RJ-MG no rio Paraíba

CAPÍTULO I

DIVISA RJ – MG no RIO PARAIBA

RAMAL do PORTO NOVO da E.F.D.P.II


 

Introdução histórica

Relembrando, “Agencias de Divisa” são as criadas em território de um estado mas temporariamente subordinadas à Diretoria Regional dos Correios de um estado vizinho. Ver definições na Introdução no menu principal [1].

*

O trecho da divisa entre a Zona da Mata mineira e a Província do Rio de Janeiro, embora carente de definições oficiais precisas, acompanhava nesse trecho o leito do rio Paraíba, conforme assinalado no mapa…

… e apresentado em destaque abaixo.

A região tem uma curiosa história, a começar pelo sugestivo título de “Minas do Canta Gallo” que denomina a região entre o rio Paraíba e a vertente norte da Serra da Boa Vista que se manteve fechada aos europeus por força de cartas régias e “habitado por Gentio” por quase todo o século XVIII.

Com o objetivo de coibir o contrabando de ouro, as cartas estabeleciam áreas proibidas à ocupação coibindo a abertura de novas estradas. A mineração de ouro era feita nos rios Negro, Macuco e Grande. Seu nome está ligado à história do contrabandista de ouro conhecido por “Mão de Luva” que havia invadido o território proibido em busca de ouro. Conta a lenda que uma expedição enviada pelo governador de Minas para prendê-lo teria finalmente encontrado o arraial onde ele se escondia guiados pelo canto de um galo.

Com a extinção das jazidas, a região passou a ser povoada e rotas de comercio passaram a cruzá-la ligando as duas importantes províncias.  Em 1784 o governador mineiro Luiz da Cunha Menezes mandou construir um porto no rio Paraíba de modo a facilitar o trânsito comercial e, ao concentrá-lo, poder instalar um “Registro” que facilitasse a fiscalização e taxação do tráfego de ouro. O local passou a ser conhecido por Porto do Cunha (ver mapa mais abaixo).

 

As rotas comerciais

Natural fronteira entre as províncias, o rio Paraíba possuía portos de passagem do tráfego comercial entre a Corte e as minas gerais.

O mapa a seguir é o Bellegarde de 1839 (BN) que escolhi por apresentar informações valiosas da época, entre as quais os portos e o traçado das principais estradas comerciais interprovinciais que procurei destacar pela cor. Vale ressaltar a importância histórica de Magé ao fundo da baía como origem de várias rotas comerciais para o interior, e em 1854 seria o ponto de partida da primeira ferrovia brasileira, a EF Mauá.

Rota nº1Estrada da Estrella

Essa estrada está assim assinalada no mapa: “Estrada de Estrella a Minas pelo Mar de Hespanha”. Ela segue para o norte, atravessa a Serra da Estrella e acompanha o rio Piabanha por um trecho até um pouco antes do rio Preto, quando se bifurca.

O ramal da esquerda continua para o norte até atingir as margens do rio Paraíba no local assinalado “Porto do Mar d´Hespanha” (circulado em azul). Como o mapa do RJ não traz cidades de Minas, acrescentei Chiador e Mar de Hespanha para indicar a direção da rota final. Por sua vez o ramal da direita acompanha o rio Preto, passa por S. Jose (do Vale do Rio Preto) e chega ao Paraiba em Porto Novo do Cunha (circulado em azul). Esse porto foi construído nos anos 1830 em substituição ao antigo Porto (Velho) do Cunha de 1784 que está apresentado no caminho nº3. Um registro fiscal consta em Porto Novo em 1838 (“Recebedoria Fiscal”, segundo os mineiros).

Um pouco antes, outro ramal, desta vez à esquerda, leva a Sapucaia (circulada em vermelho). Nesse local, futura sede do município homônimo, foi construída uma ponte sobre o Paraiba, licitada em 1836. Foi aí instalado um registro fiscal e uma agencia postal criada em 21 de agosto de 1846, sendo contratada uma linha de malas entre Magé e Ponte de Sapucaia.

Rota nº2 Estrada dos Portos

Em 06.05.1836, pela lei nº 36, o governo “contrata com Francisco Leite Ribeiro a abertura de uma estrada que conduzisse de Magé ao rio Parahiba”, o que aponta para este caminho, que sai do porto da Piedade em Magé e está descrito como “Estrada dos Portos”, levando ao Porto Novo do Cunha, descrito no item anterior. O “S. José” que aparece num pequeno desvio é São José do Vale do Rio Preto, sede do atual município homônimo, por onde também passou o caminho nº1.

