ESTRADA REAL
As rotas comerciais e suas agencias postais no estado do Rio de Janeiro
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- Parte I – Introdução
- Parte II – O Caminho de Pilar
- Parte III – A Variante do Proença
- Parte IV – A Estrada do Comercio
PARTE I – INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é estudar a conexão entre as rotas comerciais que faziam o escoamento das riquezas do sertão para portos de mar e as agencias postais que surgiram no trajeto.
Com alguma liberdade, posso sugerir um paralelo com as “agencias ferroviárias” criadas nas estações construídas ao longo das linhas ferroviárias em meados século XIX. Este assunto é tratado em profundidade neste site nas páginas do capítulo Correio Ferroviário.
Conhecidas por Estradas Reais, tinham como característica serem construídas, conservadas e protegidas pelo governo central. Eram públicas, de boa qualidade e seguras, qualidades apreciadas pelo agentes do transporte e do comércio. Em contrapartida, permitia ao governo fiscalizar o tráfego, evitar o contrabando e cobrar impostos. O mapa abaixo mostra os caminhos abordados neste trabalho.
Não por acaso, as principais rotas ligavam Vila Rica (Ouro Preto) ao Rio de Janeiro, sede do governo e principal porto do país na época. A mais antiga dessas rotas é conhecida por Caminho Velho e ligava Vila Rica a Paraty na baía de Angra dos Reis de onde seguia por mar para o Rio de Janeiro. Como se vê no mapa esse caminho cruzava Minas Gerais até o vale do Paraíba em São Paulo de onde descia a Serra do Mar.
Com o advento do ciclo do ouro na virada do século XVIII uma nova rota tornou-se necessária para reduzir as distâncias e reduzir a vulnerabilidade do transporte em mar aberto. Ficou conhecida por Caminho Novo. Diferentemente do anterior, este tinha um grande trecho em território fluminense, assim me permitindo explorar com mais profundidade as agencias do caminho.
Um pouco de História
Em 1565 uma esquadra comandada por Estácio de Sá chegou ao Rio de Janeiro para combater as invasões francesas e as ameaças indígenas. Em 1º de março ele fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Dois anos depois, com a expulsão dos franceses, chegara a vez de solidificar o controle do interior com a ocupação do entorno da Baía de Guanabara. Os caminhos fluviais seriam os trajetos naturais para essa ocupação já que na época eram navegáveis. O maior desses rios era o Macacu (à direita no mapa de 1892). Às suas margens foi criada em 1647 a Freguesia de Santo Antonio do Caceribu, a primeira a se estabelecer na baixada fluminense.
No sentido anti-horário no mapa, os rios Estrella, Pilar e Iguassu foram utilizados ao longo dos anos como pontos iniciais do Caminho Novo como veremos em seguida. Na extrema esquerda, o rio Mirity constituiu-se na divisa natural do Município Neutro e a Província do Rio.
PARTE 2 – O CAMINHO DE PILAR
traçado em magenta no mapa [3]
O traçado original é de 1699 e conhecido por Caminho de Pilar, por se originar no rio homônimo, em cujas margens estava estabelecida a Freguesia de Pilar.
Garcia Rodrigues Paes Leme, filho do bandeirante Fernão Dias Paes Leme – o famoso Caçador de Esmeraldas, foi encarregado de abrir o novo caminho, concluído em 1704. No entanto, o trajeto na travessia da Serra do Couto foi mal escolhido, provocando frequentes acidentes. Em 1722 teríamos mudanças.
No trajeto, desenvolveram-se povoados que, com o tempo, tiveram agencias postais que listei na tabela abaixo. Note que somente um dos locais já possuía status de freguesia antes da chegada do Caminho – no caso o inicial Pilar.
A Freguesia de Pilar do Iguaçu originou-se da capela curada de 1637 dedicada a Nossa Senhora do Pilar, elevada à Paróquia Encomendada em 1696. Com a construção do Caminho Novo em 1700, um registro imperial, conhecido por “Guarda do Pilar” foi instalado na confluência dos rios Pilar e Iguassu para controlar o tráfego de valores proveniente de Minas Gerais. Com o progresso, uma nova matriz seria construída em 1720 e seu rico altar ficaria famoso.
