Sobre a Agencia Central da EF D. Pedro 2º

 

PARTE 1 – Um pouco de história

Entre 1860-61 seria praticamente extinto o correio urbano organizado na forma prevista no decreto de 1844. Algumas caixas urbanas continuaram a existir sem, contudo, uma estrutura logística consistente. Mostro abaixo duas notas na imprensa que ainda se referem em 1866 à caixa da estação do Campo de Sant’Anna ou Campo da Aclamação [4]  (Diario do RJ, Hemeroteca da BN)

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A rede de agencias urbanas “de letras”

No entanto, o Decreto de 1865 já indicava um renovado interesse no serviço de Correio Urbano em seu Artigo 21, que resultou em uma nota do DGC em 31.03.1868 já nos informava da criação de duas agencias urbanas (imagem ao lado).

Apesar de o final da nota registrar que “brevemente serão criadas agencias em S. Clemente, Largos da Lapa e do Bispo”, nota-se que o projeto ainda não estava totalmente definido.

Sabemos disso porque somente a partir do comunicado de 28 de julho de 1869, quase um ano depois, é que a relação das 11 agencias implantadas até a data aparecem elencadas com letras de “A” a “K” que seria a marca dessa rede. No total, 25 agencias seriam implantadas até 1877, com letras de A a Z (com exceção do “W”).

A agencia Estação Central da estrada de ferro de D. Pedro 2º é criada com esse nome sob a letra “N”  em 4 de setembro de 1869, como se vê na nota da DGC publicada dia 5 no Diario do RJ.

O fim da rede de agencias urbanas do império

Tudo indica que a rede de agencias urbanas foi desmontada por volta de 1880. Um anúncio publicado na Gazeta de Noticias em 10 de junho de 1880 assinado pelo Correio Central informa que “além das 25 caixas existentes nas agencias do correio urbano, colocaram-se mais 24 caixas (…) para recepção de cartas”. Será a última vez que se mencionará as tais agencias em notas da DGC. Como se verá no Almanaque Laemmert, no ano seguinte já seriam 70 caixas.

O Almanaque Laemmert publicava anualmente a lista das 25 agencias urbanas, como se vê na imagem abaixo, extrato da página 389 da edição para 1880.

(nas páginas seguintes do AL, segue a lista das 25 agencias até a letra Z)

No entanto, a partir da edição para 1881 a lista não é mais publicada e em seu lugar encontra-se a relação das “agencias e casas na cidade e subúrbios onde se vendem sellos, etc.” como se vê na iamgem.

(segue uma relação de aproximadamente 70 endereços)

É fato que não há um comunicado oficial (como também no encerramento das sucursais, por exemplo). Mas são fortes as evidências do fim da rede por volta de 1881. Com a república, a rede seria reativada em 1890 e mantendo as “letras”. Ver MRJ 162 mais abaixo.

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Fontes de referência

A data de criação da agencia em 4 de setembro de 1869 publicada na imprensa, que me parecia um dado oficial e definitivo, acabou por revelar uma controvérsia quando a comparei com outras fontes. São elas:

  • R. Koester começa por apresentar diversos carimbos da estação, que reproduzirei mais à frente nas imagens. Em seguida cita uma nota do Laemmert de 1869 (que se refere a 1868) que fala de “caixa postal na estação do Campo da Acclamação”. Trata-se  de uma informação anterior à criação da agencia. Por último cita o GP de 1880, já bem posterior. Mas, mesmo assim, acaba por não mencionar a DCA. Aparentemente, RK não teve acesso à lista das 25 agencias urbanas – até porque procurei por outras da mesma lista em seu trabalho sem sucesso.
  • Nova Monteiro em seu trabalho “Administrações e Agencias Postais do Brasil Império” lista uma agencia Campo da Aclamação, criada em 3.08.1869 (imagem).

Não sei qual foi sua fonte, mas me parece estranho uma agencia ter sido criada um mês antes da oficialmente reconhecida em comunicado oficial no mesmo local. Acredito que NM também não acesso à lista das 25 agencias urbanas.

  • A tabela Agencias do Correio do Imperio aprovada pelo Ministério da Agricultura e publicada em 1885, que é bastante detalhada, traz o verbete “E. de F. Pedro II (Estação Central) de 2a. classe”, mas a coluna “Data da creação” está inexplicavelmente em branco (uma das poucas nesse trabalho).

 


Parte 2 – As agencias


Aqui reproduzi as agencias que operaram ainda no século XIX ou seja as quatro primeiras. Mas logo em seguida a estação foi renomeada Dom Pedro em homenagem ao centenário do imperador. A matéria completa está no menu “Estação Central”.

MRJ 161 agencia urbana “N” (1869-1881)

Os primeiros exemplares trazem a letra N, referencia da agencia. A imagem é reprodução do carimbo sobre emissão de 1866 (como também indica o P.A.)

O segundo exemplar está apresentado no trabalho de carimbologia de R.K. Trata-se de um carimbo oval, também sobre emissão 1866. O colega Fuad me enviou imagem também sobre a mesma emissão. Pelo menos agora o carimbo deixa mais claro o local de postagem.

Também apontado por R.K. está o carimbo retangular apresentado a seguir. Tenho imagens sobre emissões de 1876, 1877 e 1881. Este último é o mais recente conhecido dessa agência, já que, como disse no histórico, a rede de agencias de letras foi desativada por volta dessa data.