Rota nº3 Estrada do Paquequer

Saindo de Magé, a “Estrada do Paquequer” segue para o norte até o rio Paquequer (local da futura Teresópolis) que acompanha por um trecho até passar por Sumidouro quando toma direção nordeste passando pelo “Arraial do Tapeira” (futura Duas Barras) e chegando a Cantagalo. Nesse local, encontra a estrada que vem do Porto do Cunha, construído em 1784 (circulado em vermelho). Nos anos 1830, com a construção do Porto Novo, ele receberia a alcunha de Velho.

***

Os “registros” provinciais

A Lei nº16 de 12 de agosto de 1834, conhecida por “ATO ADICIONAL”, tem como
principal característica a ampliação da autonomia das províncias na condução dos assuntos político-institucionais sob sua jurisdição, incluindo arrecadação de impostos no âmbito urbano como a décima urbana e, no âmbito interprovincial, o recolhimento de taxas de trânsito de mercadorias.

Somente em 1860, através do decreto n. 2.551, de 17 de março, um novo regulamento foi aprovado. Esse ato tratou de todas as recebedorias do Império, incluindo a do município da Corte, tendo uniformizado os procedimentos de trabalho, cargos, direitos, deveres e vencimentos dos funcionários das diferentes estações.

É dessa época o “Mappa das Recebedorias, Collectorias e Linhas de Correios (…) da Provincia de MG” pelo Engº Aroeira publicado em 1866, do qual extraí a região do Paraiba. As bandeirolas verdes são as Recebedorias mineiras que, não por acaso, estão nos pontos de travessia do rio (e nas futuras estações da EFDP II que veremos a seguir).

No mapa vê-se na extrema esquerda uma parte dos rios Paraibuna e Negro, objetos de um próximo Capitulo.

A Estrada de Ferro

A EFDPII chegou a Entre Rios (atual Três Rios) em 1867, completando o chamado 2º trecho. O projeto original previa que a linha continuasse a acompanhar o curso do rio Paraíba, mas, decorridos dez anos, um novo cenário econômico e a experiência adquirida na construção da ferrovia, recém estatizada, reacenderam o debate político.

Havia quem defendesse que o trajeto para o norte acompanhando o rio Paraibuna seria preferível, visto que a rodovia União Indústria, que ligava Petrópolis a Juiz de Fora, a primeira pavimentada do país, tinha sido inaugurada em 1861 trazendo grande desenvolvimento industrial à região. Já os defensores do projeto original objetavam que a produção de café da Zona da Mata havia sido mais do que duplicada no período e exigia melhores condições de transporte.

Prevaleceu, em princípio, o projeto original e a ferrovia seguiu rumo leste em 1869, chegando a Porto Novo em 1871. Nesse mesmo ano, o governo imperial constituiu em Londres uma nova empresa de capital misto, que viria a ser a Companhia E.F. Leopoldina, para construir o trecho entre Porto Novo (atual Além Paraíba) e a cidade de Leopoldina, cujo nome a empresa adotou. As obras se iniciaram em 1873 e a estrada chegou a Leopoldina em 1877 (por um ramal, como veremos adiante).

Com essa decisão, liberou-se a EFDPII para construir uma segunda linha que, de Três Rios, seguiu rumo norte via Juiz de Fora. Construída entre 1874 e 1875, rapidamente se tornou a linha tronco do projeto de integração nacional imaginado pelo governo, enquanto a linha de Porto Novo passou a ser conhecida por “ramal”.

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O traçado foi projetado, entre razões técnicas e políticas, com trechos em ambas as margens, vale dizer, em em ambos os estados. A imagem acima é detalhe do “Mappa Postal-Geographico da Provincia do Rio de Janeiro” datado de novembro de 1888 (BN). Ele assinala as localidades com agencias postais através de bandeirolas cujo número de listas indica sua classe. Neste caso, todas são agencias ferroviárias, ou seja, agencias criadas em estações. Para facilitar a visualização destaquei em vermelho as agencias em território fluminense e em azul as em território mineiro.

