Praça Maua

Mapa do Centro Para Site - JPEG

Quadro de agencias

 

 


MRJ 218 – Estação Postal Prainha (1868-1870)


UM POUCO DE HISTÓRIA

Prainha, mapa A. Merian de 1902 (detalhe)

O logradouro conhecido como Prainha remonta ao período colonial como parte da linha costeira onde existiam pequenos trapiches construídos por particulares.  Pelo menos desde 1840 era denominado Largo da Prainha.

Mapa McKinney-Leeder de 1858, detalhe (BN digital)

No local, entre os armazéns alternavam-se belas casas, entre as quais a do coronel Felipe Neri de Carvalho, considerada uma das mais belas da cidade na época. Posteriormente nesse endereço funcionou entre 1849 e 1867 a Escola Naval e depois até os anos 1910 o Lyceu Litterario Portuguez. Nesse terreno seria erguido em 1929 o primeiro arranha-céu da cidade, o Edificio A Noite. [1]

Algumas ruas do bairro da Saúde conduziam ao largo. Na edição de 27 de junho de 1855 o Diario do Rio de Janeiro transcreve a sessão da Camara Municipal do dia 7 de março, da qual seleciono o seguinte trecho: Approvando as alterações propostas pela Illmª Câmara para que a rua que começa no Largo da Prainha e vai terminar na rua da Imperatriz, que hoje se conhece por dois nomes da Prainha e do Aljube, se denomine d’ora em diante rua da Prainha em toda sua extensão.” Ela pode ser vista ao centro, no mapa.

Em 2 de novembro de 1871 o largo foi renomeado Praça Vinte e Oito de Setembro, em homenagem a Lei do Ventre Livre promulgada nessa data [2]. Aparentemente a mudança não “pegou” sendo raros os registros com esse nome.

A nova praça Mauá foi inaugurada em 1910 nesse local, no bojo das obras de remodelação do centro e da construção da Avenida Rio Branco, como uma homenagem ao Barão de Mauá, recebendo um monumento com sua estátua de autoria do escultor Rodolfo Bernadelli [3]. Ela continua lá, mesmo após as reformas olímpicas de 2015.

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A E.F. MAUÁ

O empreendedor Irineu Evangelista de Sousa, Barão de Mauá, havia fundado em 1845 a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petropolis que previa linhas de barco a vapor, trem e carruagem para completar o percurso entre o Largo da Prainha e a cidade imperial. Na Prainha, do Trapiche Mauá [4] partiam e chegavam as barcas que a ligavam ao Porto de Guia de Pacobaíba, estação inicial da EF inaugurada em 1854 que posteriormente seria renomeada porto Mauá [5].

 

A foto é da época do mapa, de autoria de Augusto Malta e datada de 1906 e já mostra um grande edifício.

A ferrovia parou em Raiz da Serra sem recursos para construir o trecho da serra. Em 1879 novos sócios constituíram a EF Grão Pará que chegou a Petrópolis em 1883. Finalmente, com a construção da EF do Norte e já sob gestão da EF Leopoldina foram entroncadas em 1888 as duas linhas permitindo a ligação ferroviária completa entre a Corte e a cidade imperial [6].

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A ESTAÇÃO POSTAL

Estação ou Estação Telegráfica eram os termos usados pelos Telégrafos para designar suas “agencias”.  Por sua vez o termo estação postal era na época utilizado genericamente como referência a um local de postagem, trânsito ou destino do objeto postal, como se vê na nota abaixo publicada na imprensa anunciando o trâmite da correspondência registrada. Não se trata pois de sinônimo de agencia postal, estas com características próprias. Não tenho conhecimento de nenhuma outra “estação” como agencia postal no estado do Rio de Janeiro. Na verdade, só encontrei alguns exemplos em Portugal e suas colônias.

Nota da DGC no Diario do RJ, ed. de 27.02.1867

O que se nota é que o termo era utilizado raramente, mesmo na imprensa. Não consta em nenhum documento oficial como por exemplo o Guia Postal de 1880 que registra somente uma agencia no Pará. Também não encontrei referências ao termo estação no detalhado decreto de 1865.

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AS AGÊNCIAS POSTAIS

Nessa época, as agencias eram raras no município;  somente nos anos 1860 apareceram as primeiras agencias postais [7], todas devidamente registradas em documentos oficiais. Assim foram criadas agencias nas estações da EFDP2º (Cascadura em 1862), nos “pontos” de subúrbio (Ilha em 1866) e da zona rural (Matto Alto e Sepetibinha em Guaratiba em 1867).