 


MRJ 161A – Agencia Estação Central (1881-1889)


O Guia Postal de 1880 a registra como “Estação Central da E.F.P. II – Côrte”. É uma nova fase da agencia, que mantém o nome, mas utiliza carimbos regulares, ou seja, circulares e datadores. RK o reproduz com data de 1885. Não conheço outra imagem, portanto reproduzi as legendas conforme o texto do colega.

Tenho exemplares do tipo seguinte, legenda E. CENTRAL sobre emissão de 1885 (cifra branca) nos anos de 1886 e 1887.

Aqui, a legenda superior é EST. CENTRAL e a inferior tem a mesma grafia da anterior, mas com layout diferente, entre florões e abreviando P. II. Os dois exemplares estão respectivamente sobre o cifra preta emissão de 1888 e o inteiro emissão de 1889. Este será o último carimbo do império dessa agencia.


MRJ 162 – Agencia Urbana “I” (1889-1895)


História 

No alvorecer da República é implantada uma rede de 12 agências auxiliares com o objetivo de descentralizar algumas atribuições do Correio Central (da então DR-DF).

Já em 30 de dezembro de 1889 o Aviso nº 17 do Ministério da Agricultura – a quem então se subordinava a Diretoria Geral dos Correios – registrava o conceito de agências urbanas que seria regulamentada pela Portaria de 28 de janeiro de 1890 da Diretoria Geral dos Correios. Essa Portaria criava (inicialmente) oito agências urbanas identificadas pelas letras de “A” a “H”. Detalhes e fontes no menu  “Sucursais do Distrito Federal”

A agencia

A Estação Central recebeu a agencia com a letra seguinte, “I” – que estimo tenha sido criada por volta de fevereiro 1890, já que em 31 de março o BP já nos informa a criação das agencias J e K. Uma segunda hipótese é que a agencia tenha acompanhado a ferrovia, que havia sido renomeada E.F. Central do Brasil pelo aviso 143 de 22 de novembro de 1889 (só uma semana depois da proclamação). Fico com essa ultima por enquanto.

O primeiro carimbo dessa agencia na minha coleção é do livro de R.K. datado de fevereiro de 1890. Seu layout peculiar pode indicar ter sido encomendado às pressas para evitar o uso de carimbos do império. A legenda inferior foi grafada E.F.C. BRAZIL para se diferenciar do E.F.D.P.II. dos derradeiros do império.

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O layout foi alterado logo depois para incluir o “Ag. I do Correio” , mas mantendo a legenda inferior E.F.C.BRAZIL O mais antigo na coleção só aparece em setembro de 1893.

Vale notar que este layout é o único com desenho diferente dentre as 12 agencias de letras da republica. Todos os demais seguem o mesmo padrão com a letra da agencia em ambas as orelhas e a legenda inferior Capital Federal (o exemplo ao lado é da agencia “C” de Botafogo).

Difícil imaginar a razão, a não ser para poder grafar o “Brazil”. De qualquer modo, isso explicaria também a falta de informação oficial sobre a data de criação da agencia.

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Fiquei em dúvida se os dois próximos carimbos continuariam a ser da MRJ 162, mas a manutenção da legenda inferior “EFCB” e a menção “urbana” no segundo me levaram a mantê-los na agencia urbana.

O terceiro por sua vez é muito similar aos da agencia MRJ 163 por ter a legenda inferior alterada para “D.Federal”. Mas suas datas de 1895 a 1897 não seriam compatíveis. Assim mantive o grupo na 162.

Por último, lembro que a data provável da desativação da rede urbana seria entre 1897 e 1898 pela análise do histórico dos carimbos das 12 agencias.

 


MRJ 163 Estação Central (1895 – 1925)


A partir de 1898 a agencia passou definitivamente a usar o nome “ESTAÇÃO CENTRAL (da E.F.C. do B.)”, com a particularidade de grafar “D. FEDERAL” na legenda inferior. Apesar de manterem um layout constante – com o uso do tipo 4 de carimbo – as legendas e diâmetros apresentaram muitas variações.

Notamos também que a agencia se organiza em distribuições e expedições de malas como várias contemporâneas de grande porte.

Tipos “Distribuição” 

Tipo 1 com legenda E. Central da EFC do B  (2A. Distribuição), ano em 4 digitos

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Tipo 1 com legenda E. Central da EFC do B  (3A. Distribuição), ano em 2 e 4 digitos

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Tipo 2 com legenda Est. Central  (2A. e 5A Distribuições), ano em 4 digitos

 

Tipos Expedição

Legenda Est. Central  1A a 3A Distribuições, ano em 4 digitos

Tipos de serviço

Aqui reproduzi as agencias que operaram ainda no século XIX ou seja as quatro primeiras. Mas logo em seguida a estação foi renomeada Dom Pedro em homenagem ao centenário do imperador. A matéria completa está no menu “Estação Central”. assim como as [notas] do texto

 

Paulo Novaes, agosto de 2023

2 pensou em “Sobre a Agencia Central da EF D. Pedro 2º

  1. Olá Paulo, mais uma vez você me surpreende com esse artigo tão detalhado. Mineiramente: demais. Parabéns e obrigado.

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