O Edifício A Noite (oficialmente Joseph Gire) foi construído em estilo art deco entre1927 e 1929 na Praça Mauá. Com 22 pavimentos e 102m de altura, ele foi o primeiro arranha-céu da América Latina e o mais alto do Brasil até 1934, quando da inauguração do Edifício Martinelli em S. Paulo, com três metros a mais. A imagem de 1930 dá ideia do contraste com o casario relativamente baixo do centro da cidade, mesmo na Av. Rio Branco. Compare com a cúpula redonda de 62m da igreja N.S. da Candelária ao centro do quadrante superior esquerdo.
O projeto do edifício foi promovido pelo jornal A Noite já que buscava na época novo local para ampliar suas instalações na cidade. Com o sucesso da empreitada, ele já havia para lá transferido sua sede quando da inauguração oficial em 7 de setembro de 1929, data da matéria acima. A Noite foi fundada por Irineu Marinho em junho de 1911, um jornal de cunho popular que teve grande circulação. Por problemas de saúde, por volta de 1924 deixou o jornal para se tratar no exterior, período em que levou toda a família. Nesse intervalo, um grupo de acionistas praticamente o alijou do comando do jornal. De volta ao Brasil, Irineu fundaria um novo jornal, O Globo, em 29 de junho de 1925, mas faleceu 21 dias depois. Seu filho mais velho, Roberto Marinho, então com 20 anos, assumiria mais tarde sua direção, origem do Grupo Globo.
O jornal A Noite enfrentou tempos difíceis Poucas semanas depois da inauguração do prédio, houve o crash da bolsa americana, com reflexos na economia mundial. Em 1930, houve o golpe militar (contra o resultado das eleições daquele ano) que derrubou o governo Washington Luiz e empossou Getúlio Vargas em governo provisório. A Noite, que editorialmente havia apoiado WL, foi empastelada e perdeu prestígio. Em 1936 foi lá instalada a sede da Radio Nacional do Rio de Janeiro, cujo auditório no 22º andar era popularíssimo.
Em 1940, já no Estado Novo, Vargas estatizou ambas as empresas e criou a estatal Radio Nacional que fez muito sucesso nos 20 anos seguintes, a era dourada do rádio. Já o jornal sob direção estatal não foi bem e fechou nos anos 1950. O prédio continua propriedade federal e está sem ocupação; as tentativas de leiloá-lo até esta data (outubro de 2022) não encontraram pretendentes.
A agencia Postal
Contei toda essa história motivado pela existência de uma efêmera “agencia postal-telegraphica A Noite” em 1934, provavelmente localizada no edifício. Não encontrei menção a documento oficial de sua criação no BP, no DOU ou mesmo nota na imprensa. A data que usei (da nota cuja imagem está acima) é a da rara menção a ela no DOU sobre um objeto extraviado que lá havia sido postado no dia 23 de julho.
O carimbo é sui generis, com a longa legenda superior continuando pelo quadrante superior do carimbo. Lembra vagamente os primeiros carimbos da estação Dom Pedro II da mesma época. Parece-me até que o exemplar de 1934, imagem de péssima qualidade, tem vestígios de uma caixa circundado o datador como os da referida estação (MRJ 165). Felizmente tenho registro um envelope com a segunda versão desse carimbo, também sobre carta registrada – aliás postada pelo então consulado americano que também ocupava o prédio desde seu início.
MRJ 137 – A Noite (1934-1941)
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