo traço, identificado por 2=A.

Imagens em ordem cronológica dos carimbos ambulantes Cachoeira

Tipo AMB 128 – Est. da Cachoeira (1884-1885)

A estação da Cachoeira foi aberta em 1875 pela EF D. Pedro II e a agencia postal criada poucos dias depois [2]. O primeiro carimbo que possuo é de 1884-5 e tem uma característica muito particular por ser um carimbo ambulante (legenda C.A) que traz na legenda superior o nome de estação, no caso “EST. da CACHOEIRA”. É o único caso que conheço de um carimbo ambulante ter como legenda uma agencia fixa.

Para tentar desvendar esse mistério, solicitei ao grupo de colegas mais exemplares para estudo e Felipe Piccinini enviou uma imagem de seu arquivo, que reproduzo:

Carta postada na Bahia em 18.09.1885 chegou ao Rio em 26 e no mesmo dia expedida a S. Paulo onde chegou no 27. Constatado o erro, foi reenviada a uma CP no Rio. Recebeu carimbo ambulante Est. da Cachoeira em 29, data em que foi recebida no Rio. Carimbo da 2a. Secção em 30 informa envio ao destino. O manuscrito à direita indica resposta pelo destinatário em 1º de outubro.

Depreendemos da carta que se trata efetivamente da Estação da Cachoeira em S. Paulo, pois há estação homônima em Cachoeira de Macacu que poderia gerar dúvida. Mais importante é notar o carimbo da estação de Cachoeira utilizado como ambulante no trajeto S. Paulo – Rio.

O trabalho de R. Koester (trecho copiado acima) acrescenta a informação da existência de peças que indicam “correio ambulante em ambas as direções” utilizando o mesmo carimbo. Portanto, na minha opinião, aplicado no trem [3].

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Nota: Faltam-me mais exemplares do período entre 1885 e 1890 que seriam úteis para acompanhar as mudanças de layout. Há um exemplar de 1889 também com características peculiares com legenda inferior “Ramal de São Paulo” que eu acabei por colocar na parte 2 desta página. Veja o AMB 70B.

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Tipo AMB 129 – Rl. da Cachoeira (1890)

O tipo seguinte aparece em 1890, já substituindo Estação por Ramal, o que faz mais sentido.

Aparece nesse tipo a menção nas orelhas a turmas que são típicas do correio ambulante que opera em turnos diurnos e noturnos, diferentemente das agencias fixas.

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Tipo AMB 131 – L. da Cachoeira (1894)

Desta vez, o terceiro tipo troca “Ramal” por “Linha” e em três turmas. Há exemplares em 3 turmas.

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Tipo AMB 134 – L. Cachoeira (1892-1894)

Só para registrar uma variante com “L. Cachoeira” em vez de L. da Cachoeira”.

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Tipos AMB 136 a AMB 140 (1895 -1897)

O quarto tipo dessa parte traz modificações importantes, com diâmetros grandes de 29mm e tipologia com corpos avantajados. “AMBULANTE” vem agora na legenda superior e “CACHOEIRA” fica na inferior. Mantem-se as três turmas.

Notas e informações (parte 1)

[1] O Ramal de S. Paulo era referido no projeto original por 4ª Secção (enquanto a linha do Centro que acompanhava o rio Paraíba rumo ao Porto Novo era a 3ª Secção). Isso se comprova na publicação da primeira tabela de horários dos trens nessa linha publicada em 16 de janeiro de 1871 no Diario do Rio de Janeiro (e válida a partir de 21) cuja imagem reproduzo ao lado. Nela só consta a estação de Vargem Alegre, que foi inaugurada no dia 20. Mais tarde, e antes da unificação das bitolas pela EFCB em 1908, esse trecho ficou conhecido também por Ramal da Cachoeira, como se lê nos primeiros carimbos ambulantes

[2] Não encontrei a informação oficial da DCA Estação da Cachoeira. RK aponta 1877. Eu encontrei 8/6/1875 na nota de O Globo da mesma data, cuja imagem está ao lado.

 

 

[3] Registro a opinião do colega Fabio Monteiro que acredita que esses carimbos teriam sido aplicados na agência como “trânsito”. Na minha opinião, se trânsito fosse, para que haveria então a menção a Correio Ambulante?

 

 


Parte 2 – O Ramal de S. Paulo – Trens “SP” (1898-1909)

 

Nota: Classifiquei 5 tipos diferenciados pela legenda inferior. Entre os tipos 3, 4 e 4a que possuem a mesma legenda, a diferença está no tamanho do corpo das orelhas que no 3 é maior e em negrito. Já o 4a tem duplo traço sob o numeral (e têm circulação mais tardia que seus pares). Confira nas imagens.

Em 1890, já na república, o problema das baldeações em Cachoeira e as finanças da EF do Norte levaram o governo a encampar a linha paulista. Entre 1901 e 1908, a Central do Brasil investiu em infraestrutura, retificando traçados e substituindo a bitola da antiga ferrovia. Período coincidente com os carimbos desta Parte 2, onde se nota um layout e nomenclaturas bem diferentes.

Os trens “SP” circulavam nessa linha, sendo os de numero impar (SP1 a SP5) os de ida, partindo do Rio ou de Barra do Piraí no sentido Cachoeira e os de numero par (SP2 a SP6) no sentido Côrte. Nos trechos de Resende a Cachoeira e de Barra do Piraí a Resende circulavam os trens “MP”.

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Imagens da linha de S. Paulo (Trens SP)

Tipo AMB 70B – R. de S.Paulo Tipo 1 (1889)

Um carimbo com características peculiares que já havia mencionado na parte 1. Tem legenda superior similar aos “SP”, data de circulação no período do “Ramal da Cachoeira” e legenda “Ramal de S. Paulo”. Tipo que merecerá mais investigação.