O que nos traz ao tema deste trabalho, as agencias em território mineiro que foram criadas com subordinação à DR-RJ e alguns anos depois transferidas para a DR-MG. São as que alcunhei “agencias de divisa”.

O Boletim Postal de dezembro de 1908 é o único documento oficial que encontrei que registra com clareza uma transferência de jurisdição da DR-RJ para a DR-MG; no caso, a de Chiador.

Isso aconteceu em várias regiões do país, em áreas próximas às divisas, por razões logísticas ou da organização interna dos Correios, a quem cabia essa definição – que nem sempre obedecia a critérios geográficos. Neste caso, as linhas postais passaram a usar a ferrovia e fazia sentido que sua coordenação estivesse sob comando centralizado.

Temos cinco estações nessa situação: Santa Fé, Chiador, Ouro Fino, Conceição e Porto Novo do Cunha, que apresentarei individualmente. Para origem das fontes e códigos de referência citados no texto, ver nota [1].

Em tempo: o Ramal de Porto Novo passou para controle da Leopoldina nos anos 1960.

***

As estações e suas agencias postais

Começo apresentando um quadro resumo dos locais descritos e suas datas. Note-se que as agencias de Anta e Sapucaia não são “de divisa” por estarem em territorio fluminense.

 

No quadro, uso as siglas convencionais para as datas. Assim, a sigla DIE significa “Data de Inauguração da Estação” e DCA “Data de Criação da Agencia”.

Eu as apresentarei cronologicamente pela data de inauguração das estações.

 


CHIADOR


Imagem das ruínas da estação de Chiador, segundo o site da Prefeitura local.

A povoação de Santo Antonio do Mar de Hespanha data de 1842, sendo elevada a distrito de Santo Antonio do Chiador em 1874 e a município de Chiador em 1853, desmembrando-se de Mar de Hespanha. Nova Monteiro registra em 27.07.1859 a criação de uma agencia postal “Chiador” em Minas Gerais [3].

A 6 km da atual sede de município, existiu no rio Paraíba o Porto do Mar d’Hespanha, como vimos anteriormente na descrição da rota nº1, a Estrada da Estrella. Por volta de 1850, o porto passou a ser conhecido por Chiador talvez pelo rumor das águas nas corredeiras do rio, nome que deu origem ao município. Esse foi o local escolhido para a construção da estação Chiador.

Estação de Chiador – Data de Inauguração da Estação (DIE): 27.06.1869

Chiador é a mais antiga estação ferroviária em Minas Gerais, DIE 27 de junho de 1869 com a presença de SMI o imperador, conforme matéria do jornal Diario do RJ publicada em 30 de junho desse ano [2].

Data de Criação da Agência (DCA) na estação: 30.07 1869 (RJ)

As informações sobre essas datas geraram alguma confusão, como descreve R. Koester em seu trabalho [3]. Eu adotei as datas informadas por Nova Monteiro, que me parecem bem aderentes à história do local (imagem abaixo)

Na imagem abaixo, o primeiro verbete refere-se à agência mineira do povoado de Santo Antonio do Mar de Espanha (que mencionei mais acima); o segundo verbete refere-se à agencia criada na estação, cuja data de criação me parece alinhada à da estação – seguindo a norma dos Correios em criar agencias postais nas estações.

Vale lembrar que a povoação estava a 6km de distância o que justificaria a segunda agência. Talvez os Correios tenham decidido transferir a agencia da povoação, pois o GP de 1880 só registra essa última. Essa é também a opinião de R Koester.

Assim, a agencia da estação Chiador é um exemplo clássico de uma “agencia de divisa” criada em territorio de MG mas subordinada postalmente ao Rio de Janeiro.

Data de Transferência da agencia para MG – DCA 01.01.1909

A primeira informação é nota do Boletim Postal de 26 de setembro de 1908, informando a mudança de jurisdição da agencia da estação de Chiador para MG. No entanto…

… a decisão da mudança foi adiada para 1.1.1909 pela Portaria de 28 dezembro de 1908 também publicada no Boletim Postal.

Chiador é até onde sei a única das “Agencias de Divisa” desse ramal a receber menção oficial de transferencia.  O colega Paula Sobrinho a registra em Minas Gerais algumas  semanas mais tarde, em 06.04.1909 – talvez por ter sido a data de instalação.