A agencia postal no entanto só seria criada após o advento das estradas de ferro. A estação da E.F. do Norte foi inaugurada em 1887 e a agencia postal em 1888, funcionando até 1912. Essa agencia está listada neste site no município de Duque de Caxias (ERJ 416), a quem o distrito está atualmente subordinado.
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A próxima parada do nosso caminho é Xerem, aos pés da serra do Couto. A escolha do trajeto deve-se ao fato de Xerem já possuir um caminho antigo de transposição da serra, provavelmente um Peabiru. No entanto, o trajeto se mostraria impróprio para as caravanas de mulas e os acidentes seriam frequentes.
Xerem foi o local escolhido para a instalação de uma das pioneiras fábricas automobilísticas do Brasil, a Fábrica Nacional de Motores, inaugurada em 1942 e que produziria os famosos caminhões FNM.
A agência postal de Xerem teve que aguardar a chegada da estrada de ferro em 1883. Ela foi criada em 1915. A da FNM é a ERJ 435 de 1944. Os carimbos que disponho são todos de época moderna.
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De Xerem, seguimos pelo rio Mantequira até sua nascente nas fraldas da Serra do Couto após a qual estamos nas terras de Vassouras. Várias sesmarias foram aí concedidas, entre as quais a de Marcos da Costa da Fonseca Castelo Branco, almoxarife da Fazenda Real no Rio por volta de 1708 (fonte: IBGE).
A agencia postal ERJ 685 foi criada somente em 1896 mas só permaneceria aberta por pouco mais de dois anos. Quem sabe um dia encontraremos um carimbo do local?
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A seguir Garcia Paes Leme chegou ao local conhecido por “Roça do Alferes”, propriedade do Alferes Leonardo Cardoso da Silva, onde havia uma plantação de palmeiras conhecidas por patys. Nesse local foi mais tarde criada a Freguesia de Paty do Alferes por alvará de 11/01/1755 elevada a município em 1987.
A grafia com “ i ” seria decorrente das reformas ortográficas de 1911 e 1943. Ela retornaria para a tradicional Paty somente em 1989. A agencia é de 1829.
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À beira do Caminho Novo prosperaram as sesmarias, entre as quais a de Pau Grande do sargento-mor Martim Corrêa de Sá em 1714. Essas terras foram posteriormente adquiridas pela família Ribeiro de Avellar, cuja história se confunde com as localidades de Avelar e Paty do Alferes. O distrito de Avelar seria criado em 31/12/1943 em Vassouras onde permaneceria até 1987, quando foi transferido para o recém criado município de Paty do Alferes.
A EF Melhoramentos (Linha Auxiliar) inaugurou o trecho até Entre Rios em 1898, ano em que a 23 de setembro foram criadas as agencias postais de Avelar e Barro Branco (ERJ 939). Desta última não conheço carimbos.
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A estação Werneck homenageia uma das famílias mais influentes do Rio de Janeiro no século XVIII. A origem do clã é João Berneque, neto de alemães imigrados para Portugal, país em que nasceu em 1680 imigrando para o Rio de Janeiro em 1711. Nesse mesmo ano o Rio foi invadido pelo francês Duguay-Trouin fazendo Berneque se mudar com a família para Pilar do Iguaçu onde veio a falecer em 1722.
A estação da EFMB (Linha Auxiliar) em 1898 se chamou Werneck, grafia que a família adotou no século XIX. A agencia foi criada em 17/11/1900 e está ainda ativa.
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Paraíba do Sul Este local tem uma importância central nesta apresentação, pois foi aí que o já citado Garcia Rodrigues Paes Leme, ao descobrir em 1692 um remanso aprazível à beira do rio, vislumbrou a possibilidade de abrir “um caminho mais direto entre as minas (que seu pai havia descoberto) e o porto do Rio de Janeiro”. Sua “Fazenda de Garcia” deu origem à cidade, onde ele veio a falecer em 1738 (fonte IBGE).
