Linha 46 – Estrada de Ferro Barão de Araruama (engloba os ramais de Santa Maria Madalena e Manuel de Morais)
O projeto da EF Barão de Araruama (EFBA) foi autorizado em 1876, sendo a companhia organizada pelo Decreto N. 6865 de 23.03.1878 com o ambicioso objetivo de conectar a EF Macaé e Campos (EFMC, linha 43) com a EF Cantagalo (linha 39) na estação de Macuco em Cantagalo [1].
O mapa de 1892 acima (clique para ampliar) reproduz em vermelho o traçado completo do projeto, que, como veremos, nunca foi construído (o trecho com meu grifo em verde consta erradamente em vermelho no mapa), provavelmente por razões políticas entre as linhas.
Correio ambulante
Nota-se pelos carimbos a menção a diversos trechos das linhas.
Estações ferroviárias
“Agencia ferroviária” é o termo usado pelos filatelistas para designar agencias postais instaladas em estações ou próximas a elas. Oficialmente o nome não existe, já que são agencias regulares dos Correios administradas por um agente postal subordinado à mesma estrutura das demais agencias fixas. O fato de constar “Estação” ou “Est.” nos carimbos é simplesmente um indicador de sua localização. Listar essas agencias nesta página tem objetivo de apoio aos colecionadores (entre os quais me incluo). No entanto, a exemplo das agencias regulares, cada uma delas tem sua história e imagens dos carimbos nos seus respectivos municípios.
O 1º trecho, de Entroncamento (Conde de Araruama) a Ventania (Trajano de Morais), teve a linha entregue pela E. F. Barão de Araruama até Conceição de Macabu em 1878 e no ano seguinte até Triumpho, como se pode ver no mapa. No primeiro trecho houve correio ambulante.
O 2º trecho, de Triunfo a Manuel de Morais, foi assinado em 8 de fevereiro de 1888 com o engº Aristoteles Ambrosio Gomes Calaça e foi aberto ao tráfego até Ventania em 23 de maio de 1891. Nesse ano as obras foram suspensas e o trecho até Manuel de Morais só seria concluído pela Leopoldina entre 1896 e 1897 (ver 4º trecho).
O 3º trecho entre Trajano de Morais e Santa Maria Madalena teria sido concedido pela lei N. 2909 de 09.12.1887 ao engº Calaça, que inaugurou a estação terminal em Madalena em 05.12.1890.
O 4º trecho, entre Trajano de Morais e Manuel de Morais, que anteriormente fazia parte do segundo trecho, foi construído pela EF Leopoldina entre 1896 e 1897 [3].
Dependendo da época, a linha principal era Conde de Araruama-Madalena, ou Conde de Araruama-Manoel de Morais, com o outro trecho sendo o ramal, ou seja, passando por baldeação ou espera em Trajano de Morais. Em 31/08/1965, o trecho a partir de Triunfo foi suprimido para trens de passageiros, ou seja, o entroncamento de Trajano de Morais já não era alcançado. Em 1966 ou 1967, o que restava do ramal acabou de vez. Ficou, entretanto, o trecho entre Conde de Araruama e Conceição de Macabu ainda funcionando para a Usina Victor Spence, até o início dos anos 1990. Com a sua desativação, os trilhos foram arrancados [4].
As imagens dos carimbos das agencias postais podem ser vistas nas seus respectivos municípios, indicados na planilha acima.
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CURIOSIDADES SOBRE A REGIÃO
São Francisco de Paula e a família Moraes
O mapa de 1892 já apresentado acima também destaca no terço inferior a importância de São Francisco de Paula nessa época. Não é para menos, pois este era o nome do município criado em 1891 originado da freguesia de mesmo nome existente nesse local desde 1846. Não incluído no traçado da ferrovia, São Francisco entrou em decadência. O município será renomeado Trajano de Morais em 1938, por razões que detalho no artigo sobre municípios extintos ver História Postal, neste site.
No mapa de 1921, vemos que a estação “Villa Aurora” está grafada com destaque, embora Visconde do Imbé conste pequenino entre parênteses. Isso se explica pois Aurora foi sede do município S. Francisco de Paula entre 1919 e 1923 (IBGE). Não há registro de que a estação tenha recebido esse nome.
O local era sede da Fazenda Aurora, uma das mais importantes da região, de propriedade de Jose Antonio de Moraes, Visconde de Imbé, e pai de Trajano de Morais, que nasceu na fazenda.
NA: Não confundir com a homônima estação Aurora da EF Paulista em SP inaugurada em 1889 e esta sim com agencia.
Notas e informações
[1] Fonte das datas “A Formação das EF no RJ” de Helio Suêvo.
Para situar o empreendimento no tempo, lembro que a EFMC havia sido construída em 1875 e a estação de “Entroncamento” foi inaugurada na linha em 1878 como inicial da EFBA [2]; na outra ponta, a estação de Macuco foi inaugurada em 1876 como ponta de linha da linha de Cantagalo. Vale salientar que tal ligação jamais foi construída.
[2] A estação Entroncamento chamou-se originalmente Santa Fé de Macabu e ficava às margens do rio; foi realocada pela construção da EFBA; ela tem uma história curiosa detalhada no município de Quissamã. Em 1897 foi rebatizada Conde de Araruama.
[3] Vale dizer que a história empresarial desse período é conturbada. O que consta? Em 6 de junho de 1890 a EF Barão de Araruama teve sua concessão transferida para a EFL (imagem). Segundo Helio Suêvo, o contrato para o 2º trecho foi concedido ao engº Calaça, que por sua vez o transferiu para a Cia EF Santa Maria Madalena, vendida à Leopoldina em 1907. Calaça aparece como engenheiro ou diretor de todas essas empresas e mesmo como “presidente interino da diretoria” da EF Leopoldina em 1892 (imagem).
[4] Parágrafo reproduzido de estacoesferroviarias.com.br de Ralph Giesbrecht.
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