Curiosamente, Chiador foi a primeira agencia a ser criada e também a última a ser transferida para Minas, após 40 anos.


SANTA FÉ


Embora Santa Fé fosse a primeira estação da linha, sua inauguração foi posterior à de Chiador pois o comboio que trazia D.Pedro II do Rio para a inauguração foi direto a Chiador e, somente no retorno horas mais tarde, parou em Santa Fé.

Só resta a plataforma do prédio da estação.

Estação de Santa Fé – Data de Inauguração da Estação (DIE) 27.06.1869

Sabemos pela matéria do Diario do RJ [2] que o imperador a inaugurou “logo após Chiador”, ou seja, no mesmo dia 27.06.69, mas já de volta ao Rio; é a segunda mais antiga estação mineira .

Data de Criação da Agência na estação (DCA) 30.07.1869 (RJ)

Nova Monteiro registra sua criação em 30 de julho de 1869 no Rio de Janeiro, local que foi confirmado no GP de 1880.

Data de Transferência da agencia para MG – 1885

O Relatório de Agencias do Império de 1885 informa Santa Fé (estação) em MG, embora a coluna DCA esteja em branco. Na falta de melhor informação, vou considerar 1885 como a de transferência de subordinação.

 


SAPUCAIA


Estação de Sapucaia em 1922 (site estacoesferroviarias.com.br)

Após Chiador, a linha ferroviária cruzou o Paraíba já que a margem direita apresentava topografia mais favorável. Como vimos anteriormente ao descrever a Estrada da Estrella, Sapucaia foi uma das rotas comerciais antigas que ligava Magé a Minas Gerais.

No início do século XIX, por volta de 1808, colonos suíços, que desciam de Nova Friburgo à busca de melhores terras, estabeleceram-se na região. Em 1835 foi contratada uma estrada ligando Magé a Sapucaia, local onde estava sendo construída uma ponte sobre o rio Paraíba, a primeira ligação rodoviária da região [3A].

DCA: Para se ter idéia do impacto, o local recebeu um posto fiscal e uma agencia postal em 21 de agosto de 1846. Note que a nota dos Correios publicada abaixo não é explícita quanto ao nome, dizendo “ter sido criada no local “Ponte de Sapucaia”. Mas todas as menções à agencia a grafam Sapucaia.

A região prosperou com a chegada de mais colonos atraídos pelo cultivo de café, sendo o Arraial de Santo Antônio do Sapucaia nomeado em 1856.

DIE: A inauguração da estação de Sapucaia em 20.08.1871 pela EFDPII incentivou sua elevação a Freguesia em 16 de setembro desse ano e sua elevação à Vila de Sapucaia em 7 de dezembro de 1874 com territórios desmembrados de Magé e Paraíba do Sul. Elevada à cidade em 27 de dezembro de 1889.

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Uma segunda estação em território fluminense seria criada mais tarde alguns quilometros antes na linha. Nomeada Anta, foi inaugurada em 02.12.1875 e tambem teve agencia postal criada no mesmo ano.

Vale dizer que o Porto de Anta sobre o rio Paraíba era também antigo, tanto que em 1837 já se relatava na imprensa que o Registro de Anta não havia ainda sido instalado por não ter ainda lá chegado a estrada de Magé. Penso que esse registro tenha sido remanejado com a decisão de construir a ponte em Sapucaia.

Sapucaia, agencia de divisa?

Vale ressaltar que Sapucaia e Anta teoricamente não fazem parte do grupo de agencias de divisa descritas nesta página, embora elas sem dúvida complementem a análise histórica da região. No entanto, é fato pouco conhecido que ambas foram subordinadas à DR-JFA de Minas Gerais nos anos 1940 e 1950. Portanto, também agências de divisa que tratarei em outro capítulo.

 


OURO FINO (renomeada Benjamin Constant em 1891)


Ruínas da fachada da estação revela seu estilo. 

A linha volta a cruzar o Paraíba e prosseguir pela margem esquerda em território mineiro. A próxima estação é Ouro Fino.

A estação “Ouro Fino” não consta dos trabalhos de Koester nem de Paula Sobrinho, acredito que por confusão com agencias homônimas, em detalhes na nota [4].