A Freguesia foi criada com denominação de Paraíba do Sul por alvará de 02/01/1756 e elevada à vila pelo decreto de 15/01/1833. Sua agencia postal é um pouco anterior, tendo sido criada em 17/09/1832.
Paraíba do Sul teve estação da Linha do Centro inaugurada em 11/08/1867 e teria entroncamento com a Linha Auxiliar em 1898.
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O rio Paraibuna
Mapa Google atual (2022) sobre o qual acrescentei alguns nomes e números para ajudar na descrição do local.
De Paraíba do Sul a estrada seguia para o norte, até atingir o rio Paraibuna. Em um determinado ponto, o rio cruzava um vale estreito entre montanhas de um lado e a Pedra de Paraibuna na margem direita. Local portanto ideal para estabelecer um ponto de controle e fiscalização.
O Registro
Assim surgiu o “Registo de Parahybuna” instalado em 1711 em sua margem esquerda, poucos anos portanto após a conclusão das obras do “caminho novo” no início do século XVIII. O local recebeu um quartel da Policia Montada para manter a ordem no Caminho Novo, o que deu origem a um povoado no local. Os governadores das provincias do Rio de de Minas concordaram em manter o registro em território mineiro mas com administração fluminense.
O mapa Google atual permite visualizar os principais eventos desse local histórico. O registro está localizado no nº 1. O casarão que o abrigava ainda existe, embora em mau estado de conservação, como se vê na imagem.
O mapa registra também a estrada Real (nº 4), que tangencia a Pedra de Paraibuna e segue pela margem até o ponto de travessia para o territorio mineiro.
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A ponte do Paraibuna
Para melhorar o Caminho Novo, principal rota entre a Corte e Minas, Dom João VI ordenou a construção de uma ponte sobre o rio, em frente ao Registro. Construída de madeira e coberta por telhas, foi entregue em 1818. Ela foi pintada por Rugendas quando visitou a região por volta de 1824. Está indicada pelo nº 3 na imagem. Consta que Rugendas acompanhava D. Pedro I em sua segunda visita ao local, quando teria almoçado sobre a ponte.
Em 26 de março de 1840 os Correios decidiram criar uma agência postal no Registro, como se vê na nota extraída do Relatório Ministerial Imperial desse ano, referida por “Agencia no Registo da Ponte do Rio Parahibuna”.
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A estrada União e Indústria
O próximo evento histórico foi a construção da primeira estrada macadamizada do Brasil sob os auspícios de D. Pedro II. O projeto da estrada é dos anos 1850 quando o comendador Mariano Procópio Ferreira Lage recebeu a concessão para a construção , da estrada de Petrópolis ao rio Paraíba. A imagem é de uma ação datada de 31 de dezembro de 1852 da Cia União e Indústria, empresa por ele constituída.
Em 23 de junho de 1861, Dom Pedro II e representantes da Companhia percorreram em diligência seus 144 quilômetros, inaugurando a união entre Petrópolis e Juiz de Fora. Consta também que a Cia. também reformou a ponte com estrutura metálica sobre os mesmos pilares de pedra originais.
Foi construída na margem direita do rio, indicada pelo nº 5 na imagem.
A União Indústria tinha “estações” ao longo do caminho, pontos de muda nos quais os animais de tração eram substituídos. A imagem a seguir é a da estação Monte Serrat, hoje Museu Rodoviário, nº 7 no mapa (infelizmente fechado).
Imagem: https://www.espeschit.com.br/historia/uniao_e_industria/estacoes_de_muda/
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A Estrada de Ferro
A estação ferroviária “Paraibuna” a poucos metros do edificio do Registro (nº 2). A foto é de Marc Ferrez. A imagem é do site estacoesferroviarias.com.br.