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Tipo AMB 73 a 75 – C. Ambulante Tipo 2 (1898-1899)

Com a mesma legenda superior, este segundo tipo tem uma inferior totalmente nova, indicando o nº do trem e a turma responsável.

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Tipo AMB 80 a 82 AMB.te RIO Tipo 3 (1900-1904)

Neste terceiro tipo, a legenda inferior dá destaque ao numero do trem, passando a indicação das turmas para as orelhas. Sua característica é o uso de tipologia em negrito e corpo maior do que o tipo 4, como veremos.

A partir do tipo3 os carimbos terão “RIO” ou “Rio de Janeiro” na legenda.

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AMB 85 a AMB 91 – AMB.te RIO Tipo 4 (1903-1906)

Este tipo 4 é o mais comum, aparecendo em quase todos os trens.  A única diferença com o tipo 3 o uso de uma tipologia mais discreta, sem negrito e com corpo menor.

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AMB 102 a AMB 105 Rio de Janeiro (1907-1909)

O tipo 5 já usa carimbos “barras-duplas” com diâmetro 27 mm. A legenda inferior reza Ambul. + o nº do trem.

 


Parte 3 – Linha Rio de Janeiro – S. Paulo (1906-1911)

Esta última parte dos carimbos ambulantes do Ramal São Paulo já encontra a linha quase completamente reformada pela EFCB, com a troca da bitola do trecho paulista, permitindo uma ligação ferroviária continua entre Rio e S. Paulo. Circulariam aí os trens “Expresso”, “Noturno” e “Rápido”. Ver nota [4]

Tipo AMB 145 – AMBe. NORTE (1908)

Reparem que o AMBte. RIO deu lugar ao AMBe. NORTE ou seja, relembrando a “Linha do Norte” que vinha de S. Paulo.

Tipo AMB 146 AMBte. NORTE RAPIDO (1908)

A legenda acrescenta o “Rápido”.

Tipo AMB 147 e 148  AMBe. NOTURNO (1906-08)

Estes são os noturnos

Tipo 149b – carta expressa postada em Poços de Caldas em 11.10.1941 endereçada a Copacabana. Trafegou pela linha SP-RJ da EFCB onde recebeu carimbo ambulante no dia 13; o carimbo de recepção na agencia de Copacabana é o tipo 95, também do mesmo dia.

É um envelope altamente colecionável, pois nos traz informações valiosas que adicionei em três diferentes locais deste site:

  1. Correio ambulante: é a mais importante na minha opinião pois nos revela a operação em 3 turmas de um correio ambulante noturno nos trens do trecho paulista da EFCB em 1941, trinta anos depois do último carimbo conhecido nessa linha. Por isso, o envelope original está apresentado aqui, na coleção ferroviária ambulante, com imagem logo abaixo;
  2. Quarta seção do Correio Central: a legenda inferior AMB-4AS-RIO nos remete ao responsável pela operação ambulante na época. A 4A.S está explicitamente relatada no Relatório dos Correios de 1936, com três de suas 7 turmas alocadas nesse serviço. Uma portaria de 1946 já o informa realocado na 7a. seção;
  3. Copacabana:  o carimbo mecânico de recepção em Copacabana também é raro e ajuda no entendimento das funções das agências naquele bairro, onde adicionei também uma cópia desta carta.

 


Notas e informações

[4] Comentava eu no texto sobre os tipos Noturno, Expresso e Rápido. Achei que seria interessante conferir a tabela de horários do Ramal S. Paulo da época (1908).

Os trens são o RP (Rápido Paulista), NP (Noturno Paulista) e SP (Expresso Paulista). Digito 1 na Ida  e 2 na Volta. Os MP (Misto Paulista) só circulam em alguns trechos da linha; são de carga e passageiros e não têm correio ambulante que eu saiba.

A tabela completa tem mais uma página. Vê-se que ela cobre todas as estações da linha entre a Norte em SP e a Central no RJ.

 


 Capítulo II – AGENCIAS FERROVIÁRIAS NA LINHA 11


No Capítulo I discorremos sobre os carimbos ambulantes, ou seja, aqueles que são aplicados nos trens especificados nos respectivos carimbos. A estrutura dos agentes embarcados, ou agentes ambulantes, responde a uma seção do Correio Central independente das agencias fixas.

“Agencia ferroviária” é o termo usado pelos filatelistas para designar agencias postais instaladas em estações ou próximas a elas.  Oficialmente o nome não existe, já que são agencias regulares dos Correios administradas por um agente postal subordinado à mesma estrutura das demais agencias fixas. O fato de constar “Estação” ou “Est.” nos carimbos é simplesmente um indicador de sua localização. Listar essas agencias nesta página tem objetivo de apoio aos colecionadores (entre os quais me incluo). No entanto, a exemplo das agencias regulares, cada uma delas tem sua história descrita nos seus respectivos municípios.

Notas

Posição 11.17 – vale a curiosidade dos 5 nomes da estação, onde todos, com exceção de Passa-Vinte, foram acompanhados pela agencia. Floriano é o que mais tempo durou e é uma homenagem ao Marechal Floriano que lá faleceu. Há também um Divisa. Mas, divisa do que? Entre os municípios de Barra Mansa e Resende!

A estação Resende (posição 11.22) aparece na tabela pela sua importância e para marcar o curioso fato de nunca ter tido uma agencia dos correios com seu nome. Em outras palavras, a agencia já existia décadas antes da estação, mas distante da futura estação.

A tabela mostra também as principais estações do ramal já dentro do território da província de S. Paulo. Cachoeira está a 50km da divisa.

Alguns exemplos de estações ferroviárias na linha 11

As demais imagens podem ser vistas nos seus respectivos municípios

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