Mas na zona urbana propriamente dita as agencias só foram criadas entre 1868 e 1871, no bojo do decreto de 1865, constituindo uma rede de 25 agencias “de letras de A a Z”, a primeira das quais a do Catete em 1868. Nessa relação não está a “Estação Postal Prainha” embora nela conste a agencia urbana  “O” (Santo Cristo) na Gamboa (1869) sua vizinha na zona portuária [6].

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CONCLUSÕES

Tudo nos leva a crer que a tal “Estação Postal” esteve em operação nas dependências do Trapiche Mauá. Como não há registros oficiais dos Correios, acabamos por saber da sua existência somente pelos envelopes com essa marca que apresentarei em seguida. Trata-se de uma notável exceção que, na minha opinião, só se justificou por uma especial deferência ao Barão e ao grande movimento de passageiros da linha Mauá pelo Largo da Prainha. Nota-se que teve vida curta – que decidi por fixar entre 1868 e 1870.

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Notas e informações
[1] Brasil Gerson História das ruas do Rio (2013)
[2] Edição do Diario do RJ de 8 de novembro de 1871, transcrevendo sessão da Camara Municipal de 7.11 na qual é citada a portaria do Ministério do Imperio de 2.11 aprovando a referida denominação.
[3] Texto baseado na Wikipedia, verbete Praça Mauá
[4] O Almanak Laemmert de 1892 ainda menciona o Trapiche Mauá e curiosamente como endereço o nº1 do antigo Largo da Prainha. Diz também ser propriedade da Companhia União de Trapiches que, por sua vez, era controlada pela Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil, a mesma que construiu a EF Melhoramentos.
[5] Texto baseado no site Jornal Reliquia.
[6] Site agenciaspostais.com.br (o trapiche foi demolido em 1932)

[7] Há duas exceções, as agencias de Paquetá (1841) e Santa Cruz (1842). Ambas situadas nos limites leste e oeste do município [6].
[8] Anais da Biblioteca Nacional do RJ – 1986.

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OS OBJETOS POSTAIS

São raras as peças dessa estranha “estação” e por isso selecionei algumas peças do acervo dos colegas que me ajudaram a delinear sua história.

Começo por R. Koester, que traz em seu estudo de carimbologia o verbete PRAINHA cujo aposto (Estação Postal) nos indica a peculiaridade da agencia.  Traz dois carimbos, sendo o primeiro o mais conhecido oval sobre emissão de 1866 cuja imagem apresento a seguir.  Infelizmente a qualidade da imagem e o tamanho da peça não acrescentam muito ao estudo.

O segundo é datado de 1899 mas sobre o qual tenho dúvidas, pois se trata de um carimbo regular com datador que foi certamente aplicado por agencia postal que não me parece ser a nossa Prainha (essa imagem está também disponível no trabalho do RK).

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Everaldo Santos (ES) em seu volume “Rio de Janeiro e Espirito Santo” infelizmente se equivoca ao confundir a “Prainha” com a “Praia Pequena”, esta última em Benfica e com DCA em 2 de agosto de 1869 como ele registra. Aliás, mais um argumento em desfavor à Prainha, uma vez que Praia Pequena, ao contrário daquela, fez também parte do conjunto das 25 agencias urbanas de letra como Agencia Urbana “P”.

Fac-simile do livro de Everaldo Santos

E.S. apresenta uma peça S.P. (Serviço Publico) sem selo nem data. A única pista é o destinatário: “dr. Eduardo Bonjean, cheffe do 2º distrito de obras publicas da Provincia”.  Sobre esse cidadão, sabemos pela imprensa que estudou engenharia em Paris e que, recém-chegado, oferecia seus serviços em escritório no Rio em setembro de 1868. Mais tarde, em junho de 1872, nota informa que concorria ao cargo de chefe de linha na divisão do tráfego da EFDP2º.

Nos Anais da Biblioteca Nacional [8] consta o documento “Mappa demonstrativo das Obras que forão orçadas e excecutadas durante o anno de 1869 (…) que foram remetidos a Directoria das Obras Publicas.Datado em 31 de março de 1870, está assinado por E. dos G. Bonjean, engenheiro-chefe do Segundo Distrito de Obras Publicas da Provincia do Rio de Janeiro. Temos assim a indicação que Bonjean provavelmente recebeu a carta entre 1869 e 1870 enquanto ocupava aquele cargo.

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Klerman Lopes me apresentou recentemente uma peça do seu acervo. Ela traz internamente uma observação do destinatário resumindo o teor da carta. Lá estão sua origem, Raiz da Serra, e a data 21 de janeiro de 1868. Isso levanta uma questão, pois a agencia dessa localidade só seria criada mais de um ano depois, em 7 de junho de 1869.