Por último, mas não menos importante, a Estrada de Ferro Dom Pedro II chegaria à região em setembro de 1874. Saindo de Três Rios, acompanhava o curso do rio Paraibuna pela margem esquerda, como se vê no nº 6 da imagem. A inauguração da estação contou com a presença de D. Pedro II.
Em 1875 uma nova agência seria inaugurada na estação, possivelmente com a transferência da antiga agencia do Registro. Essa agencia foi por sua vez transferida para Monte Serrat em 1886 onde permaneceu até o final dos anos 1960.
Um comentário que me ocorre é a falta de planejamento de longo prazo do governo ao construir uma estrada de rodagem que, pouco mais de uma década depois, sofreria concorrência de uma ferrovia.
Monte Serrat
Na margem direita do rio, já desde o início do século XVIII, um núcleo populacional se organizava sob invocação de Nossa Senhora de Monte Serrat (nº 7 no mapa), cuja igreja foi construída em 1869.
Pela Lei Provincial n.º 2.698, de 24-09-1884 Monte Serrat foi elevada a distrito de Paraíba da Sul e pouco depois, em 06.11.1886, a agencia postal foi transferida da estação para a cidade sendo renomeada Monte Serrat. Curiosamente, seus carimbos manteriam a legenda “EST” (estação) até pelo menos 1928.
Em 14.12.1938 Entre Rios foi por sua vez emancipado, fomando um novo município formado por quatro distritos: Entre Rios (sede), Areal, Bemposta e Monte Serrat. Entretanto, duas semanas depois, em 31.12.1938 , novo decreto alterou seu nome para Três Rios ao mesmo tempo que extinguiu o distrito de Monte Serrat, cujo território seria incorporado a um novo distrito também desmembrado de Paraiba do Sul – Afonso Arinos.
PARTE 3 – A VARIANTE DO PROENÇA
(em azul no mapa)
O segundo trajeto, a chamada “Variante do Proença” ou “Caminho do Inhomirim”, seguia os rios da Estrela e Inhomirim e subia a serra da Estrella.
Proprietário de terras em Suruhy, no atual municipio de Magé, o sargento-mor Bernardo Soares de Proença, ciente das dificuldades do trajeto do Caminho Novo, construiu entre 1722 e 1725 um caminho alternativo seguindo uma trilha utilizada pelos índios de sua fazenda.
Como veremos adiante, esse caminho testemunharia importantes fatos históricos: a ferrovia Mauá, a fundação de Petrópolis e até mesmo a saga da Inconfidência Mineira.
A tabela a seguir apresenta as agencias que se formaram no trajeto. Note que nenhum dos locais já possuía status de freguesia antes da chegada do Caminho e somente um era Curato: Cebolas.
Situado a uns 10km da foz do rio Estrela na Baia de Guanabara, o Arraial do Porto da Estrela já existia desde o século XVII em território da Freguesia NS da Piedade de Inhomerim (1696) que disputava com Iguassu a hegemonia da região.
O desenvolvimento econômico veio quando este passou a ser o ponto de entrada do Caminho do Ouro em 1725 que teve em decorrência sua elevação à município aconteceu em 20/05/1846. A agencia postal foi criada em 05/03/1846.
A decadência derivou de uma revolução logística com a construção da EF Barão de Mauá e sua posterior ligação com a Corte. Ao mesmo tempo, o ciclo do ouro estava se esgotando e o ciclo do café atingia seu auge. Veremos mais tarde que a Estrada do Comercio via Iguassu já estava operando em 1811.
O município da Estrela seria extinto em 8/5/1892 e a agencia resistiria até 28/1/1897. No local existem algumas poucas ruínas, como a “Casa das Três Portas” abaixo.
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A Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim foi criada em 11.01.1755 subordinado a Magé. Com a criação da Vila da Estrela O distrito foi transferido para o recém-criado município como sua sede, já que sua localização era às margens do rio Inhomirim e próxima ao porto.
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A Real Fabrica de Pólvora da Estrela ERJ 629 foi construída em 1808 na Lagoa Rodrigo de Freitas e realocada em 1832 por problemas ecológicos. O local escolhido foi a Raiz da Serra, próxima à Variante do Proença – trajeto de suas matérias primas – e tambem próxima ao Porto da Estrela.