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Estação de Ouro Fino – Data de Inauguração da Estação (DIE) 06.08.1871 (*)

Estação renomeada Benjamin Constant em 13.02.1891 (**)

(*) A data é do site estacoesferroviarias.com.br de Ralph Giesbrecht.

(**) A data é de nota no Jornal do Commercio.

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Data de Criação da Agência na estação (DCA) 18.04.1872 (RJ)

A única menção sobre agencia que encontrei está no Diario do RJ em 18.04.1872 com uma nota do Ministério da Agricultura nomeando agentes em diversas estações da EFDPII, inclusive Chiador e Ouro Fino. E a agencia postal? Sucede que poucas semanas depois, nesse mesmo ano, encontrei outra nota (imagem) informando que o administrador da estação de Chiador era também agente do correio, o que nos permite supor que esse poderia ser também o caso de Ouro Fino fazendo a nomeação coincidir com a criação da agencia. De fato, penso também haver compatibilidade com a DIE.

Outro caso de agencia de divisa, pois o GP de 1880 registra Ouro Fino no Rio de Janeiro.

Data de Transferência da agencia para MG – 24.08.1892

Sem mencionar o nome anterior de Ouro Fino, Paula Sobrinho traz o verbete Benjamin Constant informando DCA de 24.08.1892. Sabemos que a estação foi renomeada Benjamin Constant em 13 de fevereiro de 1891 e assim seria razoável supor que a agencia acompanharia o novo nome no ano seguinte. Paula Sobrinho reconhece a data como DCA, o que nos sugere que o novo nome foi registrado pelos Correios na DR-MG.

 


CONCEIÇÃO (renomeada Simplicio em 1913)


Não encontrei imagens da estação original, somente a da estação de Simplicio no site estacoesferroviarias.com.br de autoria de Latuff em 2007. Foi posteriormente reformada.

Estação de Conceição – Data de Inauguração da Estação (DIE) 02.08.1871 (*)

Renomeada Simplicio em 1913

(*) A data é do site estacoesferroviarias.com.br de Ralph Giesbrecht.

 

Data de Criação da Agência na estação (DCA) 01.09.1871 (RJ)

A DCA de Conceição é um achado. Foi a única que encontrei na imprensa, como se vê na nota datada de 1º de setembro de 1871. Trata-se de um comunicado da DGC assinado pela 3ª Secção do Correio Central do RJ (Jornal da Tarde, RJ)

Data de Transferência da agencia para MG – 15.07.1881

Paula Sobrinho cita Conceição no verbete Simplicio (E) onde registra DCA de 15 de julho de 1881, data que adotei como a de transferência de subordinação para DR-RJ.

R. Koester no verbete Conceição (MG) traz essa mesma data sem no entanto mencionar a criação anterior de uma agencia no RJ.

 


PORTO VELHO DO CUNHA e ALÉM PARAÍBA


Chegamos aqui à estação terminal do Ramal de Porto Novo, a mais importante da linha. Acredito que  uma introdução histórica ajudará a compreensão dos locais mais importantes desse trecho final da divisa com Minas no rio Paraíba.

Figura 1. Anotações do autor sobre mapa de 1953 

No mapa de 1953, assinalei as posições do Porto Novo do Cunha e Além Paraíba (ambas no municipio homônimo em MG) além de Porto Velho do Cunha (no município do Carmo, RJ). Escolhi esse mapa por apresentar o traçado das antigas ferrovias e pela clareza do desenho.

Na introdução ao Ramal de Porto Novo, quando apresentei as principais rotas comerciais pré-ferroviarias, Porto Novo e Porto Velho do Cunha eram citados como pontos de travessia do rio no trecho em pauta. Vou apresenta-los na sequência.

***

Porto (Velho) do Cunha: em 1784 o governador mineiro Luiz da Cunha Menezes decidiu construir um porto no rio Paraíba com o objetivo de concentrar o trânsito comercial entre as provincias e instalar um Registro que permitisse a fiscalização e taxação do trânsito de ouro. O local recebeu o nome de Porto do Cunha em sua homenagem.

Porto Novo do Cunha: com o tempo, as rotas comerciais se deslocaram alguns quilômetros a montante para um ponto de travessia junto ao povoado de Além Paraíba. Com o progresso, o local passaria a ser conhecido por Porto Novo do Cunha, recebendo uma nova agencia postal criada em 1858 com subordinação ao Rio de Janeiro, segundo o Boletim de Agencias do Imperio de 1885.