Raiz da Serra era na época o ponto final da EF Mauá, estação criada em 1856. Suponho que existisse um sistema de postar a carta, provavelmente uma caixa postal (como indicam as marcas “CAIXA” no envelope), que posteriormente era recebida em trânsito na Prainha onde se aplicaria o carimbo. Lembro que na vizinha Fabrica de Pólvora já existia uma agencia desde ca.1863 e que provavelmente tenha sido transferida em 1869 para Raiz da Serra, data confirmada oficialmente.

O selo (emissão de 1866) e o destinatário da carta – Costa Madeira & Cia. são compatíveis com a data apontada na carta (essa firma foi criada em 11 de maio de 1867, data de sua constituição que consta em nota na Gazeta Mercantil na hemeroteca da BN – Imagem abaixo).

 

Nota do Corrreio Mercantil, ed. 11.05.1867

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Uma imagem de carta do acervo Jacques Benchimol me foi gentilmente cedida pelo colega e apresenta grande semelhança com a anterior, com os mesmos personagens. Desta vez, datada de 10 de junho de 1869.

 

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O colega Fuad Ferreira Filho também colaborou enviando a imagem de carta de seu acervo que apresento abaixo, datada 22 de abril de 1868. A carta tem a particularidade de ter sido postada na Prainha com destino ao Registro do Parahybuna (MG). O fato de ter sido postada na Prainha explica-se por ser este o melhor caminho nessa época, uma vez que a EF Mauá integrava o trajeto para MG, a chamada “Variante do Proença” que passava por Petrópolis. A ligação ferroviária com Paraibuna só seria completada com a EFDP2º chegando em 1874.

 

Todas essas imagens me basearam para propor 1868 a 1870 como a época de funcionamento.


O PORTO MARAVILHA

Praça Mauá, VLT e Museu do Amanhã (foto de Mario Roberto Durán Ortiz – Wikipedia

O projeto Porto Maravilha da Prefeitura, parte das obras de preparação para as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, trouxe profundas intervenções na região do porto e do centro da cidade; na Praça Mauá, no antigo pier foi inaugurado o “Museu da Amanhã”, obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava.

 


MRJ 219 – AC Praça Mauá (1936-2015)


No início do século XX, o Rio de Janeiro assumiu, definitivamente, a condição de “grande capital europeia”. A vida cultural e artística era intensa. Era o tempo das conferências, da consolidação da imprensa e do surgimento do automóvel. Todos queriam viver a época dourada da cidade.

O ano de 1903 foi decisivo. Indicado prefeito no fim do ano anterior, Pereira Passos era um autêntico representante dos novos tempos: membro ativo do Clube de Engenharia, estudou na França e acompanhou as reformas do barão de Haussmann. Para que o projeto de modernização se concretizasse, o presidente Rodrigues Alves concedeu amplos poderes ao prefeito (…)

Nesse contexto de modernização se encaixa a abertura da avenida Central, hoje Av. Rio Branco. As obras iniciaram-se em março de 1904 com a demolição de 641 casas, desalojando quase 3.900 pessoas. Após seis meses de trabalho estava aberta de ponta a ponta. A Praça Mauá foi remodelada devido à necessidade de um novo cais para receber embarcações em virtude do crescimento das atividades comerciais na cidade no início do século XX. A praça foi inaugurada em 1910, após seis anos de obras, substituindo o antigo Largo da Prainha.

Como se vê nas imagens, possuo um carimbo de abril de 1933 e até carta de 1934. Mas, oficialmente, da agencia só tenho notícia na listagem do Relatório Postal de 1936. Não encontrei a data de criação em nenhuma outra fonte, o que me pareceu estranho dada a importância da agencia situada no inicio da av. Rio Branco, próxima à praça.

Carimbos mecânicos – franquias

Carimbologia: pode-se estranhar o envelope que abre essa página. Ele possui dois carimbos. Um franqueador tipo 4 com legenda “Rio de Janeiro” e um circular sobre ele da agencia Praça Mauá. Quando pesquisei o assunto concluí que, nesse casos, uma máquina franqueadora “genérica” da Central foi instalada na sede da Bayer, à rua Dom Gerardo, bem próxima à agencia. Posteriormente, a correspondência era encaminhada à agencia vizinha para ser carimbada, o que lhe conferia prova de origem, e posteriormente enviada à central. É portanto como se fosse um posto de serviço remoto dessa agência. Clique para ver estudo a respeito no menu Carimbologia.

Carimbos de serviço


 

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