A Guerra do Paraguai traria recordes de produção entre 1863 e 1870. Não por acaso, funcionou exatamente nesse período a agencia postal “Fábrica de Pólvora”.
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Petropolis Em 1822, o imperador brasileiro dom Pedro I, a caminho de Minas Gerais pelo Caminho do Ouro, hospedou-se na fazenda do padre Correia e ficou encantado com a região. Adquiriu uma fazenda vizinha, a Fazenda do Córrego Seco.
No dia 16 de março de 1843, o Imperador, recém-casado com Da. Teresa Cristina, assinou o Decreto Imperial nº 155 que arrendava as terras da fazenda do Córrego Seco ao Major Köeler para a fundação da “Povoação-Palácio de Petrópolis”
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Segundo o mapa Bellegarde de 1839, o trecho até Pedro do Rio é compartilhado com a “Estrada da Estrella a Minas Gerais” e aí se separam. A Variante do Proença segue à esquerda pelo rio Secretário (traço vermelho cheio) e a Estrella segue norte em direção ao Porto do Mar de Hespanha (ou Chiador) no rio Paraíba (traço pontilhado). Nesta última, uma bifurcação à direita (também pontilhada) segue para Porto Novo do Cunha, passando por S. José (atual do Vale do Rio Preto).
Pedro do Rio deve seu nome na história ao fato de ter sido escolhido como o local de afastamento do rio Piabanha, pois nesse ponto a estrada vira à esquerda para se dirigir a Paraiba do Sul. Esse trajeto acompanha o rio Secretário em cujas margens está a localidade homônima, local onde foi estabelecida a sesmaria concedida ao então secretário do Governador Aires de Saldanha (1719-1725), que hoje é nome de rua em Copacabana .
A agencia de Secretário é de 1919.
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A lei na época facultava a concessão de sesmarias e várias se estabeleceram às margens do caminho. Outra de interesse, já em Paraíba do Sul, é a sesmaria de Fagundes situada às margens do rio de mesmo nome que forma divisa com Petrópolis. Num afluente próximo está a localidade de Pampulha, onde estava instalado o Registro de Pampulha com um Posto da Guarda da alfandega imperial.
A agencia de Pampulha é de 1855.
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A capela com invocação Santa Anna de Cebolas foi ereta em 1770 e elevada a Curato em 1789. Pela lei provincial nº 153, de 07.05.1839 foi elevada a freguesia de Santana de Cebolas e anexada ao Município de Paraíba do Sul onde é atualmente sede do seu 3º distrito.
Um dos líderes do precursor movimento de independência do Brasil, conhecido por Inconfidência Mineira, foi Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nascido em Minas Gerais em 1746. Ele foi nomeado comandante de destacamento na patrulha do Caminho Novo em 1781. Cebolas seria um dos locais por ele frequentado ao longo dessa década. Envolvendo-se com a conspiração, foi preso em 1789, julgado por traição e levado à forca pelo governo colonial em 1792. Parte de seus despojos foram enterrados na capela a que nos referimos acima.
Cebolas homenagearia o herói trocando, já na República, o nome do distrito para Santana de Tiradentes e em 1938 para Inconfidência, nome atual e que homenageia o movimento separatista.
A agencia postal de 1882 tomou o nome do Arraial da Laje, ou Rumo da Laje, renomeada Inconfidência em 1896. Veja essa história na página de Paraíba do Sul.
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O distrito de Encruzilhada foi criado em 1855 em Paraíba do Sul. De 1936 a 1938 teve a denominação de Santo Antônio da Encruzilhada e, a partir de 1943, Salutaris.
Há no local uma placa comemorativa do “início da Variante do Proença”, já que foi nessa localidade que a variante encontraria o anterior Caminho de Pilar cujo traçado está descrito em detalhes na parte 2 acima.