O antigo local passou a ser conhecido por Porto Velho do Cunha e, desde 1890, é sede de distrito do município do Carmo (RJ). É ponto turístico famoso pela pesca, como se vê na curiosa imagem do site da Prefeitura.

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Além Paraíba é a povoação mais antiga da região ribeirinha. São José d’Além Parahyba teve sua origem em 1818 com a construção de uma capela pelo padre Miguel Antonio de Paiva em torno da qual surgiu a povoação.

Por possuir melhor acesso ao interior de Minas, o local passou a ser rota comercial entre as províncias recebendo um porto que, por volta de 1830, passou a ser conhecido por Porto Novo do Cunha. O povoado seria elevado em 1832 a sede de distrito, subordinado a Leopoldina.

A agencia postal “São José d’Além Paraíba” é de 05.02.1864 (Nova Monteiro) o que é confirmado pela nota publicada no Correio Mercantil em edição do dia 8.

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Como veremos em detalhe no próximo bloco, a ferrovia D.Pedro II inauguraria em 1871 a estação terminal do Ramal do Porto Novo da EFDP II e, poucos anos depois, a Estrada de Ferro Leopoldina prolongaria essa linha inaugurando uma segunda estação no centro da povoação.

 


PORTO NOVO DO CUNHA


Porto Novo da Cunha já era sede de Registro desde os anos 1830 e teve agencia postal criada em 11 de julho de 1851 (DCA) como nos informa Nova Monteiro. Uma nota de setembro publicada no Correio Mercantil do RJ reza que a agencia, criada na Provincia do Rio de Janeiro, começaria a funcionar em 10 de outubro de 1851.

É curioso que essa agencia, embora em território de MG, tenha sido criada com subordinação ao Rio e em data anterior à agencia do vizinho povoado de Alem Paraíba que é de 1864, conforme dito anteriormente. Mais curiosa ainda é a nota publicada no Boletim de Expediente do Governo em 11 de fevereiro de 1862 (imagem), onde o missivista reclama que “a agencia Porto Novo do Cunha está a mais de uma légua” do porto, ou do “local de passagem”. A resposta do “Administrador do Correio da Corte” não conhecemos, mas dois anos depois a agencia no povoado foi de fato criada.

Disso tudo, fico com a informação que a agencia criada anteriormente ficava distante do povoado, “a mais de uma légua” ou seja, uns 10 km. De fato, a distância das tabelas ferroviárias entre as estações é de 13km, que também pode ser avaliada pelo mapa atual da Fig.2.

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Duas décadas mais tarde, chega a ferrovia D. Pedro II e inaugura sua estação local “Porto Novo” em 6 de agosto de 1871 (Fig.1) também antes do povoado (Fig.2)

Figura 1: A estação terminal é, naturalmente, a mais imponente da linha e se encontra relativamente bem preservada, como se vê abaixo.

 

Na Figura 2, o Wikimapia atual mostra em detalhe a sede do município de Alem Paraiba, com anotações de posição das antigas estações de Porto Novo (da EFCB) e Alem Paraiba (da EF Leopoldina), e também, por curiosidade, a agencia atual AC Além Paraíba.

 

Estação de Porto Novo – Data de Inauguração da Estação (DIE) 06.08.1871

É a data mais bem documentada da linha, por anúncio da EFDP II (Diario do RJ, edição de 03.08) informando a abertura das estações Conceição e Porto Novo em 6/8.

 

Data de Criação da Agência “na estação” (DCA) 1871 – RJ

O “Relatório de Agencias do Imperio” de 1885 traz o verbete Porto Novo do Cunha (estação) com DCA 1871. De fato, essa foi a única fonte que encontrei com a data de 1871 presumivelmente correta, pois agencias postais costumavam ser criadas logo após a inauguração da estação. Neste caso particular, penso que a agencia anterior de 1851 tenha sido realocada na estação. No GP de 1880 há somente menção a uma agencia e localizada no RJ.

No GP de 1880 há verbetes Estação do Porto Novo do Cunha (RJ) e localidades Porto Velho do Cunha (RJ) e São Jose d’Além Parahyba Minas).

Vale dizer que em 1870, época da instalação da ferrovia, o governo fluminense mandou construir “uma ponte de ferro” em frente à estação para facilitar o trânsito de mercadorias fluminenses. Pareceu-me uma disputa com Minas a construção de uma alternativa ao porto de Além Paraíba [5].

Data de Transferência da agencia para MG – 11.07.1885

Essa agência ferroviaria é portanto um caso típico de “agencia de divisa”, tema desta página.

Paula Sobrinho registra DCA de 11.07.1885 no seu verbete Porto Novo do Cunha na EF Leopoldina. Com reservas, e na falta de outra informação, adotei essa data como a de transferência da agencia para MG.

 


Notas e Informações

[1] Quanto às fontes. Consultei documentos postais como os Guias Postais (GP) os Relatórios dos Correios (RC) e Boletins Postais (BP), estes somente na república. Também pesquisei a imprensa na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Guias e sites ferroviários, como estacoesferroviarias.com.br editado por Ralph Giesbrecht (RG). Publicações de colegas filatelistas que se debruçaram sobre o tema de agencias postais, especialmente Nova Monteiro (NM), R. Koester (RK), seu sucessor Fabio Monteiro (FM) e José Francisco de Paula Sobrinho (PS), este especializado em MG. Apesar do esforço, a documentação é frequentemente confusa e as conclusões ficam sujeitas a controvérsias.

[2] Matéria sobre a viagem do imperador a Juiz de Fora e a Chiador publicada no Diario do RJ em 30 de junho de 1869,  imagem a seguir

[3] Chiador: Segue fac-simile do trabalho de R. Koester

R.K. também registra – com surpresa – o fato de que essa agencia tenha estado subordinada à DR-RJ, embora tenha se equivocado no período em que isso aconteceu (de fato esteve de 1869 a 1909). Mas é um testemunho das “agencias de divisa”.

[3A] Ponte de Sapucaia. Documentos publicados no Correio Official (1941 e 1942)

[4] Estação de Ouro Fino (renomeada Benjamin Constant em 1891)

Eu registrei acima que a estação (e o local) não constam dos trabalhos de R. Koester e de Paula Sobrinho.

R.K. tem dois verbetes com esse nome, sendo o primeiro uma estação no sudoeste de MG próxima à divisa com S. Paulo. No segundo, RK se equivoca ao confundir as estações e atribuir a esta os dados da homônima estação da EF Carangola em Natividade.

P.S. descreve em dois verbetes “Ouro Fino” – uma estação e local no sudoeste do estado, na divisa com S. Paulo. Mas no verbete Benjamin Constant ele aponta a DIE correta de Ouro Fino sem, no entanto, mencionar esse fato. Mas registra a DCA em 24.08.1892 que foi a que adotei para a transferência para MG.

A ferrovia ligando Campos a São Fidélis contratada pelo governo em 1876 por uma por um grupo de empresários. As obras andaram devagar Por outro lado, a E. F. Santo Antonio de Pádua, com uma concessão de 1879, havia estabelecido uma linha unindo Lucca (São Fidélis) a Miracema, aberta em 1880, de São Fidelis até Santo Antonio de Pádua, e em 1883, desta cidade até Miracema. Em 1884 a EF SAP foi vendida à E.F. Macaé e Campos. Em 1891, quando Miracema se ligou a Campos pela junção das duas ferrovias, ambas já pertenciam à Leopoldina.

[5] As informações sobre a ponte sobre o Paraiba foram extraídas de um processo de reclamação do governo fluminense no Congresso em 1875 sobre a tentativa de taxação de produtos fluminenses pela tal ponte que, dizem eles, “foi por nós construída”. A íntegra da transcrição está na edição de 27 de agosto de 1875 do Diario do Rio de Janeiro.

[6] Sobre os mais importantes pontos de comércio, uma boa fonte é o mineiro “Mappa de Importação e Exportação” publicado na imprensa. Em 1819 ele registrava o movimento entre as províncias nos Registros mais importantes. Na edição de 1819, listava-se na região os de Porto do Cunha e o de Barra do Pomba (no rio homônimo, afluente do Paraiba, que centralizava o tráfego com destino a Campos). Já em 1838, estão listados lado a lado os Registros de Porto Velho do Cunha e o de Porto Novo do Cunha.

FIM DO CAPÍTULO I

Por Paulo Novaes (outubro de 2024)

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