PARTE 4 – A ESTRADA DO COMERCIO
(em verde no mapa)
No inicio do século XIX, o ciclo do ouro estava se esgotando e o café despontando como a grande força econômica. Em 1811 a Junta de Comércio do Rio de Janeiro sugeriu a abertura de novo caminho, que ficaria conhecido por Estrada do Comércio.
Este ficou pronto em 1822 com origem no porto de Iguassu, atravessando a Serra do Tinguá e, passando por Estiva (atual Miguel Pereira), Arcadia e Vera Cruz atingiu o porto de Ubá (atual distrito de Andrade Pinto em Vassouras) no rio Paraíba.
A tabela a seguir resume os locais no seu trajeto:
Na época de abertura do Caminho Novo, o Arraial de Nossa Senhora da Piedade do Iguassu tinha já sido elevado a Freguesia e seu porto às margens do Rio Iguaçu era navegável até boa distância terra a dentro. O progresso da freguesia pela abertura da nova estrada nas primeiras décadas do século XIX impulsionaram a criação em 1833 da Vila (município) do Iguassu.
Sua decadência foi resultado de três fatores principais: a concorrência da EFDP2º a partir de 1867, problemas ambientais com assoreamento dos rios e, não menos importante, a necessidade de proteger os mananciais da serra para o abastecimento da cidade do Rio. Para essas obras, seria construída em 1876 a ferrovia Rio do Ouro.
Pelo Decreto Estadual n.º 204, de 01-05-1891 a sede do município foi transferida para a estação de Maxambomba, mantendo o nome até 1916, quando passou a Nova Iguaçu.
Hoje o local resume-se a um pequeno grupo de ruínas. A história está contada em artigo de Historia Postal “Municípios Extintos”.
A agencia postal é de 1832 e manteve-se aberta até 1931.
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Tinguá é localidade situada no sopé da serra de mesmo nome e é provável que estivesse no trajeto. É sede de diversas entidades e ONGs ligadas à ecologia e proteção ambiental , pois é a porta de entrada do Reserva Biológica Federal do Tinguá.
Foi estação do Ramal do Tinguá da EF Rio do Ouro inaugurada em 1876. A linha foi construída para dar suporte à construção da represa e adutora para abastecimento de água da capital. Sua agencia postal funcionou entre 1886 e os anos 1960.
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A freguesia de Santana das Palmeiras seria criada em 1855 no meio da serra do Tinguá, às margens da Estrada Real, como um importante entreposto do café produzido no vale do Paraíba.
Seu território abrangia a serra até os limites de Vassouras e sua área era a maior entre todas as freguesias que compunham na época a vila de Iguassu.
Seu fim foi a transferência da sede para Maxambomba. A agencia postal é de 1857, fechada em 1892 e transferida para Vassouras, na freguesia de Sacra Família do Tingua, hoje município de Miguel Pereira. Foi uma mudança confusa, com várias mudanças de nome e localidade. A história está no capítulo Freguesia de Iguassu no estudo Municípios Extintos. Hoje só restam ruínas, com acesso restrito por se tratar de reserva ecológica.
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Após a descida de serra e entrar no município de Miguel Pereira, a estrada usou o mesmo trajeto onde viria a ser construída a Linha Auxiliar no final do século XIX, passando pelas estações de Governador Portela (agencia de 1898) e Estiva (agencia em 1897).
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Após Estiva a Estrada Real segue até Paty do Alferes e daí acompanha o Caminho do Pilar até Avelar, onde dobra à esquerda e segue em direção ao rio Paraíba, atingindo-o no Porto de Ubá, ponto final da Estrada, no município de Vassouras, “a princesinha do café”.
Com a chegada da EF DP2º em 1867 foi inaugurada a estação Ubá e também a agencia postal de mesmo nome. Ambas foram renomeadas Paty em 1886.
O presente artigo foi originalmente concebido para uma apresentação online na SPP Conecta em sessão realizada em maio de 2020. Outro artigo mais resumido foi publicado no Boletim do Clube Filatélico Brusquense – SC edição de janeiro de 2021.
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